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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Um vendaval de sangue varre todo o país:


Por toda a Síria, centos de casos filmados, geolocalizados e confirmados de matanças de cristãos, ex-militares, alauitas, quadros administrativos e académicos, até terríveis crimes cometidos dentro dos hospitais e praticados contra doentes internados. Tais imagens não são, obviamente, mostradas aos europeus manipulados, teledirigidos e anestesiados. Entretanto, como nunca jamais ocorreu no passado, com a impunidade do cobrador de favores que ajuda o terror e lembra o preço ajustado, o regime israelita bombardeia a seu bel-prazer todos os objectivos que estabeleceu para erradicar a Síria do mapa, invade-lhe o território e alega desenvolver uma operação visando alargar o território dos Golãs já ocupado desde 1967 e estabelecer uma região-tampão com desconhecida profundidade em território sírio.
É evidente que há quem se regozije com tudo o que de terrível ali acontece, os mesmos que durante mais de um ano assistiram impávidos à destruição de uma cidade de dois milhões de habitantes e desculparam a campanha contra o Líbano, da qual resultaram milhares de mortes. De facto, há que o reconhecer, este sistema de dois pesos, duas medidas, domina os ocidentais há muitas décadas e não se pense que dele fará contrição, pois este ocidente não é Ocidente, as suas capitais não são Washington, Paris, Berlim ou Londres, mas outra à qual prestam vassalagem.
Hoje, após o tratamento e da entrega de um trabalho que me foi solicitado com urgência, dediquei meia hora à leitura atenta da Constituição da Síria de Assad. Um monumento à tolerância, à inclusão e à partilha do poder entre cristãos, muçulmanos e judeus, um tesouro jurídico de rara beleza e equilíbrio que logo no seu articulado geral afirma não aceitar «grupos políticos com base na religião, no sectarismo, na tribo, região, classe, profissão ou discriminação de género, origem, raça ou cor» (4), precisa o lugar e o papel das mulheres («O Estado deve proporcionar às mulheres todas as oportunidades que lhes permitam contribuir efetiva e plenamente para a vida política, económica, social e cultural e deve trabalhar para remover as restrições que impedem seu desenvolvimento e participação na construção da sociedade» (23), respeita a «inviolabilidade da vida privada», assegura a educação universal e gratuita para rapazes e raparigas, assim como a liberdade científica, literária, artística e cultural.

Bastaram 48 horas para eclipsar a ilusão da liberdade e do «25 de Abril sírio» que tantos quiseram ao arrepio da básica inteligência, ou acreditavam realmente que da Irmandade Muçulmana, da Al Qaeda e do ISIS nasceria um regime de freios e contrapesos e a cultura westminsteriana que mesmo na outrora livre Inglaterra conhece dias de quase ditadura?

Miguel Castelo Branco 

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