No Fórum TSF: O juiz Ivo Rosa e o silêncio do Ministério Público, de 3 Outubro, três ouvintes quiseram participar para manifestarem o seu apoio ao linchamento de Ivo Rosa. Deram-se ao trabalho de ligar, ficar à espera, e depois usaram o tempo de antena para partilhar a sua iliteracia com os ouvintes. Fica como placa de Pétri da eficácia da campanha mediática e política de destruição do tal juiz. Campanha que começou ainda antes de Ivo Rosa ficar com a Operação Marquês, mas que depois explodiu em violência inaudita, tendo gerado o mais grave atentado ao Estado de direito na história da democracia portuguesa. Se esses três infelizes ouviram o programa até ao fim, fatalmente não entenderam patavina do que foi dito.
Uma das participantes foi Mónica Quintela, ex-deputada do PSD. Deixou uma notável denúncia do escândalo em curso, a um ponto tal que até parece inexplicável a sua pertença ao actual PSD (na verdade, a um PSD já com 20 anos ininterruptos de judicialização da política e de politização da Justiça). Mas o que quero realçar das suas palavras terá, muito provavelmente, passado ao lado da audiência. Que é isto: explicou não ser obrigatório, por lei, avisar o alvo de uma investigação ao ter sido esta arquivada quando a pessoa em causa não foi constituída arguida. Ela deixou esta clarificação porque, no Fórum, alguns intervenientes tinham referido que Ivo Rosa devia ter sido informado da existência de uma investigação a seu respeito na ocasião do arquivamento, pelo menos. Estavam enganados, dado o juiz não ter sido constituído arguido.
Muito bem. Então, atendendo ao contexto tornado público no assunto, quais são as inferências que se podem fazer imediatamente a partir dessa nota de rodapé, sem carência de ir a correr tirar um curso de Direito?
São de arrebimba o malho:
i. O plano do Ministério Público era, de facto, o de deixar na ignorância Ivo Rosa a respeito da devassa que lhe foi feita.
ii. Ninguém fora do Ministério Público e da Judiciária sabe qual a informação que foi recolhida acerca da vida privada de Ivo Rosa e quantos indivíduos tiveram acesso a ela. Daqui decorre que os cidadãos não sabem o que vai ser feito, e por quem, com essa informação. Se calhar nada, se calhar alguma coisa. Não se sabe.
iii. Os cidadãos sabem que a informação recolhida numa investigação do Ministério Público jamais é destruída, pois para além de ficar conservada em documentos, mesmo que só em parte, quem a ela teve acesso pode ter guardado o todo da mesma ou elementos seleccionados. Se calhar não acontece, se calhar acontece.
iv. Se é possível, como demonstrado só numa das várias investigações do Ministério Público a Ivo Rosa, usar uma denúncia anónima sem pés nem cabeça para saltar logo para uma devassa de três anos a um juiz, e logo este com a sua notoriedade, conseguindo depois manter secreta essa perseguição, então vale tudo. E, por tudo, pode ser: espionagem política, espionagem industrial, perseguição a políticos e jornalistas, chantagens avulsas, conluio com redes criminosas nacionais e/ou internacionais, interferência de serviços secretos estrangeiros. E mais, e mais, e mais. Tudo.
Temos criminosos no Ministério Público? Sim, temos. De cada vez que há uma violação do segredo de justiça por um procurador, comete-se um crime. Mas serão esses criminosos apenas uns pacholas amigalhaços dos jornalistas parceiros no crime, e ninguém liga porque é o PS a vítima preferida e o bombo da festa da indústria da calúnia, ou será caso para se aplicar a sabedoria bíblica, Lucas 16:10, e admitir que muito provavelmente quem comete de forma contumaz um certo tipo de crime — com absoluta impunidade — está a exibir a sua apetência para diversificar e amplificar a prática?
Talvez não, talvez sim. Não fazemos ideia. E os nossos representantes políticos estão-se a marimbar para isso, uns, ou exibem-se como protectores dos criminosos, outros.
9 Outubro 2025 às 9:05 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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