O serviço nocturno era efectuado por dois guardas e o subchefe de
guardas ou graduado. Um guarda ia para a torre de vigilância o outro ficava no
interior do E. P. com o subchefe ou graduado. Os guardas de hora a hora eram
rendidos entre si. Nos dias em que fazia serviço nocturno efectuava várias
rondas, umas vezes sozinho, outras acompanhadas com o guarda.
Um dia por volta das vinte
horas, na Madeira já é noite, fiz uma ronda acompanhado com o guarda e chegados
a poucos metros da torre de vigilância - tínhamos subido um patamar que
circunda quase todo o edifício e estávamos ao mesmo nível da torre - vi que o
guarda estava atento e quando chego próximo dele puxa pela arma (HKMP3) e mete
bala na câmara. Perguntei-lhe qual o motivo para tal atitude. Tendo-me
respondido que o devia de avisar que ia passar ronda. Que noutros tempos um subchefe
de guardas fez o mesmo e o guarda lhe mandou fazer alto e rastejar até ser
reconhecido. Disse-lhe para deixar de brincar - era uma ronda, e as rondas não
são avisadas - com coisas sérias e que ia comunicar o sucedido.
Fiz a respectiva comunicação. Li-a ao guarda que me acompanhou,
tendo-me dito que estava conforme o que se passou. Mencionei o que o guarda me
disse, e quando disse para assinar fez umas certas reservas, eu sabia o que a
casa gastava, mas lá pôs a assinatura.
Outra vez num Domingo dia de visita, as visitas eram só da parte da
manhã, pelo motivo de ou dávamos visita ou recreio, não se podia dar as duas em
simultâneo, dávamos o recreio à tarde. Havia um café que abria ao Domingo da
parte da manhã, com o intuito de ganhar algum dinheiro com os familiares dos
reclusos que iam à visita. Ao meio-dia fechava. No E. P. R. não havia qualquer
bar ou café pelo que quando os guardas queriam tomar algo - fora o domingo de
tarde - pediam autorização para ali se deslocarem. Sempre autorizei e se fosse preciso
até os substituía. Era raro ir ali tomar alguma coisa. Nesse Domingo estava no
Gabinete da Chefia, sempre que o recluso - ex-guarda, era outro - tinha visita
deixava-me estar por ali. Era no recinto da Portaria e tinha receio que
manietasse a guarda feminina e dali se pusesse em fuga - o outro tinha sido
transferido para o E. P. E. Santarém, que era o que estava destinado às forças
de segurança - neste fazia menos confiança por isso aguardava ali.
Por volta das quinze horas aparece-me um guarda à porta do Gabinete
dizendo-me: - “tenho direito a quinze minutos e vou aproveitá-los para ir tomar
um café”. - Disse-lhe - não tem direito nenhum e não dou autorização a
ausentar-se da cadeia. Se a guarda lhe abrir o portão participo de ambos. - Responde-me
- tenha cuidado que vai haver um Madeirense que o há-de meter na ordem. Mandei-o
dirigir-se para o seu serviço porque ninguém lhe deu autorização para se
ausentar.
Passados uns minutos chega-me outro guarda com as mesmas intenções. - Disse-lhe
- admira-me de si. Quantas vezes fico a substitui-los e não é a minha missão. Se
ausentar-se não volta a entrar ao serviço e é comunicado por escrito o seu
abandono. Pediu-me desculpa e que não voltava a acontecer, que eu não merecia
essa atitude por parte dele e do seu colega.
À noite, como sempre o Director ia-se inteirar como tinha decorrido o
serviço dei-lhe conta do sucedido e que de manhã seguia a participação. No
outro dia apareceram os delegados sindicais a inteirar-se do sucedido e foram-no
logo comunicar ao jornal Noticias da Madeira.
Sabia o que queriam. A intenção
era contestar o Director. Este perguntou-me se tinha a certeza que a lei não
previa esta situação. Respondi-lhe que se estivesse enganado sofria as
consequências.
Como referi mais acima sou dos fundadores do S.N.C.G.P., estes
delegados sindicais ainda não sonhavam ser guardas e já perdia tempo com
problemas da corporação. Não se dirigiram a mim a perguntar como tudo se passou
e se precisava de algo para me defender. Era só sede de vingança. Um deles
tinha sido destituído do G.I. e não me perdoava isso.
De imediato mandei uma carta registada ao presidente do sindicato para
que me suspendessem as quotas, que enquanto se mantivessem, ele como presidente
e os guardas como delegados sindicais, não descontava mais um cêntimo. Foi com
alguma tristeza que tomei essa decisão.
De há uns tempos a esta parte os delegados sindicais eram eleitos dos
piores guardas que tinha a corporação. Tinha-me apercebido disso no E. P. Paços
de Ferreira e aqui tinha a prova. Sei que a intenção era contestar o Director. Não
se lembravam que estavam a desempenhar serviço no melhor E. P. do País. As
condições eram as melhores. Não sabiam o que era uma cadeia. Ali parecia mais
um infantário comparada com as do Continente. O sindicato que de volta e meia
andava a arranjar problemas devia de se orgulhar de haver assim um Director e
exigir à Direcção Geral que os outros fossem iguais.
O Director enviou as participações para a Direcção Geral, Serviço de
Auditoria e Inspecções (S.A.I.), para serem estes serviços a fazer as
inquirições com o intuito de ser um organismo independente. Encontro-me
aposentado há dois anos estes acontecimentos tiveram lugar no ano de dois mil e
um. Não tive conhecimento se houve punições. Eu não as tive. O que desconfio
era que o S.A.I. queria este tipo de situações para irem dar um passeio à
Madeira à custa do Estado.
Do que relato do Director tenho quase a certeza que não gosta que o
mencione. Mas estou-me marimbando e lamento que nunca tenha sido convidado para
Subdirector Geral. Capacidades não lhe falta e tenho a certeza que mudava
certos procedimentos. Não é homem de pactuar com eles e as verdades são para
ser ditas.
Continua
Continua
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