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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Populismo — de Pisistratus a Marcelo, a mesma cartilha:

O grego (ateniense) Pisistratus é considerado pelos estudiosos da política como o primeiro populista demagogo na história ocidental. É o mais antigo populista demagogo. Marcelo Rebelo de Sousa não é o primeiro populista demagogo de Portugal, mas é o de maior sucesso, o mais activo e a funcionar 24 horas por dia.

Pisistratus pretendeu ser arconte de Atenas, o detentor dos poderes reunidos do basileu, o rei, e do comandante dos exércitos, o polemarco. Marcelo Rebelo de Sousa, além dos poderes do basileu e do polemarco pretende concentrar o poder do arconte tesmótetas, o que preparava as leis e velava pela sua execução.

Marcelo quer ser rei, general, chefe do governo e presidente da assembleia. Qualquer coisa entre um cocktail e um shot.

Pisistratus descobriu cedo que o povo era facilmente iludido por gestos simbólicos e a sua primeira medida como arconte foi transformar-se num “homem do povo”. Marcelo fez também a mesma descoberta com tenra idade, no início da carreira. Filho de ministro do Estado Novo, jornalista, professor de Direito, jurisconsulto, chefe partidário, administrador de casas ducais, amigo de banqueiros e comentador televisivo surgiu também como a voz do povo e um homem do povo que beija ao vivo velhinhas, dá de comer a sem-abrigo e bebe ginginhas no Barreiro, além de ir a Fátima em peregrinação e à bola para aclamação! São os afetos! Tão populares e consoladores como os coiratos à porta dos estádios.

Pisistratus, o pai do populismo, fazia campanha como herói triunfante, e era carregado aos ombros do povo como guerreiro vitorioso sem jamais ter participado numa batalha ou vivido um desafio. Marcelo também não possui no currículo nenhum feito heróico, nem de relevo que o ice ao Olimpo, a não ser o banho no Tejo e umas voltas em Lisboa ao volante de um táxi, mas fala como se tivesse soprado a Lua, saneado as contas públicas, apagado os incêndios infernais, enchido as barragens, canonizado os pastorinhos de Fátima, distribuído a raspadinha e impedido as invasões dos produtos chineses.

Ao longo dos séculos todos os Pisistratus fingiram demonstrar empatia para com os sofrimentos dos mais carentes e excluídos da sociedade, como Marcelo tão bem finge. Mas a comiseração dos populistas tem como único objetivo a obtenção do voto, do aplauso fácil, da aclamação. É o que faz mover Marcelo. Sempre que acreditarmos nos carinhosos abrações e nas selfies de Marcelo devemos ter a consciência de estar a ser hipnotizados por um Pisistratus moderno.

O populista apela à simpatia do povo para construir o seu poder. Baseia o seu discurso na denúncia dos males que as classes privilegiadas causam no povo. Apresenta-se como redentor dos humildes. O populista divide a sociedade em dois grupos homogéneos e antagónicos: o ‘povo simples’ e a ‘elite corrupta”. O populista assume-se como o único que representa o povo contra os corruptos, mesmo contra as leis. Aí temos de novo Marcelo, o sorriso de Marcelo, o palpite de Marcelo, o recado de Marcelo, a facada de Marcelo.

O populista universal é um narciso apaixonado por si, que se orgulha tanto da sua irresponsabilidade como da sua inimputabilidade. Marcelo é o demagogo que se coloca acima da lei da divisão de poderes em nome do povo que vota em quem tem o dever de elaborar as leis. O demagogo, como Marcelo, entende que fala directamente com o povo, que é a voz de deus, embora, logo de seguida, beije as mãos dos padres com beata genuflexão.

Um populista narcísico como Marcelo, se chegar à conclusão que alguém pode fazer-lhe sombra, tentará minar o seu prestígio e reputação. Balsemão e Portas queixam-se dessas caneladas que deixaram nódoas.

Marcelo Rebelo de Sousa está constantemente preocupado com fantasias de poder e sucesso. Crê ser especial e faz tudo para lhe reconhecerem essa qualidade. Exige admiração dos outros e sente “estar no seu direito” aproveitar-se dos outros para benefício próprio.

As acções e as aparições de Marcelo Rebelo de Sousa, os seus gestos e as suas expressões de afectos têm como finalidade fazer dele o centro das atenções.

Acredita que possui todas as qualidades. Prefere atuar sozinho, sem dar espaço aos outros ou delegar funções. Apenas exige que os outros façam o que lhe convém. É essa a razão do jogo perverso de gato e rato que impôs a António Costa após os incêndios do Verão. Os incêndios no centro do país mostraram Marcelo Rebelo de Sousa como um jogador com ases na manga e dados viciados.

Ele é e faz tudo para o ser o “funcionário do dia”, o “funcionário da semana”, do mês, do ano, “o funcionário modelo”. Na antiga União Soviética seria um herói do trabalho. Quer que a sua fotografia, a sua imagem fique pendurada nas paredes dos locais que visita, que todos saibam quem ele é e o que fez.

O populista, com a sua doentia necessidade de reconhecimento, é um tipo inseguro, que não confia em si próprio. Perigoso porque está à mercê dos sabujos que lhe preenchem o vazio, dizendo e gritando que ele é o bom, o capaz, o conseguidor, o salvador, ou que produzem os elogios que o fazem sentir-se inchado, diante do espelho.

Vemos Marcelo Rebelo de Sousa na televisão e podemos achá-lo engraçado, mas na verdade ele é um populista. Um populista simpático, mas um demagogo egoísta e narcísico.


Os portugueses votaram maioritariamente nele. Há que o aceitar como é e decifrá-lo.

Por Carlos Matos Gomes

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