4. MAQUINARIA (PRIMEIRA PARTE)
Construídas as novas instalações da sociedade por cotas de Albino de Matos, Sucessores Limitada, nos finais de 1921 era necessário introduzir maquinaria nova que pudesse multiplicar o rendimento do trabalho e aumentar a produção. Para trás ficava a enxô, as garlopas, as plainas, enfim, todo um ferramental de pequena oficina. A inovação técnica tornava-se um imperativo a esta nova sociedade que, com novos capitais, adquire novas máquinas, adoptando como fonte produtora de energia a máquina a vapor. Solução tardia e velha, mas a única possível neste concelho rural e sem electricidade.
Inventada no começo do século XVIII, serviu como principal fonte de energia para a indústria e para os transportes durante mais de cem anos, até ser substituída pelos motores eléctricos e pelos motores de combustão interna. É com Thomas Savery, engenheiro inglês, que começa a saga da máquina a vapor. Em 1699, fez uma bomba que usava uma combinação de vapor e de pressão atmosférica para bombear água das minas. Baseava-se o facto de o vapor exercer uma pressão, mas deixar um vácuo quando se condensa para formar água. Mais tarde, Thomas Newcomen construiu uma máquina que utilizava um conjunto de cilindro e êmbolo para transferir a energia para as bombas vulgares. Só então, a partir de 1769, James Watt desenhou a máquina a vapor que unha em acção a maquinaria industrial.
MÁQUINA A VAPOR ADQUIRIDA PELA FÁBRICA ALBINO DE MATOS |
É por volta de 1835 que se começam a instalar em Portugal, e na indústria, as primeiras máquinas a vapor. Colocadas em quase todas as cidades e povoações do reino, devido fundamentalmente ao investimento particular, estas máquinas, que se concentravam sobretudo em Lisboa e no Porto, eram utilizadas na fundição de metais, na fiação, na moagem de cereais, no fabrico do papel e nas serrações de madeiras.
São do operário Justino Seixal as seguintes palavras:
Montaram esta fábrica e para a pôr capaz foram buscar máquinas francesas, ainda existem algumas desmontadas na fábrica. O chariot, que era muito pesado, foi desmontado. Como não havia energia para mover as máquinas, compraram em Inglaterra uma caldeira que veio de barco até Leixões e foi depois puxada por seis juntas de bois possantes até Freamunde. Na Serra da Agrela, como subia muito, tiveram de arranjar mais bois para fazer a subida. Aquilo era um caminho de terra batida. Rodava nas suas quatro rodas e tinha uma parte giratória que facilitava nas curvas. As rodas foram depois retiradas. Ainda se vêem os apoios. Montaram-na. Depois de montada a máquina abriram uma vala no chão onde andava uma linha eixo com diversos contra - movimentos que faziam o desdobramento; havia máquinas que requeriam mais velocidade e, para isso, havia umas contas que se faziam pondo um volante maior na entrada e um mais pequeno na saída, ou vice-versa, para dar mais ou menos rotações. Esteve montada assim muitos anos. Todas as máquinas eram movidas desta maneira. Tudo girava à volta daquela máquina, que tinha 130 cavalos. Como não havia luz existia uma ligação a um dínamo, que produzia luz de 110 voltes, para os operários verem para trabalhar. Sem esta ma´quina não adiantava ter as outras máquinas; ela era a principal e fazia mover todas as máquinas da marcenaria: tupias, máquinas de desengrosso, chariot, serras de fita, plainas, tico-tico, torno, furadoras, esmeris, limadores de serra.
TÚNEL ONDE ANDAVA A LINHA DE EIXO QUE TRANSMITIA O MOVIMENTO ÀS MÁQUINAS |
Tal como no resto do país, foi lento e tardio o aparecimento da máquina a vapor no concelho de Paços de Ferreira. Muito poucas indústrias tinham o vapor como fonte de energia. São do presidente da Câmara Municipal D. José Maria Queiroz Lencastre as seguintes palavras dadas numa entrevista ao Comércio do Porto em 1929:
Verificará a existência de três fábricas a vapor: um de mobiliário e moagem, em Freamunde (Albino Matos, Pereiras & Barros, Limitada), duas na vila, uma de torneiro para manufacturas de canelas, bobines e outros utensílios para a indústia de tecelagem (Barbosa, Alves e Sousa, Limitada) uma de serração e moagem (Mattos e Bacelar).
A vulgarização no sector industrial das máquinas a vapor exigiu, em noma da segurança, que fossem tomadas algumas medidas para regular as condições do seu estabelecimento e funcionamento. A primeira legislação data de 1862. Este decreto faz a classificação dos estabelecimentos insalubres, incómodos e perigosos e considera as caldeiras como perigosas pela eventualidade de explosão e incómodas pelo fumo que libertam. Mais tarde, em 1922, é publicado o regulamento de higiene, salubridade e segurança nos estabelecimentos industriais, bem como o regulamento das indústrias insalubres, incómodas, perigosas ou tóxicas. Achando-se compreendida na tabela anexa ao decreto-lei, a fábrica de Albino de Matos, Pereiras & Barros só vem a legalizar a sua situação seis anos mais tarde, em 1928, como refer o edital:
Eu José dos Santos Salvador Viegas Engenheiro-Chefe da 1ª Circunscrição Industrial; Faço saber que Albino de Matos, Pereiras e Barros, Lda pretende uma marcenaria mecânica e moagem de cereais em Freamunde, freguesia de Freamunde, concelho de Paços de Ferreira, Distrito do Porto, confrontando ao norte com a estrada distrital, sul com os herdeiros Manoel G. Pereira, nascente com António Fonseca, J. F. Moreirae C. Alves da Cruz.
E como o referido estabelecimento industrial se acha compreendido na tabela 1 anexa ao regulamento das indústrias insalubres, incómodas, perigosas ou tóxicas, aprovado pelo Decreto nº 8364, de 25 de Agosto de 1922, sendo um estabelecimento de 2ª classe com os inconvenientes de barulho e perigo de incêndio, são, por isso e em conformidade com as disposições do mesmo decreto, convidadas todas as pessoas interessadas a apresentar, por escrito, na 1ª Circunscrição Industrial, com sede no Porto, Rua Sá da Bandeira, nº 142-2º, as suas reclamações contra a concessão da licença requerida, no prazo de 30 dias, contados da data da publicação deste Edital, podendo na mesma repartição ser examinados os desenhos e mais documentos juntos ao processo.
Porto e Secretaria da 1ª Circunscrição Industrial, 26 de Novembro de 1928. O Engenheiro-Chefe José dos Santos Salvadpr Viegas.
JOAQUIM MANUEL FERNANDES DE CARVALHO
Ps - Abdiquei do título do texto pois entendo que a Indústria do Mobiliária teve e tem sede em Freamunde.
Por isso gosto de dar o seu a seu dono.
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