A Cadeia de Apoio passou a E. P. Regional. Passou a ter Director. Neste
caso uma Directora e uma Técnica de Educação e Ensino. Passei a ter menos
trabalho com os reclusos. Havia a Técnica de Educação. Fizeram-se obras. Começou-se
pela Secretaria e Gabinete da Directora as condições habitacionais dos reclusos
não importavam - muito mais tarde é que começaram as obras de beneficiação - já
lá não prestava serviço. Gastou-se um balúrdio com o quarto de banho privativo
da Directora. Os guardas não interessava como estavam alojados. A Directora
inteirou-se como estava definido o E. P.. A sua organização e concordou com a
maioria das coisas. A Educadora começou a colaborar com as idas dos reclusos
aos sábados ao pavilhão desportivo.
A Câmara Municipal de Guimarães organizou um torneio de futebol de
cinco, no campo de S. Amaro, ao ar livre. Fomos convidados mas deparamo-nos com
o problema de ser ao ar livre o que para nós reduzia a segurança. Falou-se com
os reclusos que faziam parte da equipa e dissemos que os íamos pôr à prova, que
contávamos com a sua colaboração, o bem era deles. Foram excepcionais. No
aspecto desportivo fomos umas nódoas no disciplinar ganhamos a taça de
disciplina deu-nos mais prazer esta que a de campeão.
Um dia andavam dois reclusos a trabalhar entre o edifício prisional e
os muros que protegem o E. P., não havia torres de controlo, faziam parte da
equipa de futebol. Como nos confrontávamos com falta de guardas, não tinham
custódia, ia-se ali esporadicamente para ver como decorria o trabalho e se
estavam presentes. Quando se foi novamente verificar se ali estavam os dois
tinham fugido. Saltaram o muro que media seguramente três metros. Vá lá
compreender o ser humano. Um deles até beneficiava do RAVI o outro fazia parte
da equipa de futebol de salão.
A Educadora numa sexta-feira veio estar comigo e disse: - tem aqui a
lista de reclusos, elaborada por mim e pela Sr.ª Directora, para irem amanhã
jogar futebol ao pavilhão. Não queriam saber se tinham bom comportamento, se
estiveram todo o dia na cama, não corresponderam com os seus deveres laborais. Entendi
que assim se estava a promover a indisciplina e a preguiça. A Técnica de
Educação nunca lá foi um sábado para ver como decorria essas actividades
desportivas. Se lhe fosse pedido um relatório da Divisão de Educação e Ensino
não sabia responder, tinha que perguntar. Não concordei e entendi que era uma
forma de me verem pelas costas. Abandonei. Custou-me tomar essa posição. Andava
a perder meio-dia de folga, a gastar gasolina, nunca se prontificaram a
darem-me transporte, falei com os reclusos da minha intenção. Mostraram-se
tristes, mas compreenderem a minha situação. Um guarda - hoje Subchefe - que
ultimamente colaborava comigo, disse-me se eu achava que também havia de
abandonar disse-lhe para continuar.
O E. P. Feminino de Felgueiras era dirigido pela Directora do E. P. R.
Guimarães. Não dependia do E. P. Guimarães, só na parte da direcção. O Subchefe
de Guardas, Teixeira, ia frequentar um curso para Chefe de Guardas. A Directora
convidou-me para o ir substituir enquanto durasse o curso. Aceitei. Gosto de
experiências e era uma maneira de me ambientar com outro tipo de pessoas,
embora soubesse que era mais problemático. A mulher quando entra numa cadeia
deixa atrás de si um sem número de problemas - o homem não os tem - a casa, os
filhos e por natureza é mais sentimental.
Apresentei-me antes uns dias para tomar conhecimento das instalações. O
espaço físico era diminuto. A lotação era de vinte reclusas. Tinha quarenta. Na
parte da corporação de guardas tinha os guardas masculinos em menor número que as
guardas femininas. Os guardas masculinos faziam o serviço à Portaria e havia um
que era motorista. As guardas femininas faziam serviço na zona prisional e todo
o tipo de diligências ao exterior. As reclusas estavam alocadas duas por cela e
numa camarata. As que tinham filhos menores até três anos podiam estar com elas.
Havia oito, duas eram gémeas. Estas reclusas podiam optar por não estarem
acompanhadas com outra reclusa mas quase sempre optavam por ter companhia. Diziam
que passavam melhor o tempo.
As ocupações laborais eram poucas: faxina da limpeza, da cozinha, do
bar, da lavandaria, da enfermaria, cozinheira, havia três, uma era da nossa
messe. O recreio era a céu aberto e pequeno. Havia reclusas que não tinham
ocupação, optavam por ficar na cela, só eram abertas para as refeições. Diziam
que durante a noite dormiam mal, depois era só pedir calmantes ao Dr. Novais,
médico da cadeia.
Ao notar estas deficiências propus à Directora que se houvesse reclusas
em grande número não me importava de lhes dar educação física. Inscreveu-se a
maioria. Só as mais idosas é que não e havia umas poucas. Desde já realço, que
por parte da corporação de guardas, viram nisto uma loucura! Onde se tinha
visto um Subchefe de Guardas, a dar educação física às reclusas. Como sou dos
que pensam que o tempo é o melhor conselheiro. Deixei o tempo correr.
As reclusas eram cumpridoras com os exercícios que lhes ministrava. Andavam
maravilhadas! Julgava que ia ter desistências. Pelo contrário. Algumas que não
se tinham inscrito pediram se o podiam fazer. Os calmantes reduziram
drasticamente. As noites eram melhor dormidas. As guardas não eram tão
solicitadas durante o período nocturno. Com uma pequena coisa resolveu-se um
sem número. A cadeia era cercada com rede de arame e na parte de cima da rede
com arame farpado. A hipótese de fuga era reduzida. Para mais durante este
período a vigilância era reforçada e nessa altura só havia uma reclusa que nos
era mais problemática. Neste espaço onde se fazia educação física, era de maior
dimensão, era em frente da Portaria. Propus à Directora que se desse duas horas
de recreio de segunda a sexta-feira, da parte da tarde, aos sábados e domingos
eram dias de visita - não se podia dar recreio - o que teve a concordância da
Directora. Aqui caiu o Carmo e a Trindade. Devemos dar o nosso melhor e se com
isso conseguimos melhores resultados, porque não avançarmos! Não havia maiores
gastos pelo contrário.
O curso estava no fim. O Subchefe de Guardas, Teixeira, apresentava-se
na segunda-feira. A Directora tinha-me pedido para continuar ali, mas disse-lhe
que era difícil trabalhar com o Subchefe, Teixeira, já o conhecia - era
prepotente - se houvesse problemas apresentava-me de imediato no E. P. R. Guimarães.
Disse-me: - não vai ser preciso vão-se dar bem. Apresentou-se e quando começou
a ter conhecimento das alterações chamou-me irresponsável. Disse-lhe para medir
as palavras. Tudo o que estava alterado tinha o consentimento da Directora. Se
queria chamar irresponsável que o chamasse a ela. De imediato telefonei à
Directora dizendo-lhe que ao outro dia me ia ali apresentar. Começou a tentar
demover-me. Não valeu de nada. Preferia trabalhar com o Subchefe Abreu. Havia
mais colaboração. Apresentei-me ao outro dia no E. P. R. Guimarães.Continua
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