Próximo do fim do ano o Director foi transferido para administrar outro
E. P. na zona centro. Foi contra a sua vontade. Nesse dia o Director Geral - agora
era o Dr. Celso Manata, logo no princípio notei que Dr. Marques Ferreira não
tinha capacidade - foi fazer a apresentação do novo Director. Neste caso
Directora. Assisti à tomada de posse e achei que foi uma desconsideração. O
Director estava presente. Há pessoas que não medem os actos ou gostam de
espezinhar as pessoas.
O serviço ia decorrendo. Começou a haver uma certa bonomia mas estas
casas tem de funcionar com melhores ou piores dias. O serviço cada vez era mais.
Os guardas! Os mesmos. Havia a nível nacional uma comissão para estudar um tipo
de escala de serviço - nesta comissão havia elementos do sindicato de guardas -
para colmatar certas deficiências.
Foi marcada uma reunião no E. P. Coimbra com todos os elementos
responsáveis pela escala na zona norte juntamente com os Directores e Chefias
da Guarda e o “Capitão” Oliveira, Subdirector Geral. Foram postos à apreciação
os tipos de escala de serviço para os E. P. Centrais e outro tipo para as
Regionais. Chegada a vez de me pronunciar disse que com aquele tipo de escala
de serviço para os E. P. Centrais - que me dizia respeito - era a mesma coisa
que a adiar eternamente. Fui considerado um pessimista. Até pela minha
Directora e Chefe Principal mas aleguei que nestes casos era como S. Tomé. Esta
reunião deu-se no ano de 1998, fui aposentado em 2007, e nessa data ainda se
praticava o mesmo tipo de escala.
Havia e há interesses instalados e ninguém os quer perder. Há E. Ps.
com escalas de serviço com menos sobrecarga, com mais guardas, a maioria deles
encontram-se sediados na zona Centro e Sul. O Sindicato sabe que qualquer que seja
o tipo de escala de serviço vai arranjar discordância. Por esse motivo não lhe interessa
que se avance. Há E. Ps que tem os guardas subaproveitados mas dizem que há
faltas de guardas.
O Chefe de Principal, José Augusto, era uma pessoa de bom trato, relacionava-se
bem com o Sindicato e com o Director Geral. Era solicitado constantemente para
ministrar cursos aos novos Guardas e a futuros Subchefes de Guardas. Uma vez em
que estava em Caxias a ministrar um curso, também foram dois Subchefes
frequentar o curso para Chefes de Guardas, como era o mais graduado fui nomeado
para chefiar o E. P. durante a ausência que se prolongou por dois meses.
Nesse intervalo houve um conselho técnico para saídas precárias
prolongadas. O guarda responsável por uma secção veio falar comigo para se dar
uma oportunidade a um recluso que trabalhava nessa secção. Como gosto de ouvir
os responsáveis pelos vários sectores e entendo que eles os conhecem melhor que
nós perguntei-lhe se fazia confiança no recluso. Disse-me que sim. No conselho
técnico a maioria foi a favor e o recluso foi gozar cinco dias não fazendo a
apresentação no dia determinado. Fiquei desiludido. Era o primeiro recluso que
não se apresentava desde que interferia em conselhos técnicos. Ouvi… umas
conversas não tinha provas.
O Sindicato resolveu fazer uma greve a nível nacional. Os Subchefes de
Guardas aderiram. Era a reivindicar algumas coisas e havia motivo para isso.
Passado uns tempos resolveram fazer outra greve. Achei que os motivos não eram
válidos. Era para medir forças e não alimento este tipo de situações. Alguns
meus colegas Subchefes resolveram fazer o mesmo que eu, outros não sabiam para
que lado se virar. Nesse dia de manhã as coisas correram bem. Houve uma reunião
com a Directora, Chefe Principal e Delegados Sindicais tendo estes se
prontificado a cumprir umas certas regras. Na parte de tarde não sei por que
motivo o que se tinha prometido foi tudo alterado.
Tínhamos um recluso que durante um ano andou duas vezes por semana a
ser presente na Universidade com custódia para tirar um curso, que agora não
posso precisar. Esse dia era o último de exames. Se não fosse presente todo o
sacrifício que a Direcção, Chefia e recluso fizeram ia por água abaixo.
