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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É nomeado um Instrutor:

Os dias iam decorrendo. Só Deus sabe como me sentia. Parecia que via nos meus colegas uma certa satisfação pelo que me aconteceu. É nomeado um instrutor. No dia 26 de Outubro se a memória não me atraiçoa, estava de serviço no posto de rádio e recebo uma chamada pelo telefone interno, do guarda Valente, desempenhava serviço na Portaria, para o render que precisava de se deslocar a uma secção administrativa para tratar de um assunto de serviço. Perguntei-lhe se tinha sido comunicada a rendição ao chefe de guardas o que me foi dito que sim.
Dirigi-me à portaria. Foi-me transmitido o serviço. Estavam ali umas pessoas à espera de serem atendidas. Disse-lhes para aguardarem numa sala que era utilizada nos dias de visita para revista às pessoas do sexo feminino. Fui correspondido por todos. Só um advogado que estava à espera de ser atendido por um Técnico de Educação deixou-se ficar no mesmo local. Como usamos um certo fair-play para com esta classe não insisti.
Passado um pouco de tempo dirigiu-se à portaria um Técnico de Educação para falar com o dito advogado. Abri o gradão. Não era chapeado tinha-se visibilidade para a parada que fica entre a portaria e o edifício administrativo. O Técnico de Educação começou a falar com o advogado por entre o gradão, nesse momento, vim abri-lo para lhe dar passagem. O gradão estava semiaberto, tinha a chave na fechadura, aguardava que o Técnico de Educação entrasse no recinto da Portaria. De repente surgiu um recluso de nome “Manel Tedyboy” que de pistola em punho me mandou encostar à parede assim como o educador e o advogado. Fiz um gesto inadvertido. Levei uma coronhada nas costas. De imediato surgem mais dois reclusos, Raul e Didier, este de origem francesa. Revistaram as gavetas da secretária não tendo encontrado nada de seu interesse. Nesse momento vem o guarda Valente para a portaria e quando se apercebe do sucedido vem para fazer frente aos mesmos mas é intimidado, mesmo assim, começou a berrar para a torre nº. 1, dando conta do sucedido. O guarda da torre não reagiu.
Saíram Raul e Didier da portaria logo seguido de Tedyboy. Nesse momento fui ao armeiro buscar uma G3. Nessa altura na portaria era só um guarda que prestava serviço e desarmado, com o intuito de os apanhar no exterior.
Ali chegado vejo que os mesmos iam dentro dum táxi - estava próximo da portaria com as chaves na ignição - a uma distância de trezentos metros, fiz fogo para o táxi, nesse momento vem uma viatura em sentido contrário o que me levou a suspender a acção com receio de a atingir.
Se a minha situação profissional já estava num caos a partir daqui piorou e de que maneira. Os guardas, a quem tinha por amigos, olhavam-me com desconfiança. Só o Subchefe de Guardas, Gonçalves, veio estar comigo e disse. - Defenda-se. Não confie em ninguém. Fiz a participação relatando toda a ocorrência. O Chefe de Guardas nem tão pouco me perguntou como aconteceu.
Nos dias seguintes não saía de casa a não ser para ir trabalhar. Os meus colegas, extra trabalho, vieram um dia a minha casa para ir com eles dar um passeio. Só me refugiava em casa.
Um dia numa dessas saídas, num café, alguém insinuou pondo em dúvida a minha seriedade. Disse-lhe. - Se voltas a pronunciar o mesmo parto-te os dentes.
O meu pai veio estar comigo dizendo se eu não tivesse a vida à feição me emprestava dinheiro para me estabelecer na minha antiga profissão. Não aceitei. Enquanto o processo não estivesse concluído não me demitia. Depois se veria. Se precisasse de trabalho tinha os meus antigos patrões. Quando me fui despedir disseram-me que tinha sempre as portas abertas.
Foi nomeado como instrutor o “Capitão” Aguiar, Técnico Superior de Vigilância. Desempenhava funções no E. P. Porto, (Custóias) o que para mim foi bom. Não confiava no primeiro e este vinha de outro E. P., não havia intimidades e notei que era um alvo a abater. Nas declarações prestadas fiz valer a minha inocência.
Também fui ouvido pela Polícia Judiciária, salvo erro pelo inspector Edgar e dois agentes que o acompanhavam. Numa dessas inquirições um agente insinuou que estava combinado com o recluso Domingos, - o da fuga do Centro Saúde Mental - pelo motivo de morarmos na mesma terra. Disse ao inspector para dizer ao referido agente que moderasse a linguagem senão não respondia por mim e que não mamei do mesmo leite que ele. Tendo o inspector e agente saído da sala. Passado uns minutos só entrou o inspector. Quando me sinto com razão não há ninguém que me cale dê para o que der.
Contudo o inspector disse-me para acusar o Técnico de Educação. Disse-lhe que não o fazia porque não tinha bases para tal. O inspector disse-me que depois me oferecia os dados. Respondi sempre que não, que ele podia estar inocente como eu.
Depois do processo concluído falava-se que o Técnico de Educação esteve em França a passar oito dias de férias em casa dos pais do Didier. Assim como a pistola veio dentro de uma televisão destinada ao recluso Tedyboy. Mais tarde fez-se o espólio dos reclusos ao Tedyboy faltava-lhe certos valores entre os quais um casaco de antílope.
Nesse vai e vem continuava serenamente no meu serviço e um dia veio o recluso José Maria “ o Máquinas” dizer-me que tinha um abaixo-assinado de reclusos a provar a minha honestidade e dedicação ao serviço. Disse-lhe: - se tivessem consideração por mim que o rasgassem. Assim como o recluso Fernando “China” me disse - estava próximo da liberdade - que me deixava a sua direcção para ser minha testemunha. Que avisou o Chefe de Guardas do que estava a ser planeado e como recompensa foi mandado de castigo para o Pavilhão de Observação.
De facto, nesse dia foi armado um alvoroço no recreio de uma das Alas tendo-se dirigido para lá o Chefe de Guardas, o que era raro acontecer. Dificilmente ia à zona prisional.
Quando tomei conhecimento da conclusão do inquérito era o que esperava. Fui declarado inocente. O Chefe de Guardas aconselhado a pedir a reforma antecipada ou compulsiva. O guarda que prestava serviço na Lavandaria era onde prestavam serviço como faxinas, o Raul e o Didier, não tinham que estar na zona da Administração. Os guardas de serviço ao portão do Corpo Central e Administração foram multados numa pequena quantia em dinheiro. Para mim os dois, estavam inocentes, era assim que se desenrolava o serviço diariamente. O recluso Tedyboy todos os dias se dirigia ao Gabinete da Chefia da Guarda para levantar os jornais diários destinados à Biblioteca dos reclusos. Estava superiormente autorizado. Era ali faxina.
Continua

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