Rádio Freamunde

https://radiofreamunde.pt/

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Capitulo I


A procissão era uma beleza! Como gostava de ver os andores e os anjinhos, sentia inveja de não fazer parte dela. Nessa altura eram escolhidos e como era filho de gente humilde ninguém se lembrava de gente como eu.
Antes da procissão havia o concerto das bandas filarmónicas e já nessa altura a de Freamunde era das melhores do País - a fazer fé nos ditos dos seus admiradores. Lembro-me de ver o Toninho Nogueira, falecido há bastantes anos, regente da banda, com o manuseamento dos seus braços e batuta a dar o compasso e com a sua face corada, não sei, se devido à responsabilidade.
A marcha alegórica era e é de uma beleza impar, o carinho com que era e é elaborada. Parece que revejo o senhor Leopoldo Saraiva, - há muitos anos falecido. Depois veio a família Correia, (Mocas) o Fernando levado na flor da idade, fez parte da minha comissão de festas, que nos presenteavam com a confecção de carros de crítica local e nacional (corsos). Como disse, era tudo à base de cartão e papel de gazeta. Tinham umas mãos de ouro. Em tudo que tocavam nascia maravilhas. Pareciam o Rei Midas. Foram impulsionadores de muitos eventos realizados em Freamunde.
Incorporava a marcha alegórica várias figuras, umas criticas, outras de alusão à vila, aqui recordo o grupo cómico de Figueiró, freguesia que faz fronteira com Freamunde, comandado pelo senhor Luís Monteiro. Era uma delícia as suas brincadeiras! Recordo um ano em que vieram com uma sátira sobre a volta a Portugal em bicicleta, estas sem pneus, só com os aros, faziam um barulho ensurdecedor e provocava bastantes quedas não dando descanso ao médico e massagista que com mercúrio, água destilada e adesivo não davam vazão a tudo. Outro ano com uma tourada e mais tarde com uma banda de música em que os instrumentos eram de cana de foguete, uma extremidade tapada com gazeta para dar som, com alguns orifícios, panelas, testos, etc. Estavam bem ensaiados e deram um festival de bem tocar as modas da época. O senhor Luís Monteiro em tudo que se metia tirava o máximo proveito e tudo era do agrado de quem assistia. Pena hoje não haver mais Luís Monteiros. Eram críticas das quais ainda hoje recordo.
Antes do percurso da marcha uma grande parte do povo sentava-se nos passeios para guardar lugar, alguns adormeciam. Para os tentarem manter acordados havia pessoas, Quim (Bica), Adelino (da Claudina), já falecidos e, outros que munidos com uma bisnaga cheia de água lhes deitava pela cara abaixo.

                    Quim Bica

Tudo feito com o máximo respeito e daqui nasceu o chamado “mel”. Para avisar os mais sonolentos usava-se a frase: “Aí vem mel”. Assim todos se mantinham acordados para não serem molhados e alvo de crítica. Hoje, fazem-no com recipientes de maiores dimensões o que por vezes se torna desagradável e arma algumas confusões. Quando é entre um grupo de amigos - isso é entre eles e gostos não se discutem - torna-se giro para quem assiste. Quem quer ser lobo veste-lhe a pele. E, é como se diz: cada terra com seu uso e cada roca com seu fuso.
Quando se ia correr as vacas de fogo a mim dava-me uma dor de barriga que só pensava na minha casa. Os meus pais levavam-nos para um sítio mais protegido mas mesmo assim a dor de barriga continuava. 
Coreto de Música
Nesse tempo as diversões eram poucas, hoje há grupos de rock e outros divertimentos. Ansiávamos que o Quim "Loreira", também falecido há anos, subisse ao coreto da música e dali nos deliciar com as suas brincadeiras, anedotas e sermões.
Continua

Sem comentários:

Enviar um comentário