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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Concurso. Guarda Principal:


Foi aberto concurso para Guarda Principal não era para concorrer. O Subchefe de Guardas, Borges, - excelente profissional e pessoa - insistiu para eu concorrer até queria pagar os impressos. Concorri, tive classificação de muito bom, era novo no serviço, tive de esperar pela vaga. Quando fui promovido alguns guardas ficaram com inveja. Neguei-me à promoção. O Director Eugénio Coelho disse-me que estava sujeito a um processo disciplinar.

E. P. Tires

Passado pouco tempo abriu concurso para Subchefe de Guardas ao qual concorri. Fiz provas escritas e físicas, fiquei bem classificado e em 1987 fui frequentar o curso para Tires. Ficamos instalados num edifício que foi uma cadeia. Dormíamos em celas, tínhamos que fazer todo o tipo de faxina: limpar os quartos de banho, lavar a louça, incluindo pratos e panelas, pôr e retirar a comida, limpar os corredores, tirar as ervas, cortar relva e limpar os jardins. Nunca vi coisa assim.
Faltava pouco para terminar o curso, um Técnico Superior de Vigilância, que nos dava instruções para defesa das instalações, resolveu dar-nos um exercício com o lançamento de gás lacrimogéneo, tínhamos viseiras, mas faltava os filtros de ar para podermos respirar e aqui inalei bastante gás lacrimogéneo. Julguei morrer abafado - não queiram passar por esta experiência. Estas situações dão-nos as mais díspares reacções e a que me deu foi de abandonar o curso. Fui impedido pela maioria dos meus colegas. Faço estes reparos porque nos impusemos e a partir daí, todos os cursos ministrados quer de Subchefes ou Guardas não foram mais assim.
Estive um ano à espera de ser promovido. Nesse tempo desempenhei funções de Graduado de Serviço. Um dia o recluso Mário da Luz, de origem Cabo-verdiana, foi punido com oito dias de cela habitação a cumprir no Pavilhão de Observação. É um pavilhão destinado a castigos mais graves. Foi incumbido o Subchefe de Guardas, Godinho, para lhe ler a ordem de serviço e levá-lo para o dito pavilhão. Acompanhava-o nessa diligência mais os guardas Américo Santos e Afonso. Após lhe ter sido lido a ordem de serviço e de ser dito para preparar os haveres que podia levar, de um momento para o outro puxou de uma faca que tinha na manga do surrobeco (espécie de samarra) e desferiu dois golpes, um no cachaço, outro no abdómen, do Subchefe. De imediato fechamos o recluso para socorrer o Subchefe. Estávamos no terceiro piso.
Depois de socorrido e de ter ido para o Hospital de S. João, fomos à cela do recluso para acabarmos de cumprir a ordem e deparamos com a cela trancada por dentro. O recluso estava preparado para o que desse ou viesse. Deu-nos bastante trabalho. Tentou esfaquear outro guarda. Levou algumas cacetadas. Tive que me impor. Achei que era demasiado. Acabei por ter a maioria dos guardas contra mim. Não me importei. Dei a demonstrar que a nossa atitude tinha de ser proporcional senão éramos todos iguais. E nós éramos agentes de autoridade e não assassinos.
Foi levado para o Pavilhão de Observação chamou-se o enfermeiro para o tratar. Mais tarde foi para o Hospital de S. João, no Porto, tendo seguido para o Hospital Prisional S. João de Deus em Caxias. Depois foi transferido para o E. P. Linhó, teve atitude igual, esfaqueou outro Subchefe, acabando por morrer naquele E. Prisional.
Em Junho de 1988 fui promovido e como tinha pedido para ser colocado na Cadeia de Apoio de Guimarães, o Director fez uma promoção simples e desejou-me as maiores felicidades mas, sem deixar de dizer, que não contava que eu pedisse a transferência. Disse-lhe que entendia que devia ser transferido, ainda hoje entendo, que em qualquer promoção e não só, se devia ser transferido, ainda que passado, uns dois a quatro anos regressássemos.
Continua

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