Posso estar errado, mas é minha profunda convicção que Israel não faria nunca o que está a fazer aos palestinianos, se, após séculos de perseguições e tratamentos nefandos, os judeus não tivessem sofrido o que sofreram às mãos de inquisidores hediondos e, finalmente, dos nazis.
Venham os psicólogos e os sociólogos explicar-me como é possível esta visceral insanidade, resultante de um trauma histórico, transformar-se na ambição irresistível de um grupo nacional também poder encarnar a idiossincrasia do carrasco e fazer padecer a quem esteja no lugar da presente vítima apropriada, indefesa, irrevogavelmente desumanizada.
Estive preso no tempo de Salazar e Caetano, fui horrorosamente torturado pelos métodos da Gestapo reformulados pela CIA, de quem a PIDE teve aulas, mas nem por isso consigo imaginar o que é ser capturado na Palestina ocupada e levado com os olhos vendados para uma prisão militar, o centro de detenção de Sde Teiman, perto da cidade de Beersheba, no deserto de Negeb, sul de Israel, e, meses ou anos depois, continuar em absoluta escuridão, dentro da mesma venda negra e com os pulsos e os tornozelos atados por algemas de aço, algumas vezes tão apertadas que acabam por produzir gangrenas e as mãos por ser amputadas.
Pelas mesmas causas, até pernas já foram decepadas a prisioneiros bíblicos de Sde Teiman, fac to apurado pela Physicians For Human Rights Israel (PHRI). Porque os hospitais civis recusavam receber suspeitos de terrorismo, até o Ministério da Saúde entendia que os presos que precisassem de cuidados médicos tinham de ser tratados com algemas e com vendas nos olhos, além de que as cirurgias deviam ser executadas com o mínimo de anestesia. Para doer, é claro.
Há que dizer que, segundo uma investigação do “Público” (6.8.2024), as primeiras revelações destes crimes foram feitas por médicos. Um deles escreveu uma carta às autoridades israelitas, protestando: “Estão a transformar-nos em criminosos.”
O cheiro a feridas infetadas sentia-se no ar, ao que contou outro médico à CNN, e havia detidos obrigados a usar fraldas por não terem acesso a uma simples sanita. “Tiraram-lhes tudo o que fazia deles humanos”, revelou a uma estação de televisão norte-americana.
De nada serviu, porque, para Washington, Israel tem o direito de se defender. A alguns dos presos não é permitido dormir, não podem comunicar, não podem espeitar por baixo da venda que lhes tapa os olhos e muitos têm os corpos marcados por coronhadas e costelas partidas. Soube o PHRI que em fevereiro morrem 27 prisioneiros nesse inferno hitleriano, onde há violações em grupo. Num caso em que o seu ânus foi invadido por um objeto, o prisioneiro ficou com ferimentos no reto, intestinos e abdómen. À PHRI que, junto com outras organizações como a HaMoked, apresentou uma petição ao Supremo para que seja encerrado o Sde Teiman e não se imite Guantánamo nem Abhu Ghraib.
Mais: segundo apurou a mesma PHRI, nos últimos meses os militares israelitas mataram, diariamente, em Gaza, em média, a totalidade dos alunos de uma escola primária.
Impensável. Não se pode recusar as lições do guarda-costas de IsraelLih.
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