De quinze em quinze dias recebíamos o M.V.L. (movimento de viaturas de
Luanda). As viaturas eram alugadas e protegidas pela tropa no seu percurso. Ao
todo iam quase sempre umas cem incluindo as militares. Saíam de Luanda
carregadas com víveres. Bebidas e tabaco para distribuir pelos quartéis que
estavam isolados na mata. O itinerário era de Luanda a Zala.
Como eram as Picadas
Sabia bem receber a visita do M.V.L., além do que traziam para o
depósito de géneros e bar. Era um dia diferente! Revíamos soldados amigos,
víamos civis que iam para outras povoações - só desta maneira se podiam
deslocar - alguns do sexo feminino. Era considerada zona operacional cem por
cento.
Os problemas que causavam na época da chuva
Rádio Telefonistas da Companhia (3341)
Certo dia e numa visita do M.V.L. ouço uma voz para mim inconfundível
de uma pessoa a subir a rampa de acesso à nossa parada. A discutir por que
razão os soldados que estavam a seu cargo não podiam entrar no quartel. Era o
capitão miliciano Nunes, meu patrício, tínhamos estado juntos no C. I. C. A. 1,
nessa altura era tenente miliciano.
Foi-lhe dito por um alferes - o capitão estava ausente - que o facto de não entrarem se devia a que os soldados iam para o bar consumiam bebidas compravam tabaco e depois fazia-nos falta até ao próximo M. V. L. Aconteceu várias vezes nos faltar a cerveja e tabaco e o M.V.L. ainda demorava uns dias. Parecíamos uns doidos principalmente com a falta do tabaco.
Foi-lhe dito por um alferes - o capitão estava ausente - que o facto de não entrarem se devia a que os soldados iam para o bar consumiam bebidas compravam tabaco e depois fazia-nos falta até ao próximo M. V. L. Aconteceu várias vezes nos faltar a cerveja e tabaco e o M.V.L. ainda demorava uns dias. Parecíamos uns doidos principalmente com a falta do tabaco.
Perguntou se me encontrava bem e quem era o comandante da companhia?
Disse-lhe que era o capitão Lofhren Rodrigues ao que me respondeu. É esse
sacana! Mais tarde vim a saber por que motivo o apelidou assim. Tinham sido
alferes milicianos no quartel de Engenharia 2, no Porto e eram bastante amigos.
Muitas vezes dizemos que o mundo é imenso! Em certas alturas parece pequeno e
encontramo-nos com relativa facilidade.
Era normal passado um ano, os batalhões serem transferidos para outros
sítios geralmente menos perigosos e em localidades com população. Como não
fomos o capitão conseguiu através do comandante do batalhão a ida de duas vezes
por semana a uma praia, ficava em zona operacional, não era frequentada por
ninguém. Ficava entre o Caxito e Ambriz a uma distância de cento e cinquenta
quilómetros de Balacende.
No princípio ia um pelotão de cada vez, com um enfermeiro, um rádio
telefonista e um cozinheiro. Levávamos uma viatura com arca frigorífica e os
respectivos géneros alimentícios assim como frango para o churrasco. Em vinte e
oito de Janeiro de mil novecentos e setenta e três, três soldados estiveram a
morrer afogados. Este dia ficou-me sempre na memória. Fiz vinte e quatro anos
de idade. A partir daí começamos a perder o ânimo e acabamos por não mais lá
voltar.
Como sempre íamos recebendo correio do Puto, (Portugal) nele vinha as
notícias e de vez em quando fotografias dos nossos familiares. Víamos as
modificações que neles se operaram. Era o segundo filho de uma família de dez.
Quando saí deixei irmãos de tenra idade e como estavam modificados.
A minha irmã mais nova (quando parti tinha dois anos) cada vez estava
mais bonita. Não era defeito dos meus olhos nem favorecimento das fotografias,
para mais nesse tempo, eram a preto e branco, a cores eram muito caras. Era e
ainda continua bonita. Também mandava algumas o nosso fotógrafo era o Isaltino
Morais.
Em Santa Margarida o capitão perguntou se havia algum fotógrafo. Ao
que o Isaltino respondeu que tinha uma certa queda. Foi mandado para casa com a
condição de se aperfeiçoar para ficar a ser o fotógrafo da companhia.
Mais tarde teve complicações com o capitão por causa das fotografias.
Veio uma ordem para se seleccionar um soldado para ir prestar serviço na Casa
de Reclusão em Luanda. O capitão mandou o Isaltino e pôs outro a fotógrafo. As
fotografias perderam qualidade. Não tirei mais nenhuma.
O Isaltino voltou passado uns tempos, vinha mais qualificado no que
respeita a fotógrafo. Passou a tirar fotografias por passatempo. Ainda as
guardo no meu álbum e de vez em quando vou matar saudades. Hoje ouço falar nele
pelos piores motivos. Mas quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.Continua
Este camião atolado na lama, faz-me lembrar o dia em que vindos de Ambrizete, com destino a Nambu. algumas viaturas atolaram-se antes de chegarmos à Beira-Baixa, e ai passamos a noite toda. Gostaria de a inserir no meu blogue, se para isso me autorizarem. Obrigado. Abraço a todos os que passaram pela região.
ResponderEliminarCaro AL, o que está exposto no meu blogue é pertença de todos. O que precisar faça uso. Entendo que devemos dar conhecimento da vida vivida nos melhores anos da nossa vida. É por isso que resolvi dar conhecimento do dia a dia da Companhia 3341 do Batalhão de Caçadores 3838. Sem espírito de saudosismo e sem vergonha de dever cumprido.
EliminarCumprimentos
Obrigadissimo, Prezado irmao de armas.
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