Em março de 2011, pouco mais de dois
meses antes das eleições, o então aspirante a secretário de Estado Adjunto do
primeiro-ministro dizia, a propósito do rating da República portuguesa, que mal
as agências de notação ouvissem dizer que o PSD ia para o governo, a avaliação
de risco mudaria imediatamente. A tese de Carlos Moedas era simples e,
porventura, verdadeira: "Há muito tempo não dão credibilidade ao governo
português." Pedro Passos Coelho, então líder da oposição, alinhava pelo
mesmo diapasão: "Os mercados não acreditam no governo."
Intrépido e audaz, Moedas haveria de
ir mais longe no vaticínio ao assegurar que, uma vez confrontados com o
programa de reformas que o PSD pretendia aplicar mal chegasse ao poder, os
agiotas da finança não teriam outro remédio que não fosse mudar de opinião e
subir o rating nacional. A história, como é óbvio, não lhe deu razão. Na
primeira semana de julho, já com o programa de governo aprovado e com o
enérgico Moedas promovido a capataz da troika, a confiança em Portugal foi
posta no lixo. Era o primeiro "murro no estômago" do governo liderado
por Passos Coelho.
Passados quase quatro anos, a
situação não mudou. Ou melhor, mudou. Carlos Moedas é comissário europeu.
Temos, garante a ministra das Finanças, os "cofres cheios" e
previsões de crescimento nunca vistas, que variam entre os 1,2% dos mais
pessimistas e os 2% dos mais ufanos. As taxas de juro da dívida pública
portuguesa, quase 130% do PIB, estão, reconheça-se, em mínimos históricos em
todas as maturidades. Mas por conta do programa lançado por Mario Draghi para
compra de dívida europeia pelo Banco Central Europeu. De caminho, foi o rasto
de destruição que se conhece. E o país, dizem-nos a cada passo, está muito
melhor mesmo que para isso a vida das pessoas tenha de ter ficado muito pior.
Dos mercados chegam-nos notícias de
arromba. Éramos lixo e lixo continuamos. Mas agora com pedigree. Somos lixo
"estável", classifica-nos a Fitch, que é como quem diz, de qualidade.
Passos Coelho e Maria Luís são, afinal das contas, uns incompreendidos.
Diligentes e bons alunos, impõem sacrifícios e empobrecem as famílias para
aforrar os cofres do Estado. E a paga que as agências de rating têm para lhes
dar é uma medalha de entulho, de boa estirpe é certo, mas de entulho.
A desconfiança da Fitch, mesmo
resultando do desprezo que os avaliadores do risco têm pela democracia - num
statement recente de um analista era afirmado, preto no branco, que um dos
maiores problemas que Portugal enfrenta são as eleições legislativas de 2015 -,
está em linha com as previsões das instituições internacionais que não
acreditam no cumprimento das metas por parte do governo nem na apregoada
recuperação da economia portuguesa.
Na verdade, a pergunta que hoje se
deve fazer é de que é que nos servem os cofres cheios que a ministra das
Finanças se empenha tanto em exibir?
Tal como em 2011, esclarece--nos
agora o primeiro-ministro, a Fitch, a Standard & Poor"s e a
Moody"s não farão subir o rating da República antes das próximas
legislativas. Mas para isso, está nas suas entrelinhas, é preciso que PSD e CDS
voltem a ganhar as eleições.
Talvez fosse bom Passos Coelho
telefonar ao oráculo Moedas para lhe perguntar se, tal como em 2011, os
mercados estão eufóricos e expectantes por um novo programa de reformas que
esta maioria, agora renovada, tem para apresentar. Ou se, pelo contrário, as
agências de rating que em 2011 não acreditavam em José Sócrates e em Teixeira
dos Santos não são afinal as mesmas que em 2015 não acreditam em Pedro Passos
Coelho e em Paulo Portas.
NUNO SARAIVA
Hoje no DN
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