Um teste ao vírus salazarista deu
positivo num membro da recém-eleita comissão executiva do CDS. Deve ser um
vírus duma estirpe particularmente resistente, tendo sobrevivido aparentemente
inactivo e silencioso desde 1974. Estava talvez adormecido, à espera do momento
ideal para aparecer.
Com efeito, não há registo de que
um dirigente do partido fundado por Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa
tenha alguma vez cantado loas a Salazar, elogiado a PIDE como “a melhor polícia
do mundo” e negado que ela torturou presos políticos. Também nunca se tinha
imaginado que um dirigente do CDS pudesse alguma vez chamar “agiota de judeus”
a Aristides Sousa Mendes.
Perante a recente revelação
dessas e outras afirmações “ofensivas da memória democrática do CDS”, o
ex-drigente centrista António Pires de Lima tinha exigido uma posição clara do
recém-eleito presidente Francisco Rodrigues dos Santos, vulgo Chicão. Mas este
não estava para aí virado. A comissão executiva a que preside veio em coro
defender o autor das tais afirmações, Abel Matos Santos, com o argumento de que
ele entretanto já se tinha “distanciado do rótulo ignóbil que lhe quiseram
colar”. Note-se que o “rótulo ignóbil” em questão não era o de defensor de
Salazar e da PIDE, pois Matos Santos apenas se demarcou publicamente do
anti-semitismo e só o fez depois de a
comunidade israelita de Lisboa lhe ter caído em cima.
A comissão executiva do CDS
sustentou que esta questão apenas surgiu para prejudicar o CDS, pois se tinham
ido buscar “afirmações antigas” de Matos Santos, “algumas com mais de 10 anos”.
Ora a boca do “agiota de judeus” foi realmente publicada no facebook do
indivíduo em 2012 e nenhuma das outras afirmações em causa tinha mais de 10
anos, tendo algumas apenas 4 ou 5 anos, quando o indivíduo já pertencia a outro
órgão dirigente do CDS. Respigo dos jornais:
“Viva Salazar! E ele vive mesmo!
Façam o que fizerem, mudem o nome da ponte que ele fez, apaguem nomes de ruas,
mintam sobre ele, façam o que fizerem, nunca conseguirão apagar a sua memória e
o seu vasto legado! Foi, sem dúvida alguma, um dos maiores e melhores
portugueses de sempre!” – Facebook, 27 de Julho de 2015.
A PIDE era “uma das melhores
polícias do mundo”, que só provocaria problemas “aos comunistas e àqueles que
atentavam contra a segurança do Estado” e “muito bem” – 27 de Julho de 2015.
“Quais torturas?” (ainda sobre as
práticas da PIDE) – 27 de Julho de 2015.
“Mas o que comemoram eles? Háaa,
já sei, é a Liberdade… A liberdade de abortar, de mudar de sexo de manhã e à
tarde, de usar crianças de modo egoísta para satisfação de ideologias e
projectos pessoais… (…) É isto tudo que hoje se comemora em Portugal! Um país
outrora pluricontinental e plurirracial, hoje pluriendividado!” (a propósito do
“dia de lavagem cerebral”) – 25 de Abril de 2016.
“A questão é: Era preciso uma
Revolução? O país crescia mais de seis pontos percentuais por ano, a guerra do
Ultramar estava ganha, havia emprego e estabilidade, Portugal era reconhecido
internacionalmente, tudo estava calmo!” – Abril de 2010.
O Chicão nada fez para afastar
este salazarista confesso da comissão executiva ou distanciar-se dele, apesar
de o conhecer bem pessoalmente. Como o tinha metido na comissão executiva, não
quis confessar e provar que tinha feito asneira. Ainda assim, Matos Santos teve
o bom senso de demitir-se de dirigente, livrando o CDS do rótulo ignóbil que
ele próprio lhe estava a colar. O vírus é que se calhar ainda por lá ficou…
Do blogue Aspirina B
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