Longe vão os dias de novembro de
2015 quando António Costa declarou o óbito ao «arco da governação» do nosso
descontentamento e convergiu com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para a
criação de uma maioria parlamentar, que perduraria nos quatro anos
seguintes. Não deveria ter-me iludido,
já que o passado me dera lições bastantes sobre a inconveniência de acreditar
na competência, lucidez e determinação dos que considero os da minha trincheira
política. É que ficaram pelo caminho muitas das vãs esperanças alimentadas logo
a seguir à Revolução de Abril!
Quatro anos depois, com o governo
minoritário a fechar-se de forma autista numa falsa autossuficiência, as demais
esquerdas a darem tiros nos pés em nome de dogmas insensatos e a acelerada
reconversão das direitas aos seus pendores mais extremistas, dá para recear o
que nos trará o futuro a médio prazo. Até porque estará em Belém quem para lá
foi com a assumida missão de devolver o poder aos que considera donos disto
tudo e andam por ora a conterem os danos de não o abocanharem para já.
No governo aplaudo o que Pedro
Nuno Santos tem feito em prol da recuperação da ferrovia, mormente o que agora
se sabe a propósito de aquisição de composições à Renfe de forma a contornar as
limitações do aumento da procura dos serviços da CP enquanto não chega o novo
material circulante já encomendado. Mas é difícil engolir a amarga pílula de
Marta Temido lançar novo concurso para a PPP do Hospital de Cascais ou Graça
Fonseca nomear para o Património quem o vai querer rentabilizar a favor dos
interesses imobiliários donde é oriundo.
As esquerdas governamentais
poderiam ganhar lucidez, seguindo o conselho de Manuel Carvalho da Silva que,
no Diário de Notícias, reconhece que o Bloco e o PCP precisam de defender-se
das inusitadas desconsiderações socialistas “mas terão de ser mais convergentes
e ofensivos na definição da agenda desta legislatura”, buscando menores
denominadores comuns onde mais sentido fazem. E dá exemplos: no perfil da
economia, na distribuição da riqueza, na coesão social e territorial, nos
constrangimentos orçamentais e no serviço da dívida. Sem desprimor para as
qualidades negociais de Duarte Cordeiro, podemo-nos questionar se o referido
Pedro Nuno Santos não estará a fazer mais falta na recriação parlamentar de
coligações positivas, que obstem à repetição das de sinal contrário, causadoras
de indigestos amargos de boca no passado?
É que, como conclui o antigo
líder da CGTP, hoje investigador na Universidade de Coimbra, “só assim
existirão espaço e condições para soluções que não matem a justa esperança da
esmagadora maioria dos portugueses.” Tanto mais que o reverso dessa hipótese
pode revelar-se sinistro se potenciar o incremento da influência social e
eleitoral da desventurada assombração sugerida por algumas sondagens.
Publicada por jorge rocha
Do Blogue Ventos Semeados
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