“Fome que dá em Fartura!”:

O governo de Montenegro, com a ousadia de um chefão de cozinha, anunciou mais uma “iguaria” para a nação: 600 novas viaturas para a polícia, num prato de luxo para a segurança. Já não bastava o festim de 714 carros encomendados pelo governo anterior, que, como se a mesa estivesse sempre cheia, decidiram adicionar mais 600, gastando uns preciosos 20 milhões de euros do erário público. E para quem pensava que as finanças estavam em crise, lá vem o banquete . porque, afinal, não há fome que não dê em fartura, certo?

Agora, entre uns pneus brilhando e sirenes a tocar, Montenegro deixa para trás outras receitas que poderiam ter sido igualmente apetitosas: investimentos na educação, saúde, ou mesmo a criação de mais postos de trabalho. Mas que se dane isso, se o prato principal é um carro de polícia reluzente, digno de um desfile. “Fartura” não é só para quem precisa, é também para quem sabe dar um espetáculo de força nas ruas. Porque, vamos combinar, quem precisa de mais escolas quando se tem mais carros a patrulhar?

Ah, Montenegro, e lá se vai o dinheiro que poderia ter servido para mais creches e menos sirenes. Pois é, a fome é um prato que se serve quente, mas a fartura... essa, às vezes, vem num pacote fechado e totalmente fora de contexto. Que venham as viaturas e que, pelo menos, as estradas não fiquem tão vazias de sentido.

João Gomes