Num domingo depois de acabar o período da visita estava no gabinete da
chefia da guarda a preparar as folhas de serviço para o encerramento e recebo
uma chamada telefónica pelo telefone interno, a darem-me conta que um recluso
picou um guarda com uma seringa e esse recluso era seropositivo. Mandei que
trouxessem o recluso à minha presença para me certificar dos factos. Os guardas
afiançaram-me que o recluso tinha picado o guarda. Perguntei ao recluso se era
coisa que se fazia. Andava sempre a lamentar-se que era perseguido que não
tinha sorte nenhuma e que ia demonstrar que o que se dizia dele era tudo
mentira e à primeira oportunidade demonstrava o contrário. Disse-me que era
tudo invenção. Era o turno que mais o perseguia. Não sabia por que motivo.
Perante tal situação disse-lhe se sabia o que lhe ia acontecer pois tinha que
tomar medidas. Respondeu-me para fazer o que eu achasse justo. Não discutia a
minha decisão e até achava que o devia mandar para o Pavilhão de Observação
para sua segurança.
Quando recebi a participação e a li verifiquei que o guarda Chefe de
Ala era testemunha. Chamei-o à minha presença. Perguntei-lhe como tudo se tinha
passado, recebendo como resposta que não tinha presenciado nada mas que
confirmava o teor da participação. Fiquei mal disposto com o que acabava de
ouvir. Não podia fazer nada porque eram uns poucos contra mim e havia a
participação. Dei conhecimento à Directora que me disse que ao outro dia se
resolvia o assunto. O guarda foi transportado ao hospital de S. João para fazer
análise, mais tarde, veio-se a confirmar ser negativa. O recluso ao outro dia
regressou à Ala. Durante a minha carreira deparei com situações destas o que me
revoltava. Havia as participações e testemunhas o que me tornava impotente.
Um dia fui ter com a Directora e na presença do Chefe Principal
pedi-lhe se intercedia junto do Director Geral, precisava ser transferido e
optava pelo E. P. Funchal, por desentendimento com familiares da minha esposa e
não queria estragar a minha vida. Andava com fracas intenções. Foi-me oferecido
de imediato colocação no E. P. R. da Horta, nos Açores, disse que estava mais
interessado no do Funchal. Tinha um irmão a prestar serviço nesse E. P. e como
dependia de várias coisas, entre elas, fazer de comer, passar a roupa a ferro,
um sem números de coisas. Aqui culpo a minha falecida mãe por nunca me ter
obrigado a fazer certos serviços domésticos. Naquela altura diziam que esses
serviços eram só para as meninas e como até aos catorze anos, só tinha irmãs, nunca
me obrigou. Também não queria sacrificar a minha esposa a ir comigo. Tinha dois
filhos solteiros e precisavam da mãe junto deles. Em Junho de 1999, veio a
autorização da transferência com efeitos imediatos. No dia 8 de Junho lá parti para a Madeira.
E. P. do Funchal

Conhecia o E. P. só por fora. Em
1998 passei dez dias de férias em casa do meu irmão que habitava num apartamento
do bairro do E. P. O Director conhecia-o desde a década de oitenta. Tinha
desempenhado funções no E. P. Paços de Ferreira, como Técnico de Educação e
Ensino. Apresentei-me ao serviço. Chefiava o E. P., o Subchefe de Guardas,
Góis, conhecia-o era do meu curso de Subchefes. Andei uns dias para conhecer a
parte física, assim como a parte humana: reclusos, corporação de guardas e
funcionários.
No aspecto físico, tenho a mencionar que foi das Cadeias em que vi
tanto na estrutura física como na orgânica das melhores do País. Tudo se
interligava. O coração da cadeia é o Posto 1, onde diariamente se encontrava um
graduado de serviço, coadjuvado por dois guardas, responsável por todo o
serviço. Por aqui passa tudo: reclusos para a Oficina de Marcenaria, Padaria,
Gráfica, Mecânica Auto, Bate-chapas, Pintura, Artesanato, Jardins, Tribunais,
Hospitais, Enfermaria, Cozinha, Pavilhão Desportivo, Anfiteatro, Refeitórios,
Lavandaria, Sector Um e Dois, Alas, notificações a reclusos, etc. Alas são dez;
A-D, B-E, C-F, G-I e H-J, além dos sectores da Admissão e Celas Disciplinares.
Na Cadeia Feminina tinha a confecção de tapetes, secção de costura,
onde se confecciona as fardas dos reclusos, se passa a ferro toda a roupa da
cadeia. Como digo está bem estruturada e não compreendo como as restantes
cadeias que se construíram a seguir a esta não teve a mesma tipologia.
Compreender, compreendo. Tem de se inovar para dar trabalho a outros
arquitectos e engenheiros mas é um desperdício. Nos recursos humanos o que se
faz com cem guardas na Cadeia do Funchal nas restantes é preciso o dobro. A
escala de serviço foi das melhores que encontrei. Não é tão saturante e como a
maioria dos guardas vivem no bairro do E. P. ainda se torna melhor.
Ainda tem fora do perímetro da Cadeia a secção do RAVI onde todos os
reclusos que fazem parte das brigadas ali estão alocados não havendo contacto
com outros reclusos. Quando precisam de se deslocarem à enfermaria, ou outro
sector da cadeia, são acompanhados pelo guarda que ali presta serviço.
