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domingo, 5 de junho de 2022

A Falácia dos 2% para a Defesa:

Quando um dirigente político apresenta a necessidade de aumentar as despesas militares para os 2% do PIB está a considerar-nos implicitamente 98% estúpidos por acreditarmos neles.

Os Estados Unidos, o secretário-geral da NATO e os ministros da Defesa da NATO têm estado a apresentar como necessidade essencial de defesa dos países da NATO contra a ameaça russa um valor mínimo de 2% do PIB de cada estado para despesas ditas com a defesa.

É uma falácia — O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.

É uma falácia assente em pressupostos falsos a vários títulos. A invasão da Ucrânia pela Rússia demonstrou que as Forças Armadas Russas têm tido grandes dificuldades em atingir os seus objetivos na Ucrânia, sejam esses objetivos a ocupação do país, a derrota das forças armadas ucranianas, ou até a ocupação de uma faixa de 20% do território (Donbass e margens do mares de Azov e Negro).

O potencial relativo de combate (grosso modo) entre a Rússia e a Ucrânia consta do Quadro 1.

Apesar de as forças armadas ucranianas terem sido organizadas e treinadas pelos Estados Unidos e outros países da NATO como uma força de ordem interna de suporte a um regime favorável (a oligarquia que gerou Zelenski) e, no limite das suas capacidades, como força de provocação à Rússia no Donbass, apesar da organização do terreno no Donbass e nas periferias de aglomerados populacionais e sobre os eixos principais ser de média resistência (trincheiras escavadas e campos de minas), apesar da não existência de grandes obstáculos naturais (o terreno é plano), o facto é que as forças russas têm tido grande dificuldade em ocupar e vencer umas forças com os meios das ucranianas, sendo estas apoiadas pela NATO com as suas capacidades de Comando, Controlo e Informação. As forças russas, no seu avanço de leste para ocidente, não chegaram sequer ao rio Dniepre!

Os países da NATO conseguiram meios para deter a Rússia utilizando as forças ucranianas, sem empenharem em combate nenhuma das suas unidades terrestres, aéreas ou navais. A NATO tem à retaguarda da Ucrânia todo o seu potencial intacto — um potencial significativo e superior ao russo, mesmo sem contar com os Estados Unidos e o Canadá! Quadro 2

O aparelho militar dos países europeus da NATO tem custado aos contribuintes cerca de 1,5 do PIB e tem sido suficiente. Quadro 3

Assim: se 1,5% do PIB empregue em despesas com armamento têm sido suficientes para deter a “ameaça russa” no leste da Ucrânia, numa faixa de 120 quilómetros de largura, que necessidade existe de gastar mais meio por cento para obter o mesmo resultado?

Alguém em Bruxelas, seja na sede da NATO, seja na sede da UE, um daqueles milhares de funcionários, já se deu ao trabalho de analisar a relação de custo-eficácia das despesas militares? Se a intenção do aumento das despesas com armamento for derrotar a Rússia no seu território, então os 2% de aumentam não chegam, como se conclui da invasão da Ucrânia, onde a Rússia não consegue avança e instalar-se. Quanto às tentativas de a Europa Ocidental invadir a Rússia, existem na história duas más experiencias: a de Napoleão e a de Hitler. Os 2% do PIB europeu são suficientes para ensaiar uma nova aventura de ir até Moscovo?

A proposta de aumento das despesas militares para os 2% não é necessária para defender a Europa da Rússia e é insuficiente para a Europa derrotar a Rússia. Os políticos europeus estão a ludibriar os cidadãos. Os únicos que lucrarão com o aumento serão os fabricantes de armamento, em particular os do complexo militar norte-americano.

Os cidadãos europeus deviam perguntar aos políticos como justificam o aumento de despesas militares! É que o dinheiro “pode” fazer falta para necessidades reais, para ameaças reais resultantes de desastres ambientais, de pandemias, de envelhecimento da população, de empobrecimento, de migrações, de fome…

Quando um dirigente político apresenta a necessidade de aumentar as despesas militares dos europeus para os 2% do PIB está a considerar-nos (aos europeus) implicitamente que 98% estúpidos porque apenas com esse grau de lerdice se acredita neles.

Estes dados são públicos e retirados da Revista The Military Balance 2021 — do The International Institute for Strategic Studies, do Reino Unido, que os dirigentes políticos deviam conhecer, assim como os artistas civis convidados para animarem as sessões de espiritismo sobre a guerra na Ucrânia promovidas pelas televisões.

O link onde pode ser encontrar toda a informação é: https://hostnezt.com/cssfiles/currentaffairs/The%20Military%20Balance%202021.pdf 

Quadro 3

Carlos Matos Gomes

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