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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Nazismo – um eufemismo para a União Europeia, uma realidade para a Europa:

 (João Gomes, in Facebook, 16/11/2025)

(Sobre o resultado da resolução da ONU, a que o artigo abaixo reporta , avanço com alguns esclarecimentos, pois não encontrei nenhum meio de comunicação social que por cá o tivesse noticiado: o Ocidente, Portugal incluído, não é contra o nazismo mas não quer que se saiba…

“A 14 de novembro, em Nova Iorque, a Terceira Comissão da 80ª Assembleia Geral da ONU adotou, por iniciativa da Federação Russa, a resolução sobre o combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e de outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância conexa.

Quarenta e quatro Estados, representando todas as regiões do mundo, foram coautores da resolução. Cento e catorze Estados votaram a favor da adopção do documento; 52 delegações votaram contra e 11 Estados abstiveram-se. A resolução condenou a glorificação do movimento nazi e a exoneração de antigos membros das SS, incluindo as Waffen-SS, que foram considerados criminosos nos Julgamentos de Nuremberga.” (Press release do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia),

A votação da União Europeia e de Portugal foi coerente: se passam a vida a apoiar o regime nazi da Ucrânia, como poderiam votar contra a glorificação do nazismo?!

Estátua de Sal, 16/11/2025)


Há coisas que nos dizem mais pelo que calam do que pelo que proclamam. E a recente posição da UE na ONU – recusando aprovar uma resolução dedicada ao combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e da xenofobia – é um desses casos em que o silêncio pesa mais do que o discurso.

Com palavras cuidadosamente medidas, a UE procurou justificar a sua escolha recorrendo à crítica insuficiente, da instrumentalização russa do tema. Invocou o relatório de E. Tendayi Achiume como quem ergue um biombo moral, apontando a outros a manipulação do termo “neonazismo”, para assim evitar olhar para o espelho. Porque o espelho, hoje, é incómodo: nele a Europa vê a emergência de partidos de extrema-direita que crescem nas urnas, que governam países, que moldam políticas migratórias, que normalizam discursos outrora inaceitáveis.

O nazismo, para a UE, parece ser uma palavra perigosa – não por aquilo que evoca, mas por aquilo que expõe. É mais fácil tratá-lo como um conceito distante, como um rótulo usado indevidamente por um adversário geopolítico, do que reconhecê-lo – ou às suas variações contemporâneas – dentro da própria casa.

E, no entanto, a resolução rejeitada não era sobre a Rússia. Era sobre racismo, neonazismo, intolerância, glorificação do passado fascista. Era sobre realidades que se manifestam hoje na Europa: nas ruas, nos parlamentos, nos discursos eleitorais, nos programas de governo. Realidades que não se resolvem com retórica diplomática nem com deslocações estratégicas do debate.

Ao votar contra, a UE fez do combate ao nazismo uma discussão lateral, uma nota de rodapé de uma disputa política maior. Mas para quem observa o avanço da extrema-direita – que deixou de ser sombra e se tornou presença ativa – este combate não é um detalhe: é uma urgência civilizacional.

A UE escolheu transformar o nazismo num eufemismo, numa palavra cuja pronúncia só parece conveniente quando pode ser projetada para fora, para outros. Mas para a Europa, para os seus cidadãos, para as suas democracias vulneráveis, o nazismo – ou o que dele renasce, adaptado aos novos tempos – é uma realidade palpável. Não precisa de ser inventado, nem instrumentalizado: basta olhar para o mapa político.

O voto europeu na ONU é mais do que uma decisão diplomática. É um sinal inquietante de que a Europa prefere discutir quem usa o termo “neonazismo” de forma imprópria, do que enfrentar quem o está a colocar novamente em prática – e com sucesso eleitoral.

Assim, entre o eufemismo e a realidade, entre a retórica e o compromisso, entre a política externa e a coragem interna, a UE fez a escolha errada. E uma Europa que vacila perante o passado corre o risco de tropeçar no futuro.

Porque enquanto a UE debate tecnicalidades, o fascismo organiza-se. E cresce. E vota. E governa. E a resolução que devia ter sido aprovada – essa, ficou por aprovar.

Do blogue Estátua de Sal

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