Após o trabalho as brigadas estão incumbidos pelo arranjo dos jardins
exteriores, assim como na limpeza do bairro. Tudo está organizado. Requer dedicação
e isso é o que não falta em quem dirige a cadeia.
Tudo se interliga e quando se quer passar uma ronda diurna aos recreios
ou outros sectores, há os corredores de segurança nas galerias que tem
visibilidade de toda a cadeia. Os reclusos em dias de visita são obrigados a ir
devidamente uniformizados, com farda própria, senão, não recebem visita. Os
haveres que os seus familiares lhes levam são controlados pelos guardas da
revista e mencionado o que entra num impresso próprio, sendo o duplicado, entregue
à visita e outro colocado no saco para o guarda no acto da entrega ao recluso,
fazer a conferência.
Quem faz a revista são os
guardas que fazem parte do grupo de intervenção (GI) que existe para todo o
tipo de serviço ao exterior assim como para manter a ordem e disciplina quando
a isso são obrigados.
Ali vi reclusos de toda a parte do mundo. Quando são presos no
Continente e como não tem familiares para os visitar vão para ali transferidos.
Do Continente havia alguns. A maioria dos presos madeirenses são de Câmara de
Lobos, (Chavelhas). Do Porto Santo só havia uma reclusa.
As alas são coordenadas ou por um Subchefe de Guardas ou graduado de
serviço. Os reclusos quando ali dão entrada são encaminhados para o sector da
Admissão, onde permanecem cerca de oito dias, findo os quais, dão entrada numa
ala - quando são reclusos com uma idade avançada vão directamente para a ala.
Chegados à ala é-lhes distribuída uma cela a qual é vistoriada pelo próprio e
por o chefe de ala e assinado num impresso próprio o seu estado de conservação
sendo dado ao recluso o duplicado.
No E. P. Funchal só não sabe trabalhar quem não tem interesse. Em todas
as alas e secções existe as NEPS, “Normas Execução Permanentes” quando há
alguma dúvida os guardas socorrem-se a ela. Havia reclusos problemáticos,
faziam distúrbios, cortavam-se e se tivessem de ser tratados no hospital tinham
de pagar as custas assim como quando destruíam a cela, fazia-se a participação,
além de um inventário com os prejuízos causados, era imediatamente fechado, com
duas horas de recreio diárias durante oito dias. Caso a participação não
estivesse concluída era aberto e esse tempo contava para a punição. No E. P.
Funchal um guarda era mais respeitado que a maioria dos Subchefes nas cadeias
continentais.Continua
para mim o maior chefe das cadeias de portugual e o senhor chefe mas grande chefe ELISARDO e como um amigo no que pode ajuda aqui vai o meu muito obrigado assinado ARANHA LAGARTILE NOÉ PESTANA
ResponderEliminarNoé:
ResponderEliminarSó hoje vim ao blogue e vi o seu comentário pelo que peço desculpa do atraso e desde já o meu obrigado. Quanto ao que se referiu a meu respeito julgo que é favor seu. Fui e sou um entre tantos. Como eu existem bastantes mas muito mais com outras aptidões. Chefiei alguns Estabelecimentos mas era por nomeação dos Directores e não por promoção, nunca quis concorrer, entendia que havia melhores do que eu. Quanto ao Chefe Lizardo também entendo que é um bom Chefe mas tem de ter quem o ajude e aí na Madeira há muita rivalidade.
Gosto da Madeira e se reparar tenho escrito sobre ela sempre com um certo carinho e saudade. O Estabelecimento Prisional do Funchal foi o melhor que encontrei, pena a corporação não o entender e fazer mais para que seja ainda melhor. Quem ganha com isso? Os funcionários e os reclusos.
Desculpe que lhe diga vc não foi exemplo para ninguém pk vc so olhava para seu umbigo e do seu irmão vc era mais um Lacaio do Diretor da altura e vc sabe disso vc não foi exemplo para ninguém execto o seu irmão. ..
ResponderEliminarE se vou fosse como o Chefe Lizardo vc era um exemplo mas vc nem lhe chega perto dos calcanhares. ..
Ainda bem que se reformou para mim vc nunca foi exemplo em nada so da vassalagem ao Director. ..
Bem haja
Não costume responder a anónimos mas hoje abro uma excepção. Pessoas que não dão a cara para mim são uns lacaios. Você deve ser daqueles que precisava de favores e que eu sempre recusei. A minha carreira fala por mim. Nunca me quis comparar a ninguém. Julgo que deve ser um dos delegados sindicais que na altura gravitavam aí no E. P. Funchal que volta e meia para mostrar ao Presidente do Sindicato, serviço, dizia mal de tudo e de todos. O senhor não sabe o que é ser Guarda Prisional. Aí na Madeira, derivado ao Director que aí têm, vocês parecem que estão num Jardim Infantil. Gostava de o ver a fazer serviço no E. P. Paços de Ferreira, Custóias, E. P. Lisboa e outros mais. Você "borrava-se" todo. Faço este reparo porque quem se escreve como anónimo é um covarde. Oxalá que no final da sua carreia pudesse escrever as suas memórias com a sua consciência tão limpa como a minha. Mas para isso terá de dar a "cara". Mande sempre.
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