(António Gil, in Substack.com, 23/03/2025)

Se não podes vencer o teu rival, prende-o e impede-o de se candidatar.
Não é a primeira vez que Ekrem Imamoglu, ‘mayor’ de Istambul e figura popular da oposição turca, enfrenta acusações de ter praticado graves crimes (corrupção e terrorismo, dizem os acusadores).
Na verdade o mais famoso ‘crime’ do líder do Partido Republicano do Povo, (CHP), uma organização política laica, foi ter derrotado Erdogan em Istambul, nas eleições autárquicas de 2019. Alarmado, o actual presidente turco que dominou a capital por mais de um quarto de século e tinha ele mesmo começado sua carreira política como mayor da capital turca, não o deixou no cargo mais que 18 dias.
As eleições foram então anuladas, a pretexto de irregularidades e logo repetidas: pior a emenda que o soneto, Imamoglu venceu com margem ainda mais folgada. Em 2023, o Mayor voltou a vencer as mesmas eleições, com margem ainda mais folgada e foi preso, pela primeira vez. Sua condenação porém permitiu-lhe pena condicional e manter seu cargo.
Desde aí, a rota de colisão do autarca com o todo poderoso Erdogan tornou-se inevitável. Agravando tudo, o empresário (53 anos) e político, anunciou sua intenção de se candidatar à presidência turca, submetendo-se a eleições primárias no seu partido.
Erdogan já enfrentava o enorme descontentamento de seu povo, motivado pela desvalorização da moeda turca e pela inflação galopante e o anúncio da intenção de Ekrem Imamoglu de se candidatar à presidência de imediato o catapultou nas sondagens de intenções de voto.
Acresce que Erdogan não é propriamente um novato no duvidoso talento de reprimir e prender opositores. O seu infame historial conta, entre outras façanhas, com a prisão de várias pessoas, incluindo académicos, escritores, jornalistas, activistas e personalidades políticas.
Neste caso, o líder do CHP viu sua casa invadida por agentes policiais mas não esteve só nisso: como também aconteceu na Roménia, centenas de seus mais notórios apoiantes tiveram o mesmo ‘tratamento’.
É caso para dizer, com sarcasmo, que a actuação de Erdogan e seus esbirros é um claro sinal que ele envia à União Europeia de que a Turquia segue à risca suas políticas ‘democratas’, pelo que não se entende por que razão o país ainda não foi admitido na agremiação.
Erdogan demonstrou que tal como Ursula Van der Leyen uma vez afirmou – na altura das eleições italianas, creio – ele possui as ferramentas para impedir resultados eleitorais não desejados.
O ainda presidente turco tinha de resto ainda muitas vantagens sobre seu rival: a imprensa, largos sectores do funcionalismo público e do exército, os fiscalizadores de resultados eleitorais (os que contam os votos).
O facto de apesar disso tudo ter recorrido à prisão do seu rival é talvez o mais sério sinal de fraqueza que poderia ter fornecido ao país. Os turcos sentiram esse cheiro a medo e querem aproveitar a oportunidade para se livrarem do seu ‘homem forte’ de uma vez por todas.
Fonte aqui.
Do blogue Estátua de Sal
Sem comentários:
Enviar um comentário