Chegados da operação tivemos de ir a Quicabo por uma questão de
serviço. Fui chamado ao alferes Capelão, era seleccionador e treinador da
equipa do batalhão, para justificar a minha ausência no estágio. Disse-lhe que
era um simples soldado a quem devia de ser perguntado era ao comandante da
companhia. Já não segui para Balacende.
Como era o rádio telefonista, tive de explicar ao furriel que comandava
o pelotão, como funcionava o rádio TR28 e os indicativos da rede rádio caso no
regresso precisasse de comunicar assim como mandei a G3. Ia ficar uns dias e
tinha receio que me roubasse alguma peça. Este receio era derivado a que me
tinham roubado o tapa-chamas e tinha que o pagar. Como estávamos prestes a
acabar o serviço militar, a quem falta material para não ter que o pagar,
dedica-se a roubar o dos companheiros.
Nesses dias treinamos e no domingo, dia onze de Março de mil novecentos
e setenta e três, realizou-se o jogo entre o nosso Batalhão e o Batalhão 3840.
O resultado foi de um a um.
Tive de ficar o dia doze e no dia treze ia uma coluna de Quicabo para
Balacende. Pedi para me incorporarem nesse transporte. Disseram-me para
aguardar que no outro dia de manhã ia numa outra coluna. Fui ter com o alferes
Capelão, disse-lhe que neste dia a minha namorada -hoje minha esposa - fazia
anos e queria escrever e mandar-lhe uma prenda. Por isso precisava nesse dia de
regressar. O que me foi autorizado.
No dia catorze levantei-me cedo. Tomei o pequeno-almoço e fui até ao
posto de rádio onde estava de serviço o soldado Alves, chamávamos-lhe
(voluntário), era mais novo que nós dois anos. Ouve-se através do rádio, mas
muito baixo, alguém a comunicar e ninguém respondia. Ao que eu disse: - Alves
está um posto de rádio a chamar e ninguém lhe responde. Disse-me que não ouvia.
De imediato peguei no microfone e comecei a chamar. Ao posto que se
encontra no ar informe o seu indicativo pausadamente condições audíveis
bastantes difíceis. De repente ouvi melhor. Pedia ajuda rápida. Tinham caído
numa emboscada. Perguntei-lhe qual a localização em que se encontravam ao que
respondeu ser entre Quicabo e Balacende na zona das antigas sete curvas.
Estava um pelotão prestes a partir com os trabalhadores da J.A.E.A.
disse ao furriel que comandava o pelotão para irem em auxílio de uma coluna de
soldados que tinham caído numa emboscada. Para irem com cuidado que não sabia a
localização ao certo. Disse ao rádio telefonista para levar o rádio em escuta
permanente para saber o que se ia passando.
O meu posto rádio continuou a fazer “de posto rádio em trânsito” uma
vez que o posto director era Quicabo e como não havia condições climatéricas
competíamo-nos tomar esse lugar.
De manhã quase sempre nos víamos com estas dificuldades - diziam os
entendidos - que eram devido a ser zona de minério.
As condições tinham melhorado. O nosso pelotão tinha chegado à zona da
emboscada e tinha disparado uns morteiros tendo o inimigo se retirado.
Fez-se o balanço. Do nosso lado tinha morrido um furriel, três soldados
e dois civis e o soldado condutor auto-rodas Damas, dado como desaparecido
assim como o soldado, também condutor auto-rodas, Lobo ferido num braço. Era
uma coluna que tinha levado trabalhadores da J. A. E. A. a Balacende para
efectuaram trabalhos. Do lado do inimigo, mais tarde soubemos, que foi para
comemorar o aniversário da U. P. A. (União Povos Angolanos) “catorze de Março”.
Tiveram várias baixas.
Foi pedido ao comando em Luanda, meios aéreos, que prontamente bateu
toda a área mas não se encontrou nenhuma vivalma. Era como disse atrás. Parecia
que havia esconderijos subterrâneos.
Viemos a verificar que a emboscada tinha sido bem planeada. Na entrada
e saída da zona da emboscada tinham metralhadoras. À medida que as nossas
viaturas iam entrando nessa zona era feito fogo cruzado. O furriel foi o
primeiro a tombar. Seguia na primeira viatura. Os soldados que compunham essa
viatura assim como outras que também entraram nessa zona saltaram das viaturas
para as valetas da estrada cobertas de ervas e arbustos. Quando ali chegavam
estava um grupo de assalto com catanas. Além do azar podemo-nos dar por felizes
porque as viaturas não entraram todas na zona da emboscada e assim puderam
ripostar ao fogo do inimigo e comunicar via rádio a pedir auxílio.
Há quem não goste dos dias treze. Sinto um grande carinho. E... se for
o de Março ainda mais.
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