A primeira página do Público de hoje merece ser vista e revista, lida e
relida, pensada e repensada, os jornalistas do Público dizem num único título o
Estado a que a democracia portuguesa chegou, dizem-no de forma espontânea, como
se alguém tivesse adotado um artigo 1.ºA da Constituição no rescaldo das
imensas sessões de beijinhos, desde os beijinhos a crianças ao beijinho no anel
do arcebispo à saída da missa. Um artigo a dizer que no país nada pode ser
feito e decidido sem o conhecimento prévio de Marcelo.
“Partidos aprovaram bónus de milhões sem dizer nada a Marcelo”, ao que
isto chegou! Quem poderia imaginar que um dia os partidos deste país tivessem a
coragem de alguma vez fazerem a este Marcelo o que a ANP, nem mesmo os
deputados da ala liberal, alguma vez ousaram fazer ao outro Marcelo, por
coincidência o padrinho deste. Ao que isso chegou, os partidos andarem a
decidir coisas no parlamento sem dizerem, isto é, sem pedirem autorização a
Marcelo!
Ao que isto chegou! Será que estes barrabotas dos nossos deputados já
pensam que são arcebispos e estão convencidos de que o Presidente vai começar a
reproduzir as suas homilias à saída do parlamento como se fosse os seus guias
espirituais? Já não há respeitinho, os deputados já se dão ao luxo de decidirem
coisas no parlamento sem que Marcelo seja avisado com a devida antecedência.
Os partidos ainda não parece terem percebido que antes de decidirem
qualquer coisa no parlamento devem pedir uma audiência em Belém e meterem-se na
bicha como fazem todos os bons portugueses, as senhoras das Raríssimas antes de
caírem em desgraça o sindicato que nos tempos em que Marcelo ia ao Ténis com o
Ricardo era patrocinado pelo BES, os provedores das santas casas, os mais
variados representantes do clero, a seleção de futebol e todas as outras forças
vivas da sociedade.
Um dia deste compramos o Público e vemos lá escarrapachado que a Junta
Freguesia da Messejana decidiu mudar a torneira do fontanário sem primeiro
fazer o devido aviso a Marcelo, para que o Presidente não fosse apanhado de
surpresa por uma torneira nova. Ao que a pouca vergonha do nosso parlamento
chegou, decidir coisas sem avisar primeiro Marcelo! Enfim, é como o compadre
que apanhou a mulher com o amigo e exclamou com grande indignação “com estes
modernismos ainda vais fumar para a cama!”.
Haja respeitinho, Marcelo quer saber de tudo e nada se deve fazer sem
que Marcelo seja devidamente informado, a Marcelo cabe decidir semanalmente
quais as prioridades do governo para os próximos anos, acompanhar as obras de Pedrógão,
certificar-se de que os anéis dos bispos estão bem lavados, enfim, tudo o que
de importante suceder no país tem de ter o seu visto prévio.
Do blogue (Jumento)
Sem comentários:
Enviar um comentário