O julgamento sobre o armamento
furtado nos paióis de Tancos tem sido revelador sobre o estado da Justiça em
Portugal, particularmente quanto à prioridade estabelecida pelo ministério
público e pelo juiz Carlos Alexandre quanto à meteria de facto. Para o comum
dos mortais o que deveria estar em questão era a autoria do planeamento e
execução do roubo e ser esse o foco da investigação e condenação. De relevância
menor seria a forma como a Polícia Judiciária Militar assegurou a recuperação
desse armamento, dando prioridade a esse objetivo, mesmo que utilizando o
diálogo com os culpados e a promessa do seu encobrimento como recurso decidido
em cima do momento.
É claro que Joana Marques Vidal e
os que ela comandava, com continuada intenção ideológica, decidiram virar a
questão ao contrário, minimizando a importância do roubo e focalizando-se na
estratégia, que pudesse pôr em causa o ministro da Defesa em particular, e o
governo no seu todo. Em ano de eleições um caso desta natureza poderia ter o
efeito produzido pelos que, a partir de 2013, com o caso Sócrates, garantiu a
Passos Coelho um suficiente apoio eleitoral para alegar ter «ganho» as
eleições.
Esse grupo que se tem servido do
ministério público para combater o governo, de mãos dadas com o grupo Cofina,
que lhe vai servindo de altifalante através dos seus pasquins e canal televisivo, sabia que apostando na
possibilidade de ver potenciada a narrativa em causa com algum grande incêndio
durante o verão, alcançaria os seus objetivos.
Não o conseguiu, porque as equipas comandadas por Eduardo Cabrita no
Ministério e na Proteção Civil lhes sonegaram as fúteis esperanças, mas
poderemos sempre conjeturar até que ponto o massacre noticioso sobre o sucedido
em Tancos não terá condicionado ainda assim a votação no Partido Socialista,
diminuindo-a o suficiente para que não dessem o esforço como inglório.
Por ora passaram o testemunho a
Carlos Alexandre na expetativa de o verem a agir de acordo com a sua própria
agenda política que, no essencial, coincidirá com os seus propósitos. Por estes
dias não faltam emproados farsantes dispostos a manterem em lume brando a
questão de verem o poder executivo submetido ao judicial através da inaceitável
exigência do testemunho presencial de António Costa no Tribunal de Monsanto. E
quase não se ouvem as vozes de quem olha para a Constituição e constata que os
três poderes nela consagrados são independentes entre si, não devendo haver de
modo algum a submissão de um deles aos outros dois. Muito menos a juízes ou
magistrados, que nunca se sujeitaram ao voto popular para exercerem as suas
funções e dele recolherem a devida legitimidade...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

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