Rádio Freamunde

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Selecção de futebol do Batalhão:

Chegados da operação tivemos de ir a Quicabo por uma questão de serviço. Fui chamado ao alferes Capelão, era seleccionador e treinador da equipa do batalhão, para justificar a minha ausência no estágio. Disse-lhe que era um simples soldado a quem devia de ser perguntado era ao comandante da companhia. Já não segui para Balacende.
Como era o rádio telefonista, tive de explicar ao furriel que comandava o pelotão, como funcionava o rádio TR28 e os indicativos da rede rádio caso no regresso precisasse de comunicar assim como mandei a G3. Ia ficar uns dias e tinha receio que me roubasse alguma peça. Este receio era derivado a que me tinham roubado o tapa-chamas e tinha que o pagar. Como estávamos prestes a acabar o serviço militar, a quem falta material para não ter que o pagar, dedica-se a roubar o dos companheiros.
Nesses dias treinamos e no domingo, dia onze de Março de mil novecentos e setenta e três, realizou-se o jogo entre o nosso Batalhão e o Batalhão 3840. O resultado foi de um a um.
Tive de ficar o dia doze e no dia treze ia uma coluna de Quicabo para Balacende. Pedi para me incorporarem nesse transporte. Disseram-me para aguardar que no outro dia de manhã ia numa outra coluna. Fui ter com o alferes Capelão, disse-lhe que neste dia a minha namorada -hoje minha esposa - fazia anos e queria escrever e mandar-lhe uma prenda. Por isso precisava nesse dia de regressar. O que me foi autorizado.
No dia catorze levantei-me cedo. Tomei o pequeno-almoço e fui até ao posto de rádio onde estava de serviço o soldado Alves, chamávamos-lhe (voluntário), era mais novo que nós dois anos. Ouve-se através do rádio, mas muito baixo, alguém a comunicar e ninguém respondia. Ao que eu disse: - Alves está um posto de rádio a chamar e ninguém lhe responde. Disse-me que não ouvia.
De imediato peguei no microfone e comecei a chamar. Ao posto que se encontra no ar informe o seu indicativo pausadamente condições audíveis bastantes difíceis. De repente ouvi melhor. Pedia ajuda rápida. Tinham caído numa emboscada. Perguntei-lhe qual a localização em que se encontravam ao que respondeu ser entre Quicabo e Balacende na zona das antigas sete curvas.
Estava um pelotão prestes a partir com os trabalhadores da J.A.E.A. disse ao furriel que comandava o pelotão para irem em auxílio de uma coluna de soldados que tinham caído numa emboscada. Para irem com cuidado que não sabia a localização ao certo. Disse ao rádio telefonista para levar o rádio em escuta permanente para saber o que se ia passando.
O meu posto rádio continuou a fazer “de posto rádio em trânsito” uma vez que o posto director era Quicabo e como não havia condições climatéricas competíamo-nos tomar esse lugar.
De manhã quase sempre nos víamos com estas dificuldades - diziam os entendidos - que eram devido a ser zona de minério.
As condições tinham melhorado. O nosso pelotão tinha chegado à zona da emboscada e tinha disparado uns morteiros tendo o inimigo se retirado.
Fez-se o balanço. Do nosso lado tinha morrido um furriel, três soldados e dois civis e o soldado condutor auto-rodas Damas, dado como desaparecido assim como o soldado, também condutor auto-rodas, Lobo ferido num braço. Era uma coluna que tinha levado trabalhadores da J. A. E. A. a Balacende para efectuaram trabalhos. Do lado do inimigo, mais tarde soubemos, que foi para comemorar o aniversário da U. P. A. (União Povos Angolanos) “catorze de Março”. Tiveram várias baixas.
Foi pedido ao comando em Luanda, meios aéreos, que prontamente bateu toda a área mas não se encontrou nenhuma vivalma. Era como disse atrás. Parecia que havia esconderijos subterrâneos.
Viemos a verificar que a emboscada tinha sido bem planeada. Na entrada e saída da zona da emboscada tinham metralhadoras. À medida que as nossas viaturas iam entrando nessa zona era feito fogo cruzado. O furriel foi o primeiro a tombar. Seguia na primeira viatura. Os soldados que compunham essa viatura assim como outras que também entraram nessa zona saltaram das viaturas para as valetas da estrada cobertas de ervas e arbustos. Quando ali chegavam estava um grupo de assalto com catanas. Além do azar podemo-nos dar por felizes porque as viaturas não entraram todas na zona da emboscada e assim puderam ripostar ao fogo do inimigo e comunicar via rádio a pedir auxílio.
Há quem não goste dos dias treze. Sinto um grande carinho. E... se for o de Março ainda mais.

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