Há os neoliberais de calhau na mão - tipo Gomes Ferreira - que escreveu um Programa de Governo; ou o Camilo Lourenço; há neoliberais divertidos, como César das Neves que goza com os colegas e com ele próprio. Há depois os convencidos do tipo Horta Osório, que têm obra feita, a destruição à rajada de milhares de empregos nos bancos por onde passou, a acumulação de prémios e indemnizações e um ar de assassino da voz meiga. Leiam o programa HO! A foto de A Costa é elucidativa: Ele não acredita que o HO seja o Pai Natal... mas um assaltante de casas disfarçado.
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TÍTULO: «MAIS VALE UM COSTA COM SONO DO QUE UM HORTA OSÓRIO ACORDADO»
- magnífico texto de CARMO AFONSO no PÚBLICO de 19/12/2022
António Horta Osório esteve presente numa tertúlia que assinalou o início das comemorações do 158.º aniversário do Diário de Notícias e ouvir as coisas que diz nunca é tempo perdido. Assim foi.
Horta Osório apontou direções, estabeleceu objetivos e indicou os caminhos para lá chegar. Sabiam que “em dez anos seria possível dobrar o rendimento do país”? Arranca assim uma narrativa de otimismo sobre o futuro. Atenção que não fala do que irá acontecer, mas do que aconteceria, se a sua receita fosse seguida. Sigam-no para mais dicas.
Qual é a receita para duplicar o rendimento do país em dez anos? Horta Osório, na senda dos grandes autores de autoajuda e desenvolvimento pessoal, apontou para a importância da vontade: “Quando olhamos para o que devíamos fazer, percebemos que não é um problema de capacidade. Acho que está mais relacionado com se queremos ou não crescer.” Espera-se que os portugueses tenham tomado nota. Antes de mais temos de decidir que queremos crescer, ou então isto não vai lá.
A par desses ingredientes modernos, surgem os valores seguros que nunca desiludem. Aqui, como numa boa receita portuguesa, deve começar-se pelo refogado, ou seja, o tradicional menos Estado, menos impostos e mais dinheiro disponível no sector privado. Horta Osório acredita num futuro em que o Estado estará reduzido à sua versão mais singela e os privados estarão capitalizados, como merecem. Se isso seriam boas notícias para os portugueses? Para a banca e para as grandes empresas, o ambiente natural de Horta Osório, seria muito bom. Para os outros é que não. E já se sabe que não se pode ter tudo.
Não é surpreendente que Horta Osório – convidado para falar de temas políticos e, por isso, daquilo que deveria ser melhor para o coletivo – prefira falar daquilo que defende melhor os seus interesses e os daqueles que representa. Mas deveria existir o cuidado de não apresentar o resultado das suas reflexões como quem apresenta o pensamento de um homem que se tem dedicado ao que é melhor para o país.
Mas vejamos a sua ideia com mais detalhe. Horta Osório diz que o ingrediente fundamental para o crescimento do país é a aposta forte na inovação com mais apoios públicos. Leram bem: apoios públicos. Este homem tem uma visão para Portugal. Nessa visão há menos Estado e uma menor carga fiscal, mas – e muita atenção – há mais apoios públicos para as empresas. Menos Estado já seriam péssimas notícias para a larga maioria dos portugueses – que usam o SNS, as escolas públicas e que contam com o Estado para redistribuir riqueza e fazer justiça social –, mas reparem que esse Estado menor iria aumentar os apoios públicos ao sector privado. Os que querem menos Estado e menos despesa pública abrem logo uma exceção para si mesmos. Em resumo: diminuir o papel do Estado num quadro de social-democracia, mas aumentá-lo enquanto financiador das empresas que têm lá os seus próprios Hortas Osórios inovadores e cheios de vontade de fazer o país crescer.
Não se diga que não estamos perante um homem otimista. Acredita na duplicação do rendimento do país, acredita em políticas de imigração que conseguem atrair os trabalhadores de que o país precisa (mas não os outros), acredita no aumento das exportações e acredita que o futuro de Portugal pode ser risonho. Esta é a parte do otimismo que mais sensibiliza. É que Horta Osório descreve o país que lhe agrada e que lhe convém. Mas depois acredita que esse país seria o melhor para todos, mesmo para aqueles que vivem com dificuldades que Horta Osório mostra desconhecer ou, pelo menos, não atender.
“Acredito que o sector privado e as pessoas terem mais dinheiro nos seus bolsos é aquilo que, a prazo, produz mais riqueza.” A que pessoas se referirá Horta Osório? Não será à larguíssima maioria dos portugueses que, no seu mundo ideal, figuram na última fila. Nem uma palavra ou uma ideia dirigida a esses. Espera-se que também fiquem contentes e que não arranjem mau ambiente.
São estas as figuras de vulto que são convidadas para nos brindar com os seus conhecimentos e a sua visão política e ideológica de eternizar privilégios e esquecer aqueles que são carne para canhão. Não é tempo perdido. Ouvimos estas pessoas e reconciliamo-nos com o nosso Governo. Tem falhas? Tem. Mas estas pessoas que misturam uma aparente modernidade com a defesa dos melhores interesses de meia dúzia, enquanto fazem de conta que estão mesmo a falar de política, são insuportáveis. Estas pessoas são os ídolos da direita portuguesa e poderíamos estar a ouvir estas ladainhas a partir de uma pasta ministerial.
Mais vale um Costa com sono.
A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o novo acordo ortográfico.
Carlos Matos Gomes



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