(Por Jacob G. Hornberger, in The Future of Freedom Foundation, 05/01/2023, Trad. Estátua de Sal)

Um dos aspectos fascinantes da guerra na Ucrânia tem sido a extrema relutância da grande imprensa e dos apoiantes do Pentágono-CIA em reconhecer, muito menos em condenar, o Pentágono pelo seu papel na provocação desta guerra. Afinal, os dois conceitos – o Pentágono provocando a crise e a invasão da Ucrânia pela Rússia – não são mutuamente exclusivos. Podemos ter os dois factos em simultâneo – o Pentágono inicia a crise com o objetivo de “degradar” a Rússia e então a Rússia cai na armadilha ao atolar-se numa guerra mortal e destrutiva contra a Ucrânia.
Mas quando alguém chama a atenção para a primeira parte desta equação – isto é, o papel do Pentágono no início da crise – a grande imprensa e os apoiantes do Pentágono-CIA ficam furiosos. Para eles, é uma heresia apontar o que o Pentágono fez para desencadear a crise. Para eles, o Pentágono e a CIA são inocentes, são bebés virtuosos na floresta que nunca fariam tal coisa. Para eles, o Pentágono e a CIA nada mais são do que uma “força do bem” no mundo.
Mas sabe-se que o Pentágono e a CIA se envolvem nesses tipos de maquinações malignas. Na verdade, fizeram a mesma coisa com a Rússia em 1979. Atraíram os russos para invadir o Afeganistão, com o mesmo objetivo que tem com estas maquinações na Ucrânia – dar aos russos o seu próprio “Vietname”, o que significava “degradar” a Rússia através do assassinato de um grande número de soldados russos.
“Teoria da conspiração”? Bem, não exatamente. Isto porque o Conselheiro de Segurança Nacional Zbigniew Brzezinski, num momento notável de franqueza, admitiu que eles fizeram isso de forma consciente, deliberada e intencional. Ele estava orgulhoso disso. Ele gabou-se de como eles conseguiram que os russos caíssem na armadilha. Todo o stablishment de segurança nacional adorava o fato de que dezenas de milhares de soldados russos estavam a morrer no processo. Quanto mais soldados morriam, mais a Rússia ficava “degradada”.
É por isso também que eles agora ficam tão extasiados, cada vez que mais soldados russos morrem na Ucrânia. Por cada soldado morto, a Rússia “degrada-se” um pouco mais. Quanto mais soldados morrerem, mais a Rússia fica “degradada”.
Iniciar uma nova Guerra Fria com a Rússia foi a ideia por trás de manter a existência da NATO após o fim ostensivo da Guerra Fria original. A Guerra Fria tinha sido uma grande vaca leiteira para o stablishment de segurança nacional dos Estados Unidos, e eles não iriam abrir mão dela tão facilmente. Então, usaram a NATO, que nessa época era apenas um velho dinossauro da Guerra Fria, para começar a absorver os países ex-membros do Pacto de Varsóvia. Isso permitiria ao Pentágono e à CIA instalar bases militares e mísseis nucleares cada vez mais perto da fronteira russa.
Ao longo desse processo, a Rússia estava se opondo, e os funcionários do Pentágono e da CIA sabiam disso. Além disso, a Rússia sempre deixou claro que a absorção da Ucrânia pela NATO era uma “linha vermelha” para a Rússia, que faria com que a Rússia invadisse a Ucrânia para evitar que isso acontecesse.
Depois da Rússia ter feito essa declaração, o Pentágono e a CIA tinham a Rússia colocada exatamente na posição que pretendiam. Armaram, então, o final da armadilha simplesmente anunciando que a NATO pretendia absorver a Ucrânia. Não surpreendentemente, a Rússia acabou por invadir a Ucrânia, o que deu à Rússia outro “Vietname”, assim como aconteceu em 1979 com a invasão russa do Afeganistão.
Não há nada de novo neste tipo de manobra. Em 1964, o Pentágono conscientemente, intencionalmente e deliberadamente iniciou uma crise falsa e fraudulenta no Golfo de Tonkin, perto do Vietname do Norte. O objetivo? Envolver os Estados Unidos na Guerra do Vietname. A estratégia funcionou. O presidente Lyndon Johnson usou a falsa e fraudulenta crise induzida pelo Pentágono no Golfo de Tonkin para garantir a aprovação de uma resolução do Congresso que o autorizou a envolver os Estados Unidos numa guerra que acabou por tirar a vida a mais de 58.000 soldados americanos e a mais de um milhão de vietnamitas. .
Porque é que os apoiantes do Pentágono-CIA ficam tão fora de si quando alguém aponta para tais maquinações do Pentágono-CIA? Porque o Pentágono, a CIA e a NSA são uma tríade divina para essas pessoas. E por isso não gostam quando alguém expõe as más ações da sua tríade divina. Afinal, veja-se o quanto eles amam o que as autoridades americanas fizeram a Julian Assange e a Edward Snowden por revelarem as ações malignas de sua santíssima trindade.
Mas há algo importante a ter em mente sobre esta estratégia de “degradar” a Rússia. Todos aqueles soldados russos e ucranianos que foram mortos nesta guerra tinham famílias ou amigos, tal como os soldados americanos têm. Essas famílias e amigos estão de luto pela perda desses soldados, tal como as famílias dos soldados americanos estão de luto pela perda dos seus entes queridos.
É isso que torna as maquinações do Pentágono e da CIA tão perversas. Quando um regime celebra a morte de um grande número de pessoas, que morrem como resultado de uma estratégia que visa “degradar” um regime estrangeiro, isso é um sinal inequívoco de que há algo fundamentalmente errado, do ponto de vista moral, com esse regime.
Do blogue Estátua de Sal
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