(João Gomes, in Facebook, 20/11/2025)

Nos últimos dias, circulam nos corredores diplomáticos e nos jornais internacionais relatos sobre o chamado “plano de 28 pontos” atribuído a Trump. Segundo essas versões, o documento indicaria que os EUA estariam dispostos a reconhecer formalmente a Crimeia e o Donbass como território russo, enquanto Kiev seria pressionada a aceitar concessões territoriais e políticas profundas, mantendo, na prática, a configuração atual do poder e limitando significativamente o seu espaço estratégico.
O plano exige da Ucrânia concessões máximas: ceder toda a parte ocidental do Donbass, aceitar a demilitarização de certas linhas de frente, limitar o tamanho e o alcance das suas forças armadas e permitir que o russo seja reconhecido como língua oficial em algumas áreas. Qatar e Turquia aparecem como mediadores potenciais, e as garantias de segurança para Kiev e para a Europa estariam condicionadas a essas concessões.
Segundo algumas interpretações de jornalistas, como Oliver Carroll, o documento prevê a proibição de tropas estrangeiras no território ucraniano e limitações severas nas armas de longo alcance. Além disso, o escândalo de corrupção interna que abalou a Ucrânia nas últimas semanas intensifica a pressão sobre Kiev, criando um ambiente em que os Estados Unidos parecem tentar forçar uma decisão rápida.
Curiosamente, Zelensky ainda não teve acesso completo ao plano. Esteve recentemente na Turquia, reunido com o presidente Erdoğan, e uma reunião prevista com Vítkov, emissário ligado à administração americana, foi cancelada no último momento. Hoje, porém, espera-se que Zelensky se pronuncie oficialmente sobre a proposta, numa reunião com altos oficiais militares e representantes diplomáticos dos EUA em Kiev, que depois seguirão para Moscovo.
Enquanto isso, a Rada – o parlamento ucraniano – interrompeu temporariamente algumas das suas atividades. Esta suspensão parcial não é definitiva, mas estratégica: destina-se a analisar e ponderar os próximos passos frente aos recentes escândalos de corrupção e às consequências das demissões ministeriais. O parlamento enfrenta agora a complexa tarefa de decidir caminhos institucionais para sair do impasse político, podendo eventualmente preparar condições para um governo temporário que organize o país e garanta a continuidade administrativa durante a crise.
Tudo isso revela um quadro de extrema tensão política: Zelensky terá de tomar uma decisão crucial sobre aceitar ou rejeitar o plano americano, enquanto a Rada tenta preservar a legalidade, organizar o Estado e lidar com a corrupção. O drama desenrola-se em paralelo às linhas de combate, onde milhares de soldados ucranianos permanecem determinados a lutar, não aceitando passivamente quaisquer acordos que considerem injustos.
O país encontra-se, assim, entre a espada e a parede: negociações internacionais que exigem compromissos dolorosos, uma liderança presidencial pressionada por escolhas decisivas e um parlamento que precisa equilibrar legitimidade, estabilidade e combate à corrupção.
Os próximos dias serão decisivos – não apenas para Zelensky, mas para toda a Ucrânia, que se debate entre a diplomacia, a lei e a guerra.
Do blogue Estátua de Sal
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