A grande fraude
Os dados recentemente divulgados pelo Banco de Portugal sobre a dívida
pública revelam que esta entrou numa espiral, aparentemente, incontrolável. Com
efeito, no final do primeiro semestre deste ano a dívida ultrapassou o nível
recorde de 214 500 000 de euros (duzentos e catorze mil e quinhentos milhões de
euros), o que corresponde a 131,4% do nosso PIB (produto interno bruto).
Sublinhe-se que em dezembro de 2012 o total da dívida correspondia a 123,8% do
PIB e que em março já era superior a 127%.
De salientar ainda que esse agravamento aumentou de forma incomportável
para um país como Portugal - pobre e sujeito a medidas de austeridade que
tornam ainda mais insustentável e incompreensível esse progressivo endividamento.
Só nos primeiros seis meses de 2013 a dívida pública cresceu a um ritmo
superior a 67 milhões de euros por dia, ou seja, por cada dia que passou
acrescentou-se mais de 67 milhões de euros ao seu total acumulado, enquanto em
2012 o agravamento era de 53,6 milhões de euros por dia. Esta situação revela
que, no mínimo, são levianas as promessas de superação da crise que têm sido
feitas aos portugueses pelos atuais governantes e por alguns dos seus
seguidores. Por isso, torna-se inevitável a pergunta: a dívida pública teria
crescido tanto, em relação ao PIB, se tivesse sido adotada uma política
diferente da que foi seguida pelo Governo do PSD e do CDS, ou seja, uma
política de expansão da economia, com forte investimento público e sem
empobrecimento deliberado da classe média? Sejamos ainda mais incisivos: este
aumento da dívida pública ocorreu apesar das medidas de austeridade ou,
justamente, por causa das medidas de austeridade? É óbvio que as respostas a
estas perguntas dificilmente se conterão nos parâmetros de rigor próprios da
ciência económica e financeira e, facilmente, resvalarão para o terreno
movediço da mentira e da demagogia políticas. Mas nem por isso deixa de ser
pertinente (quase diria premente) perguntar: como é possível este progressivo endividamento
do país quando todo o discurso público do Governo (e dos partidos que o
constituem) nos garantia que os sacrifícios impostos ao povo português,
sobretudo aos mais desfavorecidos, seriam a única via para nos libertarmos dos
grilhões asfixiantes da própria dívida?
O grande responsável pela política financeira do Governo era o anterior
ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que bateu estrondosamente com a porta
cansado que estava de esperar que o substituíssem na nave de loucos em que se
transformara o Governo. E o que nos deixa perplexos nem é tanto a forma
espalhafatosa como ele abandonou o Executivo, divulgando ao país a carta de
demissão que acabava de enviar ao primeiro-ministro. O que verdadeiramente
espanta é que ele tenha saído sozinho como se mais ninguém tivesse a ver com a
política de austeridade do Governo. Por isso, novas interrogações se nos
deparam: se a política seguida pelo Governo era correta e estava em vias de dar
os seus benfazejos resultados, por que é que o seu principal responsável não
esperou para colher ele próprio os bons frutos dos sacrifícios que impusera ao
povo português? Por que é que, estando em vias de alcançar os tão desejados
leite e mel da sua árdua caminhada ele desertou, precisamente quando as
trombetas do próprio Governo já anunciavam que a terra prometida estava à
vista? Algo está muito mal contado nesta história. Ou estamos perante um homem
que foge do seu próprio triunfo ou então perante uma gigantesca fraude política
como não há memória na história da República.
O mais certo é estarmos perante uma burla continuada ao povo português que, entre outros efeitos, conduziu à entronização do setor mais aventureiro e oportunista do próprio bloco do poder. Uma coisa é certa: a saída do antigo ministro das Finanças possibilitou a ascensão de pessoas pouco recomendáveis devido aos escândalos em que estão envolvidos. Algumas delas têm (senão as mãos, pelo menos) as reputações manchadas pela suspeita de recebimento de luvas em aquisições de equipamentos para o Estado, por swaps fraudulentos em empresas públicas e pela fuligem de negociatas leoninas com o BPN.
O mais certo é estarmos perante uma burla continuada ao povo português que, entre outros efeitos, conduziu à entronização do setor mais aventureiro e oportunista do próprio bloco do poder. Uma coisa é certa: a saída do antigo ministro das Finanças possibilitou a ascensão de pessoas pouco recomendáveis devido aos escândalos em que estão envolvidos. Algumas delas têm (senão as mãos, pelo menos) as reputações manchadas pela suspeita de recebimento de luvas em aquisições de equipamentos para o Estado, por swaps fraudulentos em empresas públicas e pela fuligem de negociatas leoninas com o BPN.
Ha ladroes que têm o pais todo contra eles; outros ha que têm metade dos portugueses do lado deles e isto é altamente confrangedor.
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