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segunda-feira, 24 de março de 2025

TESTEMUNHO DE UMA UCRANIANA. A viver em Portugal, com família em Donetsk:

 

“Os meus familiares dizem-me sempre que estão bem, mas eu sei que não é verdade. Custa-me muito porque eles estavam habituados à guerra, pois a guerra, na minha terra (Donetks) começou há 8 anos. Percebi que em geral, aqui no Ocidente, quase ninguém sabe ou já esqueceu como e quando começou a guerra. Vejo muita agressão verbal e muito veneno por todo o lado na internet, na televisão, nas manifestações. Eu pensei muito antes de escrever esta mensagem, mas decidi escrever já que para jornalistas e grandes profissionais da informação deveria ser possível ter uma visão do todo e nunca esquecer os factos e a história. Não queria acreditar nas coisas que li escritas no Facebook por amigos ucranianos. Eu não entro em discussões, mais custa-me muito assistir a isto...

Queria relembrar uma das faces da guerra que começou em 2014. Os fascistas depois de fazerem a Maindan (nome da Revolução ucraniana) em Kiev, percorreram todo o país, ocupando as cidades da Ucrânia e “trocando/assaltando/depondo” os governos locais. Nessas incursões (só um cheirinho de realidade local) submetiam a população, obrigando o povo local a ajoelhar-se diante das bandeiras com símbolos do fascismo.
Foi assim por toda a Ucrânia, quem não aderiu voluntariamente ao novo Governo, foi submetido à força e com recursos a símbolos fascistas. Na zona de Donetsk, o povo nem os deixou sair dos autocarros. Deram-lhes um grande “açoite” e expulsaram-nos da região. Foi nesta altura, depois e por causa deste conflito, que esta região foi apelidada pela Exército Ucraniano, de Separatistas. O povo desta região não se submeteu aos novos fascistas.
Entretanto, rebentou a guerra nesta zona, houve muitos ataques do exército ucraniano à zona, nomeadamente o bombardeamento do Aeroposto de Donietsk. Entretanto, por aqui em Portugal e no resto do mundo falava-se em conflito. Mas não era um conflito, era mesmo Guerra. Ao longo destes anos, foram atacados/bombardeados pelo Exército Ucraniano, Hospitais, Escolas e muitos alvos civis.
Morreram 14 mil ucranianos em 8 anos de guerra.
Saliento que eu tenho esta informação, não porque vi na TV (que como sabemos conta demasiadas vezes inverdades), mas porque os meus familiares estão lá e me contavam.
Muitos homens da minha cidade/terra pegaram em armas depois de assistirem à morte das suas crianças às mãos do exército ucraniano. E mulheres também. Tenho algumas fotos publicadas na altura em Grupos de Facebook locais da minha terra que podem confirmar (a quem estiver interessado) o que estou a dizer. São chocantes, mas para quem quer constatar a violência que se vive desde 2014 é essencial.
Fico muito surpreendida e chocada pela forma como ficou esquecido e arrumado numa prateleira da história, a vaga de atrocidades cometidas em Odessa em 2014. Também aqui, para tomarem à força a cidade, 50 pessoas foram queimadas vivas num edifício municipal de Odessa, crime, até hoje sem qualquer consequência. É assim que vive a minha família desde 2014.
Agora, diante desta nova fase, quando liguei para a minha família e para a minha irmã para saber como estavam, responderam-me: – “temos água, temos luz, temos comida, sabemos o que fazer se formos “muito” atacados (porque já sabem distinguir quando é realmente muito perigoso). Estamos habituados”. Chorei tanto !
Quando a guerra começou, o novo Governo começou a glorificar os ex-fascistas, como por exemplo o Stepan Bandera, que foi responsável pela chacina de populações inteiras e crianças ucranianas na altura de 2.ª guerra. Até vi no Facebook a primeira manifestação em frente à Assembleia de República uns rapazes a cantar o “Gloria de Bandera”.
Descrevo apenas factos e não manifesto nenhum tipo de apoio a nenhuma das partes. Mas pergunto-me quem começou esta guerra contra o próprio povo ? Quem mandou um exército para matar o próprio povo de Donbass ? Há 8 anos que estão a morrer civis pela mão do exército ucraniano.
Viram alguma notícia sobre isto nos últimos anos na TV portuguesa ?"
(via Sónia Vieira)

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