Fazer uma leitura dos próximos passos implica olhar para trás e perceber que, provavelmente, a Rússia fará tudo para não assinar um acordo que não tenha o objectivo de trazer o fim efectivo da guerra. A exigência de que o Ocidente pare de rearmar a Ucrânia durante uma trégua parece uma resposta àquilo que aconteceu durante os acordos de Minsk. Simultaneamente, enquanto os países europeus anunciam que estão dispostos a enviar tropas de manutenção de paz para a Ucrânia, Moscovo já disse que não aceita um único soldado de países da NATO no terreno. Se o Ocidente tem sido parte activa nesta guerra, parece pouco provável que Vladimir Putin aceda a essa petição. Militares de países neutrais, sobretudo do Sul Global, poderia ser uma hipótese. Por outro lado, a União Europeia está arredada das negociações. A derrota da estratégia militar e diplomática de Bruxelas e de Washington de Biden deixa pouca margem de manobra. E Zelensky continua a ser o fiel escudeiro dessa linha. Por isso, logo que puder, é provável que Trump se desfaça do até agora presidente da Ucrânia.
Umas de maior importância que outras. Outrora assim acontecia. É por isso que gosto de as relatar para os mais novos saberem o que fizeram os seus antepassados. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdios se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Rádio Freamunde
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quinta-feira, 13 de março de 2025
Para antecipar a posição da Rússia:
Sobre a proposta de cessar-fogo anunciada há que ter em conta alguns elementos. Em primeiro lugar, está mais claro do que nunca que quem decide a posição da Ucrânia não é Kiev. Será Washington a liderar as negociações com Moscovo. A Ucrânia, com o apoio da União Europeia e do Reino Unido, tinha proposto uma trégua nas hostilidades por ar e mar, precisamente os dois campos onde está em mais desvantagem. Naturalmente, Kiev apresentou a proposta que melhor convinha aos seus interesses, Moscovo apresentará outra que defenda os seus. É a partir daí que começa a negociação. Washington corrigiu a proposta ucraniana/europeia e acrescentou uma paragem das hostilidades também em terra. Alguns especialistas russos deram a entender que Moscovo vai exigir também a suspensão da entrega de armas à Ucrânia pelo Ocidente e que vai tentar fazer arrastar a negociação. Faz sentido se pensarmos que a Rússia está na ofensiva e a conquistar terreno e que quanto mais terreno conquistar mais poder negocial terá.
Por outra parte, se queremos analisar globalmente as movimentações diplomáticas devemos ter em conta negociações anteriores. Recordo que, em 2015, em Minsk, na Bielorrússia, os representantes da Rússia, Alemanha, França, Ucrânia, incluindo os líderes separatistas de Donetsk e Lugansk, assinaram um acordo de paz para pôr fim à guerra civil. Em 2018, os serviços secretos ucranianos assassinaram o presidente da auto-proclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, membro da mesa negocial, e, anos mais tarde, já depois da intervenção russa na Ucrânia, Angela Merkel e François Hollande assumiram em público que só haviam assinado esse acordo para ganhar tempo e reforçar militarmente Kiev. Em 2022, representantes russos e ucranianos sentaram-se a negociar na fronteira bielorrussa poucos dias depois da entrada das tropas da Rússia na Ucrânia. Uma semana depois, um dos representantes ucranianos, Denys Kireyev, aparecia morto, executado por ser suspeito de estar a espiar para Moscovo. Só em meados de Março se vislumbra, finalmente, uma saída da guerra. Na Turquia, segundo Erdogan, a Ucrânia aceita abandonar a pretensão de entrar na NATO, a neutralidade, fazer do russo a segunda língua oficial do país e um período de 15 anos de diálogo sobre o estatuto da Crimeia. Os diálogos começam a encaminhar-se para um acordo. Nesse contexto, as tropas russas reduzem a sua actividade militar nas frentes de Kiev e de Chernigov. No dia 9 de Abril, Boris Johnson chega a Kiev e anuncia que não deve haver qualquer negociação com um “criminoso de guerra” como Putin. Naftali Bennett, então primeiro-ministro de Israel, e um dos principais impulsionadores das negociações, diria mais tarde que as duas partes estavam dispostas a alcançar um cessar-fogo e que o Ocidente empurrou a Ucrânia para a guerra.
Desde então, Zelensky recusou qualquer negociação fazendo, inclusive, chacota de países do Sul Global que tentaram, sem sucesso, sentar a Ucrânia e a Rússia na mesa das negociações. O presidente ucraniano chegou a assinar uma lei que proibia qualquer conversação com Vladimir Putin. A Rússia sugeriu várias vezes tréguas natalícias que foram sempre recusadas por Kiev sob o pretexto de que Moscovo queria obter algum tipo de vantagem. Putin acabou por ordenar o fim dos ataques de forma unilateral durante o período de natal, algo que nem sempre foi cumprido, mas que reduziu muito a intensidade dos combates e dos bombardeamentos.
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