Combinaram de manhã que se deixava sair o recluso para fazer o exame. À tarde
deram o dito por não dito. O Chefe Principal reuniu com a corporação e
Delegados Sindicais, como havia um guarda motorista e um guarda que não
aderiram à greve seriam estes que faziam a escolta, e ele, Chefe Principal,
dava passagem à viatura para não melindrar quem ali fazia serviço. Nem assim
concordaram. Tive pena da maneira como procederam com o Chefe Principal não era
merecedor daquele tipo de atitude.
Tenho assistido ao começo de manifestações e de greves e sei que é
fácil dar início. Difícil é terminá-las. Era o que estava a acontecer. Previ um
mau final. A Directora mandou reunir a Chefia, Subchefia e Delegados Sindicais
no seu Gabinete, juntamente com o Dr. Paulo de Carvalho. A reunião correu mal. Os
Delegados Sindicais opuseram-se a tudo. A Directora expulsou todos de lá para
fora. As cabeças estavam quentes. Não se estava a raciocinar.
Saí dali e vim para o Gabinete dos Subchefes e passado uns minutos
recebo uma chamada telefónica pelo telefone interno, do Dr. Paulo de Carvalho,
para me apresentar novamente no Gabinete da Directora. Disse que não ia. Que
fui expulso quando estava a colaborar para se resolver a situação e não
compreendia a atitude da Directora. Se quisesse que me dirigisse lá tinha de
ser ela a me telefonar. Assim aconteceu. Foi-me feito um pedido de desculpas e
então metemos mãos à obra desse para o que desse.
Os guardas grevistas começaram a aproximar-se da Portaria para darem
força a quem se encontrava ali com os mesmos intuitos. Notei que havia uma
certa desunião entre eles e alguns guardas a dizerem aos Delegados Sindicais
que a partir daquele momento acabavam com a greve.
Fui falar com o Chefe Principal
que estava na altura de avançar com a viatura, o recluso encontrava-se no seu
interior, assim como os guardas custodiantes. Disse-me, que eles - grevistas -
não deixavam passar a viatura, tendo-lhe respondido. Como é que sabia se não se
tinha feito qualquer tentativa!
A viatura celular avançou. O guarda de serviço à Portaria não abria o
portão. Os guardas grevistas insultavam o guarda motorista e o outro que o
acompanhava assim como insultaram um Subchefe. Não estava a entender a maneira
de agir de certos guardas. Era uma confusão. Comecei, eu, e um outro Subchefe a
identificar os grevistas. Alguns desistiram. Outros para mostrar que não tinham
receio vinham dar o nome em atitude de gozo. Até um Guarda motorista e um
Subchefe que tinham saído na véspera numa diligência para o E. P. R. Faro, com
um recluso para ter julgamento no dia posterior ao dia de greve, tiveram de dar
entrada antes das zero horas senão não o recebiam, vieram dar o nome em como aderiam
à greve. Respondi: - Não estejam no gozo. Se estavam solidários com a greve
deviam de ainda estar na Cadeia de Faro e só depois da meia-noite é que
regressavam - era quando ela terminava.
A Directora teve que dar conhecimento ao Director Geral da situação.
Este mandou passar o telefone ao Chefe Principal e disse que ia mandar um
piquete da Polícia para pôr ordem no E. P. O Chefe Principal pediu por quanto
havia para o não fazer que parte da corporação não merecia e era uma vergonha. No
outro dia apareceu um inquiridor para fazer averiguações.
Como houve uma participação dos
factos e com os nomes dos maiores prevaricadores, começou a interrogá-los. Todos
negavam que se puseram à frente da viatura celular e que ela não chegou perto
do portão da Portaria. Quando fui chamado a depor foi-me posto esse problema. Disse
que esteve tão perto do portão que uma mosca se quisesse passar entre a viatura
celular e portão julgo que não cabia. O inquiridor conhecia-me de outras
inquirições. Fez fé no que lhe disse.
Estiveram todos para serem
transferidos para outros E. P. do sul do País e Ilhas. Aqui outra vez o Chefe
Principal, José Augusto, intercedeu e como o Director Geral tinha bastante
consideração por ele, voltou atrás com a decisão. Houve um guarda que teve de
assinar um termo de responsabilidade em como não voltava a fazer greve. Estava
marcada uma greve para um dia posterior mas foi um fiasco. Disse a esse guarda
se eu estivesse no lugar dele avançava com a greve. Tanta coisa e agora
acobardavam-se. O Chefe Principal não merecia o que lhe fizeram. Depois da
tempestade vem a bonança. Foi o que aconteceu.Continua
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