A condenação do Estado Português
pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que fundamenta o pagamento de uma
indemnização aos pais dos que morreram durante uma praxe estúpida e trágica na
praia do Meco, suscita-me o desagrado de ter de contribuir com os meus impostos
para ressarcir os queixosos do disfuncionamento do ministério público na pessoa
do procurador, que terá liderado a investigação do caso. Mas a reação tende a
suavizar-se perante a ambígua legitimidade de quem não teve na Justiça a
resposta para a necessidade de encontrar alguém a culpabilizar pela morte dos
filhos que, em última análise, terão sido os principais responsáveis por
aceitarem de bom grado a armadilha para que foram conduzidos.
Reconheço que a Lusófona
eximiu-se de quaisquer culpas com alguma agilidade argumentativa, que se
assemelhou demais à lógica de “sacudir a água do capote” ou que o tal Dux (nome
curioso pela semelhança óbvia com o epíteto escolhido por Mussolini para se
autodesignar!) terá para o resto da vida a carga moral dessas seis mortes, só
se lhe desejando que a consciência lhe seja pesada, mas nenhuma Justiça
conseguirá devolver à vida quem a desperdiçou de forma tão irresponsável.
Se na altura pensei que o caso
bastaria para acabar definitivamente com as praxes, é grande a desilusão por
constatar que assim não foi. Todos os anos lá vemos cortejos de gente
apalhaçada em fardas, que significam a formatação das mentes a formas de pensar
abjetas, e uns quantos macaquinhos a sujeitarem-se aos ditames de uns sádicos,
deleitados com a sua humilhação.
Contestável tem também sido o
comportamento de quem deveria ter começado rápida investigação sobre a morte do
jovem cabo-verdiano em Bragança e o não fez. A Polícia Judiciária queixa-se,
com inteira razão, de só ter sido incumbida do caso mais de dez dias depois da
sua ocorrência, associando-se essa informação à oposição da PSP local a que a
família de Giovani formalizasse a queixa no próprio dia, a pretexto de caber ao
agredido - mesmo em coma - o exclusivo “direito” de o fazer. E também aos
outros jovens, agredidos na ocasião, terá instado a que não o fizessem.
Aí está uma boa matéria, que
deveria interessar o ministério público, em vez de continuar cingido à agenda
ideológica que tem motivado alguns dos seus membros: clarificar que estranhos
interesses justificaram essa escusa a uma investigação que, segundo a crónica
de Luís Aguiar-Conraria, hoje no «Público», se limitou à emissão de “um comunicado cheio de buracos,
em que nem ficamos a perceber se mais algum grupo de pessoas foi agredido nessa
noite.”
Publicada por jorge rocha

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