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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O acordar de um vírus adormecido:


Um teste ao vírus salazarista deu positivo num membro da recém-eleita comissão executiva do CDS. Deve ser um vírus duma estirpe particularmente resistente, tendo sobrevivido aparentemente inactivo e silencioso desde 1974. Estava talvez adormecido, à espera do momento ideal para aparecer.

Com efeito, não há registo de que um dirigente do partido fundado por Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa tenha alguma vez cantado loas a Salazar, elogiado a PIDE como “a melhor polícia do mundo” e negado que ela torturou presos políticos. Também nunca se tinha imaginado que um dirigente do CDS pudesse alguma vez chamar “agiota de judeus” a Aristides Sousa Mendes.

Perante a recente revelação dessas e outras afirmações “ofensivas da memória democrática do CDS”, o ex-drigente centrista António Pires de Lima tinha exigido uma posição clara do recém-eleito presidente Francisco Rodrigues dos Santos, vulgo Chicão. Mas este não estava para aí virado. A comissão executiva a que preside veio em coro defender o autor das tais afirmações, Abel Matos Santos, com o argumento de que ele entretanto já se tinha “distanciado do rótulo ignóbil que lhe quiseram colar”. Note-se que o “rótulo ignóbil” em questão não era o de defensor de Salazar e da PIDE, pois Matos Santos apenas se demarcou publicamente do anti-semitismo  e só o fez depois de a comunidade israelita de Lisboa lhe ter caído em cima.

A comissão executiva do CDS sustentou que esta questão apenas surgiu para prejudicar o CDS, pois se tinham ido buscar “afirmações antigas” de Matos Santos, “algumas com mais de 10 anos”. Ora a boca do “agiota de judeus” foi realmente publicada no facebook do indivíduo em 2012 e nenhuma das outras afirmações em causa tinha mais de 10 anos, tendo algumas apenas 4 ou 5 anos, quando o indivíduo já pertencia a outro órgão dirigente do CDS. Respigo dos jornais:

“Viva Salazar! E ele vive mesmo! Façam o que fizerem, mudem o nome da ponte que ele fez, apaguem nomes de ruas, mintam sobre ele, façam o que fizerem, nunca conseguirão apagar a sua memória e o seu vasto legado! Foi, sem dúvida alguma, um dos maiores e melhores portugueses de sempre!” – Facebook, 27 de Julho de 2015.
A PIDE era “uma das melhores polícias do mundo”, que só provocaria problemas “aos comunistas e àqueles que atentavam contra a segurança do Estado” e “muito bem” – 27 de Julho de 2015.
“Quais torturas?” (ainda sobre as práticas da PIDE) – 27 de Julho de 2015.
“Mas o que comemoram eles? Háaa, já sei, é a Liberdade… A liberdade de abortar, de mudar de sexo de manhã e à tarde, de usar crianças de modo egoísta para satisfação de ideologias e projectos pessoais… (…) É isto tudo que hoje se comemora em Portugal! Um país outrora pluricontinental e plurirracial, hoje pluriendividado!” (a propósito do “dia de lavagem cerebral”) – 25 de Abril de 2016.
“A questão é: Era preciso uma Revolução? O país crescia mais de seis pontos percentuais por ano, a guerra do Ultramar estava ganha, havia emprego e estabilidade, Portugal era reconhecido internacionalmente, tudo estava calmo!” – Abril de 2010.

O Chicão nada fez para afastar este salazarista confesso da comissão executiva ou distanciar-se dele, apesar de o conhecer bem pessoalmente. Como o tinha metido na comissão executiva, não quis confessar e provar que tinha feito asneira. Ainda assim, Matos Santos teve o bom senso de demitir-se de dirigente, livrando o CDS do rótulo ignóbil que ele próprio lhe estava a colar. O vírus é que se calhar ainda por lá ficou…

Do blogue Aspirina B




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