Trabalhei com ele no efémero semanário O Ponto, o meu primeiro jornal,
e pouco depois no Diário Popular, juntos no gabinete de "grandes
repórteres" - ele, o César da Silva e eu. Para todos do jornal e para a
cidade, havia ele, Baptista-Bastos, e os outros. Os outros do tal gabinete
também consideravam isso e, suspeito, até o próprio. Porque, não havia volta a
dar, ele era o Baptista-Bastos. O. Nesses tempos outros jornalistas ousavam
apresentar-se "eu sou o Fulano de Tal", um artigo definido que todos
sabíamos estar tomado pelo BB. Ele e eu demo-nos só bem num curto momento
inicial e nunca mais. Porque sim, razões dele e minhas. Durante e depois de nos
darmos bem, sempre tive vontade de o ler. Nas tardes de quarta-feira, n"O
Ponto, ele chegava ao primeiro andar de um casarão da Rua da Rosa com as resmas
de papel amarelado rasgadas por grossas letras à mão - a entrevista da semana.
Sentava-se com os cantos da boca caídos e passava à máquina as suas e as
palavras dos outros, teclando com força, certo da nossa expectativa. O
português era sempre soberbo e as frases sonoras. Nas perguntas e nas
respostas, o que alimentava a lenda de que o Bastos inventava. Num antigo livro
de entrevistas, As Palavras dos Outros, o futebolista Matateu respondia-lhe com
esta ingenuidade: "Escreva o que quiser (...), mas não ponha lá que eu
disse mal. Matateu não diz mal de ninguém." Hmm..., também sorri eu,
quando li o livrinho tão bom. Um dia, fui ao aeroporto da Portela, Matateu
chegava do Canadá para onde tinha emigrado há muito. Era segredo (ou
esquecimento), fui o único à espera. O grande Matateu vinha com uma senhora
loura, a sua mulher canadiana, e varreu com um sorriso as minhas perguntas. E,
como eu insistia, disse-me: "Olhe, ponha o que quiser, logo que não seja a
dizer mal." As lendas, e agora não falo do grande rematador do Belenenses,
carregam consigo eternas dúvidas. Será que Matateu leu a sua entrevista ao BB e
interiorizou a magnífica resposta? Mais tarde, na televisão, Herman José
recriou BB e pô-lo a recordar personagens das velhas redações de jornais.
"Estou a vê-lo a entrar com o seu castor debaixo do braço"... As
novas gerações irão recordá-lo por esse tão conseguido pastiche. E tão injusto,
porque Baptista-Bastos era as palavras dele, que tão bem soavam nos jornais de
papel.
Umas de maior importância que outras. Outrora assim acontecia. É por isso que gosto de as relatar para os mais novos saberem o que fizeram os seus antepassados. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdios se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Rádio Freamunde
https://radiofreamunde.pt/
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