Rádio Freamunde

https://radiofreamunde.pt/

sábado, 14 de agosto de 2010

Cadeia Feminina de Felgueiras:


A Cadeia de Apoio passou a E. P. Regional. Passou a ter Director. Neste caso uma Directora e uma Técnica de Educação e Ensino. Passei a ter menos trabalho com os reclusos. Havia a Técnica de Educação. Fizeram-se obras. Começou-se pela Secretaria e Gabinete da Directora as condições habitacionais dos reclusos não importavam - muito mais tarde é que começaram as obras de beneficiação - já lá não prestava serviço. Gastou-se um balúrdio com o quarto de banho privativo da Directora. Os guardas não interessava como estavam alojados. A Directora inteirou-se como estava definido o E. P.. A sua organização e concordou com a maioria das coisas. A Educadora começou a colaborar com as idas dos reclusos aos sábados ao pavilhão desportivo.
A Câmara Municipal de Guimarães organizou um torneio de futebol de cinco, no campo de S. Amaro, ao ar livre. Fomos convidados mas deparamo-nos com o problema de ser ao ar livre o que para nós reduzia a segurança. Falou-se com os reclusos que faziam parte da equipa e dissemos que os íamos pôr à prova, que contávamos com a sua colaboração, o bem era deles. Foram excepcionais. No aspecto desportivo fomos umas nódoas no disciplinar ganhamos a taça de disciplina deu-nos mais prazer esta que a de campeão.
Um dia andavam dois reclusos a trabalhar entre o edifício prisional e os muros que protegem o E. P., não havia torres de controlo, faziam parte da equipa de futebol. Como nos confrontávamos com falta de guardas, não tinham custódia, ia-se ali esporadicamente para ver como decorria o trabalho e se estavam presentes. Quando se foi novamente verificar se ali estavam os dois tinham fugido. Saltaram o muro que media seguramente três metros. Vá lá compreender o ser humano. Um deles até beneficiava do RAVI o outro fazia parte da equipa de futebol de salão.
A Educadora numa sexta-feira veio estar comigo e disse: - tem aqui a lista de reclusos, elaborada por mim e pela Sr.ª Directora, para irem amanhã jogar futebol ao pavilhão. Não queriam saber se tinham bom comportamento, se estiveram todo o dia na cama, não corresponderam com os seus deveres laborais. Entendi que assim se estava a promover a indisciplina e a preguiça. A Técnica de Educação nunca lá foi um sábado para ver como decorria essas actividades desportivas. Se lhe fosse pedido um relatório da Divisão de Educação e Ensino não sabia responder, tinha que perguntar. Não concordei e entendi que era uma forma de me verem pelas costas. Abandonei. Custou-me tomar essa posição. Andava a perder meio-dia de folga, a gastar gasolina, nunca se prontificaram a darem-me transporte, falei com os reclusos da minha intenção. Mostraram-se tristes, mas compreenderem a minha situação. Um guarda - hoje Subchefe - que ultimamente colaborava comigo, disse-me se eu achava que também havia de abandonar disse-lhe para continuar.
O E. P. Feminino de Felgueiras era dirigido pela Directora do E. P. R. Guimarães. Não dependia do E. P. Guimarães, só na parte da direcção. O Subchefe de Guardas, Teixeira, ia frequentar um curso para Chefe de Guardas. A Directora convidou-me para o ir substituir enquanto durasse o curso. Aceitei. Gosto de experiências e era uma maneira de me ambientar com outro tipo de pessoas, embora soubesse que era mais problemático. A mulher quando entra numa cadeia deixa atrás de si um sem número de problemas - o homem não os tem - a casa, os filhos e por natureza é mais sentimental.
Apresentei-me antes uns dias para tomar conhecimento das instalações. O espaço físico era diminuto. A lotação era de vinte reclusas. Tinha quarenta. Na parte da corporação de guardas tinha os guardas masculinos em menor número que as guardas femininas. Os guardas masculinos faziam o serviço à Portaria e havia um que era motorista. As guardas femininas faziam serviço na zona prisional e todo o tipo de diligências ao exterior. As reclusas estavam alocadas duas por cela e numa camarata. As que tinham filhos menores até três anos podiam estar com elas. Havia oito, duas eram gémeas. Estas reclusas podiam optar por não estarem acompanhadas com outra reclusa mas quase sempre optavam por ter companhia. Diziam que passavam melhor o tempo.
As ocupações laborais eram poucas: faxina da limpeza, da cozinha, do bar, da lavandaria, da enfermaria, cozinheira, havia três, uma era da nossa messe. O recreio era a céu aberto e pequeno. Havia reclusas que não tinham ocupação, optavam por ficar na cela, só eram abertas para as refeições. Diziam que durante a noite dormiam mal, depois era só pedir calmantes ao Dr. Novais, médico da cadeia.
Ao notar estas deficiências propus à Directora que se houvesse reclusas em grande número não me importava de lhes dar educação física. Inscreveu-se a maioria. Só as mais idosas é que não e havia umas poucas. Desde já realço, que por parte da corporação de guardas, viram nisto uma loucura! Onde se tinha visto um Subchefe de Guardas, a dar educação física às reclusas. Como sou dos que pensam que o tempo é o melhor conselheiro. Deixei o tempo correr.
As reclusas eram cumpridoras com os exercícios que lhes ministrava. Andavam maravilhadas! Julgava que ia ter desistências. Pelo contrário. Algumas que não se tinham inscrito pediram se o podiam fazer. Os calmantes reduziram drasticamente. As noites eram melhor dormidas. As guardas não eram tão solicitadas durante o período nocturno. Com uma pequena coisa resolveu-se um sem número. A cadeia era cercada com rede de arame e na parte de cima da rede com arame farpado. A hipótese de fuga era reduzida. Para mais durante este período a vigilância era reforçada e nessa altura só havia uma reclusa que nos era mais problemática. Neste espaço onde se fazia educação física, era de maior dimensão, era em frente da Portaria. Propus à Directora que se desse duas horas de recreio de segunda a sexta-feira, da parte da tarde, aos sábados e domingos eram dias de visita - não se podia dar recreio - o que teve a concordância da Directora. Aqui caiu o Carmo e a Trindade. Devemos dar o nosso melhor e se com isso conseguimos melhores resultados, porque não avançarmos! Não havia maiores gastos pelo contrário.
O curso estava no fim. O Subchefe de Guardas, Teixeira, apresentava-se na segunda-feira. A Directora tinha-me pedido para continuar ali, mas disse-lhe que era difícil trabalhar com o Subchefe, Teixeira, já o conhecia - era prepotente - se houvesse problemas apresentava-me de imediato no E. P. R. Guimarães. Disse-me: - não vai ser preciso vão-se dar bem. Apresentou-se e quando começou a ter conhecimento das alterações chamou-me irresponsável. Disse-lhe para medir as palavras. Tudo o que estava alterado tinha o consentimento da Directora. Se queria chamar irresponsável que o chamasse a ela. De imediato telefonei à Directora dizendo-lhe que ao outro dia me ia ali apresentar. Começou a tentar demover-me. Não valeu de nada. Preferia trabalhar com o Subchefe Abreu. Havia mais colaboração. Apresentei-me ao outro dia no E. P. R. Guimarães.
Continua

Sem comentários:

Enviar um comentário