Atirada para o meio dos telejornais vem a notícia de que este ano já se registaram mais duas mil e tal mortes do que no mesmo período do ano passado. Timidamente, a Comunicação Social vai sugerindo que o facto se deve à degradação do Serviço e ao encerramento periódico das urgências hospitalares. Contrariando esta relação de causa e efeito que, surpreendentemente, os nossos jornalistas apresentam, numa demonstração de grande espírito de investigação, o alegado Primeiro Ministro declara que o Serviço Nacional de Saúde está este ano a funcionar melhor que no ano passado e que, para o ano, vai melhorar ainda mais. É uma afirmação que podemos comparar a outras que fazem a sabedoria popular, quando não tem mais nada a dizer. Estilo "o melhor do mundo são as crianças, até amanhã se deus quiser, depois da tempestade vem a bonança, não há sábado sem sol nem domingo sem missa." É a constatação do óbvio. É um facto que, na saúde, as coisas estão acentuadamente melhores e com tendência a melhorar. Para a Saúde Privada, para os grandes grupos económicos que nela investem, para numerosos membros da classe médica a quem, temporariamente e enquanto for necessário para a competição, o Capital vai pagando melhor que o Estado. Até deixar de haver essa competição e os médicos e enfermeiros estiverem sujeitos à "generosidade e justiça" da política salarial dos beneméritos do lucro fácil. E enquanto este carnaval circense para retardados - somos nós todos - vai continuando, vamos morrendo. Em casa, na rua, à porta das urgências fechadas, dos centros de saúde sem médico de família, dos hospitais privados para os quais não temos orçamento. Somos menos a atrapalhar. "No Country For Old Men", na versão portuguesa "Este País Não É Para Velhos." E para doentes também não. Vou pensar em coisas divertidas para ver se isto me passa. No meu querido Parque Mayer, no que dele resta, no maravilhoso caso de resistência que é o Maria Vitória, vai estrear a nova revista com o título "E Ninguém Vai Preso?". Vai ser mais um êxito a juntar a tantos outros. Não é difícil adivinhar porquê!
Cândido Mota
Sem comentários:
Enviar um comentário