Um mestre georgiano fez batota num torneio de xadrez. Entre duas
jogadas, Gaioz Nigalidze foi à casa de banho e consultou o programa de xadrez
do seu telemóvel. Fazer batota no xadrez deve ser comum, como em todos os jogos
humanos. Alguma mezinha haverá que potencia a desumana memória dos grandes
mestres. Já para não falar nos golpes baixos: o olhar maluco de Bobby Fischer
atemorizou mais do que um adversário. Aliás, Nigalidze jogava contra Tigran
Petrosian, bicampeão arménio, quando fingiu dores de barriga. Ora este Tigran
Petrosian tem um homónimo, morto há 30 anos, ex-campeão mundial (e único
xadrezista que ganhou um jogo a Fischer). Não é pressão batoteira usar um nome
tão poderoso? Mas o truque do georgiano ilustra a chegada do xadrez à batota
para lá do uso de drogas ou truques psicológicos. Há dias, soube-se das
suspeitas dos organismos do ciclismo mundial sobre os minimotores nas
bicicletas de corrida. Um bom programa de xadrez ganha a qualquer campeão, num
desporto em que no mundo só 20 ficam ricos a praticá-lo. Logo, haverá mais
casos iguais ao do batoteiro georgiano. Na sua última novela, O Xadrezista, o
exilado Stefan Zweig conta a história do amador de xadrez que, preso pela
Gestapo, memorizou grandes jogadas. Mais tarde, o ex-prisioneiro, porque só
jogava por diversão, recusou uma vitória certa contra um campeão nazi. Mas só
em literatura se joga por diversão. Duas semanas depois de O Xadrezista, Zweig
suicidou-se.
Ferreira Fernandes
No DN de hoje
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