Rádio Freamunde

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quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Comissão de Festas Sebastianas:


É um conjunto de indivíduos que são seleccionados todos os anos para a realização das festas em honra ao Mártir S. Sebastião. Estas são celebradas no segundo fim-de-semana do mês de Julho, como já referi. Desde que tenho conhecimento lembro-me das festas nesses anos.
Por volta de mil novecentos e cinquenta e cinco, com seis anos de idade, os meus pais levava-nos a assistir a mim e às minhas irmãs à procissão e marchas alegóricas.
Assistia com a admiração própria da idade. Que bonitas e com tantos foliões. Admirava-me de tanta luz, da cor das lâmpadas nos arcos, estes, com o seu papel de gazeta de cores variadas. Eram esses os materiais usados.
Em mil novecentos e sessenta e um, na segunda-feira de festas, dia do desfilar da marcha alegórica por volta das vinte horas fomos presenteados pela mãe natureza de um dilúvio que estragou a sua saída que estava marcada para as vinte e três horas e trinta minutos. Tratou-se de resguardar o material que ia ser exibido para não ser consumido por esse dilúvio. Para pena de todos os freamundenses um dos seus ex-líbris (marcha alegórica) não podia ser vista. Todos nos sentimos tristes pelos danos causados. O negócio que os comerciantes deixaram de fazer e por esse motivo não contribuíam monetariamente após a realização das festas. É uso depois das festas, os festeiros fazerem um peditório pelo comércio local, barracas de diversão e de comes e bebes e estes contribuírem conforme os ganhos. Se não o puderam ganhar muito menos o podiam dar. Também não se podia exibir o trabalho de alguns meses que sempre gostamos de o partilhar com quem nos visita e habitantes de Freamunde.
Os freamundenses não são pessoas de se deixar abater por um qualquer dilúvio e há que arranjar uma solução.
A terça-feira nasceu com sol e bastante calor. O senhor Anselmo Marques (falecido há uns anos) industrial de panificação e um dos impulsionadores das festas Sebastianas -, houve uns anos que não se realizaram, divergências com o bispo do Porto, não queria que houvesse festa nocturna, era contra a festa profana -, pôs a sua frota automóvel e motoristas a percorrer os concelhos limítrofes a anunciar através de uma aparelhagem sonora a saída da marcha para a mesma hora da de segunda-feira.

O mote tinha sido lançado. Esperava-se se se era correspondido porque uma festa sem foliões não é festa. Para mais nesse tempo não era como é hoje. Não havia férias anuais. Os freamundenses e os que laboravam em Freamunde e não eram poucos - nessa altura Freamunde era das terras com mais indústria e comércio - na segunda e terça-feira não trabalhavam. Estes dois dias eram compensados com umas horas extras depois do horário laboral.
Chegou a noite. Os naturais de Freamunde iam comparecendo com receio de ser um fiasco mas, à medida que as horas se iam passando já não se podia dar uma volta. Os forasteiros compareceram como de uma segunda-feira de festas se tratasse. Foi das melhores noitadas até àquela data que assisti. Ao outro dia - quarta-feira - era dia de trabalho não se podia perder um dia, notava-se logo a falta que fazia. Os patrões também tiveram uma certa benevolência, sabiam que os seus empregados não podiam render o que era normal - fui trabalhar e sei da minha luta com o sono. Quando toca a bairrismo todos nós estamos solidários. Há divergências com instituições locais mas - sendo elas justas -, quando toca a defendê-las, somos todos por um e um por todos.
Mais tarde com a invenção do plástico tudo se revolucionou para melhor: resistência à chuva, ao fogo e ao próprio manuseamento. A luz eléctrica nessa altura era rara, em minha casa e na maioria dos habitantes de Freamunde, ter luz eléctrica era um luxo e não uma necessidade. Por isso admirava as várias cores das lâmpadas.
Continua

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