Rádio Freamunde

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domingo, 15 de agosto de 2010

Todos os dias:


Ia o Director acompanhado umas vezes, outras não, pelo Chefe de Guardas neste caso Subchefe - era raro ter ali um Chefe de Guardas, esses tinham de ser colocados no Continente, não estavam para ter de aturar ilhéus - provar a alimentação que ia ser fornecida nesse dia à população prisional. Não vi em mais nenhum E. P. por onde passei o Director tomar atitudes destas. Todos faziam a prova no seu Gabinete. Para esse efeito vinha o guarda responsável pela cozinha com um recluso da sua confiança trazer a prova. Claro está. Com o que de melhor havia - quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte. Além disso tomava conhecimento como funcionava a cozinha, o estado dos utensílios, a limpeza que ali se praticava e os problemas de certos reclusos que ali trabalhavam.
Foi construída uma carreira de tiro subterrânea que faz a inveja a qualquer força de segurança seja G.N.R. ou P.S.P. Não falando na maioria dos E. Ps. que nestes quando se pratica tiro tem que se esperar que as condições climatéricas o permitam. Quando se dá fogo na posição de deitado, suja-se a farda toda.
Assisti a um torneio denominado por (Futup) futebol ultra periferias, que foi das melhores coisas que vi nos Serviços Prisionais, futebol de salão, ténis de mesa e xadrez. Foram várias instituições convidadas, Policia Judiciária, Guarda-fiscal, Florestal, P.S.P., a equipa de Guardas Prisionais do E. P., a campeã do torneio realizado pelo Sindicato Guardas Prisionais, uma equipa de Guardas das Ilhas Canárias e uma equipa de reclusos. Neste período houve um passeio de barco a vários pontos da ilha onde estava incluída a equipa de reclusos. Houve uma palestra num hotel do Funchal tendo sido moderador sobre desporto José Peseiro, treinador do Nacional da Madeira nessa altura. Este invento causava muito trabalho mas sem trabalho não se consegue nada e causa muita inveja principalmente aos órgãos máximos da Direcção Geral.
Entrega de prémios

Estive a chefiar o E. P. durante algum tempo depois por questão de saúde e algum aborrecimento entre mim e o Director, fui colocado no E. P. R. Funchal, com funções de chefia. Vem isto a propósito como uma declaração de interesses para tudo o que relato, nada tem a ver com bajulação, não preciso, e não sou pessoa que se presta a esse tipo de coisas e não estou a fazer um descargo de consciência, ainda penso durar mais uns anos, tenho de me vingar da aposentação que é o que acontece neste momento.
O E. P. R. Funchal é pequeno como todos os E. Regionais. Neste existe uma torre de vigilância o que dá uma certa segurança ao E. P. Por dia faziam ali serviço cinco guardas e um graduado de serviço. A cadeia tinha sessenta reclusos, distribuídos por camaratas, entre eles, um ex-guarda prisional que dava que fazer por dez. Estava alocado num sector à parte. Comia as refeições na cela, tinha recreio num pequeno recreio à parte, assim como as visitas. Aos sábados e domingos a esposa ia-o visitar e levava-lhe um saco com vários haveres. O saco era sujeito a uma revista só entrava o que estava autorizado e constava da N.E.P., o restante era entregue à família no fim da visita. Aconteceu que uma vez a guarda feminina disse-lhe que tinham ficado retidos alguns artigos para a esposa no fim da visita levantar. Fez uma discussão. Tive de o chamar à razão. Disse-lhe se não se calasse terminava-lhe a visita. Não sirvas a quem serviu e não peças a quem pediu. Queria ser diferente dos outros reclusos mas para mim a partir de ser condenado era um recluso como outro qualquer. Estas situações acontecem e alguns guardas cedem a vários tipos de pedidos deles estragando por vezes a sua situação profissional. Ali estiveram presos algumas individualidades, P.S.P, Guardas Prisionais e Presidentes de Câmaras, mas para mim eram todos iguais, ou seja, ajudava mais os mais desfavorecidos.
 Havia uma brigada de reclusos que trabalhavam para a Câmara Municipal do Funchal. Todos os dias uma viatura da Câmara os vinha buscar e trazer eram acompanhados por um guarda para os custodiar. O restante serviço era dividido entre faxina do Refeitório, Portaria, Limpeza de Corredores e Recreio. A parte do tempo era passada no recreio a divertirem-se. Não havia grandes problemas a não ser uma pequena zanga entre eles o que era logo sanada.
Continua

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