Ia o Director acompanhado umas vezes, outras não, pelo Chefe de Guardas
neste caso Subchefe - era raro ter ali um Chefe de Guardas, esses tinham de ser
colocados no Continente, não estavam para ter de aturar ilhéus - provar a
alimentação que ia ser fornecida nesse dia à população prisional. Não vi em
mais nenhum E. P. por onde passei o Director tomar atitudes destas. Todos
faziam a prova no seu Gabinete. Para esse efeito vinha o guarda responsável
pela cozinha com um recluso da sua confiança trazer a prova. Claro está. Com o
que de melhor havia - quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é
burro ou não tem arte. Além disso tomava conhecimento como funcionava a cozinha,
o estado dos utensílios, a limpeza que ali se praticava e os problemas de
certos reclusos que ali trabalhavam.
Foi construída uma carreira de tiro subterrânea que faz a inveja a
qualquer força de segurança seja G.N.R. ou P.S.P. Não falando na maioria dos E.
Ps. que nestes quando se pratica tiro tem que se esperar que as condições
climatéricas o permitam. Quando se dá fogo na posição de deitado, suja-se a
farda toda.
Assisti a um torneio denominado por (Futup) futebol ultra periferias,
que foi das melhores coisas que vi nos Serviços Prisionais, futebol de salão,
ténis de mesa e xadrez. Foram várias instituições convidadas, Policia
Judiciária, Guarda-fiscal, Florestal, P.S.P., a equipa de Guardas Prisionais do
E. P., a campeã do torneio realizado pelo Sindicato Guardas Prisionais, uma
equipa de Guardas das Ilhas Canárias e uma equipa de reclusos. Neste período
houve um passeio de barco a vários pontos da ilha onde estava incluída a equipa
de reclusos. Houve uma palestra num hotel do Funchal tendo sido moderador sobre
desporto José Peseiro, treinador do Nacional da Madeira nessa altura. Este
invento causava muito trabalho mas sem trabalho não se consegue nada e causa muita
inveja principalmente aos órgãos máximos da Direcção Geral.
Entrega de prémios





Estive a chefiar o E. P. durante algum tempo depois por questão de
saúde e algum aborrecimento entre mim e o Director, fui colocado no E. P. R.
Funchal, com funções de chefia. Vem isto a propósito como uma declaração de
interesses para tudo o que relato, nada tem a ver com bajulação, não preciso, e
não sou pessoa que se presta a esse tipo de coisas e não estou a fazer um
descargo de consciência, ainda penso durar mais uns anos, tenho de me vingar da
aposentação que é o que acontece neste momento.
O E. P. R. Funchal é pequeno como todos os E. Regionais. Neste existe
uma torre de vigilância o que dá uma certa segurança ao E. P. Por dia faziam
ali serviço cinco guardas e um graduado de serviço. A cadeia tinha sessenta
reclusos, distribuídos por camaratas, entre eles, um ex-guarda prisional que
dava que fazer por dez. Estava alocado num sector à parte. Comia as refeições
na cela, tinha recreio num pequeno recreio à parte, assim como as visitas. Aos
sábados e domingos a esposa ia-o visitar e levava-lhe um saco com vários
haveres. O saco era sujeito a uma revista só entrava o que estava autorizado e
constava da N.E.P., o restante era entregue à família no fim da visita.
Aconteceu que uma vez a guarda feminina disse-lhe que tinham ficado retidos
alguns artigos para a esposa no fim da visita levantar. Fez uma discussão. Tive
de o chamar à razão. Disse-lhe se não se calasse terminava-lhe a visita. Não
sirvas a quem serviu e não peças a quem pediu. Queria ser diferente dos outros
reclusos mas para mim a partir de ser condenado era um recluso como outro
qualquer. Estas situações acontecem e alguns guardas cedem a vários tipos de
pedidos deles estragando por vezes a sua situação profissional. Ali estiveram
presos algumas individualidades, P.S.P, Guardas Prisionais e Presidentes de
Câmaras, mas para mim eram todos iguais, ou seja, ajudava mais os mais
desfavorecidos.
Havia uma brigada de reclusos
que trabalhavam para a Câmara Municipal do Funchal. Todos os dias uma viatura
da Câmara os vinha buscar e trazer eram acompanhados por um guarda para os
custodiar. O restante serviço era dividido entre faxina do Refeitório,
Portaria, Limpeza de Corredores e Recreio. A parte do tempo era passada no
recreio a divertirem-se. Não havia grandes problemas a não ser uma pequena
zanga entre eles o que era logo sanada.Continua
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