Rádio Freamunde

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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Capitulo II


Antes uns dias a catraiada vinha para o centro da vila ver chegar as barracas de diversão (carrosséis, carrinhos de choque, cestinhas, aviões e o ratinho da sorte) que serviam durante as festas de divertimento para quem tinha dinheiro para isso. Nós miúdos, nesses dias aproximávamos mais de alguns familiares a ver se nos ofereciam algum dinheiro para esse fim. Alguns davam mas..., as necessidades eram tantas.
Punha-me na borda da pista dos carrinhos de choque e quando era avisado pela aparelhagem sonora que findava essa corrida, dependurava-me no suporte dos mesmos, para uma pequena boleia. Que alegria, que satisfação!
Já adulto comprava as fichas e deliciava com as voltas. Nesse tempo era só num sentido a corrida, com a prática e a combinação com outros amigos para dar uma trombada na parte lateral de trás e com o guinar do volante nesse sentido, arranjávamos maneira de inverter a marcha - dava-nos gozo mostrar a nossa perícia - mas provocava chatices e trabalho aos empregados dos mesmos.
Um dia numa excursão a Fátima e com paragem e pernoita em Nazaré, na Nazaré de Cima, havia uma pista de carrinhos de choque. Nessa excursão a maioria dos excursionistas eram jovens e quando a viram para ali foram para se divertir e usar as mesmas brincadeiras que usávamos nas festas da Vila. A certa altura ouve-se esta exclamação de um empregado para outro! Estamos bastante longe senão quase afirmava que são pessoas de Freamunde. E não se enganara. Éramos rebeldes mas educados.
O carrossel nesse tempo andava sempre super lotado - hoje derivado às várias barracas de diversão - dá-me pena ver o que outrora para mim era um ex-líbris estar tão abandonado. Ali podia andar ao mesmo tempo o jovem, o adulto, o namorado, a namorada, o marido, a esposa, os filhos e os anciães. Pena do seus cavalos, girafas e leões, tudo em madeira, estarem tão deteriorados e sem tinta. Nós miúdos que ficávamos a partir dessas barracas de diversão a saber como eram esses animais. Não existia a televisão muito menos o canal National Geographic. Para nós -miúdos daquela altura - que estávamos longe de Lisboa era o nosso jardim zoológico.
O ratinho da sorte que estava dentro de uma gaiola no centro da pista, esta rodava em volta e depois de se vender todos os bilhetes era aberta uma porta para ele se deslocar para uma das casinhas existentes. Tantas como a venda dos bilhetes. Ele no meio da pista olhava em todas as direcções e lá se dirigia para uma, casualmente. Os jogadores solicitavam a do número do seu bilhete mas ele ia para a que lhe desse na gana. Ao que ganhava sabia-lhe bem o prémio, aos outros restavam-lhes voltar a jogar.
O pouco dinheiro que tinha não dava para essas diversões. Contentava-me com a compra de um chupa-chupa ou algodão doce, para satisfazer a lambarice e dar um ar a dia de festa. Festas em que uma criança não pudesse comprar essas guloseimas, eram umas festas tristes e tristeza não combina com festas. Festas são: alegria, diversão e gozo. Gosto de recordar esses tempos.
Admirava e admiro quem aceita fazer parte das comissões de festas. O trabalho que têm durante um ano para em quatro dias se consumir tudo - hoje são oito. Das comissões das festas Sebastianas a maioria da população masculina de Freamunde - a feminina é preservada - já fez parte e sempre com um bairrismo que é elogiado por quem nos visita nesses dias.
Freamunde é assim: alegria na Festa e festa na Alegria. Tudo o que cria gosta de preservar e se possível melhorar. 
Quando vejo ou assisto a uma festa - seja em que localidade for - dou sempre valor a quem as realiza. Compreendo as canseiras, os aborrecimentos, a responsabilidade e o trabalho que implicam.
Continua

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