Estava sentado num banco na antiga Praça do Mercado a pensar na vida,
no que ela se tornou, e dizia para os seus botões: não pode ser. Freamunde não
merece esta desdita! Era assim que meditava o Rafael da “Bina”. No seu
pensamento ainda ia as manhãs em que para ali se deslocava para receber a
sombra das árvores e a frescura da água que subia e descia na Fonte Luminosa do
Lago ali existente. Que bem lhe sabia! Com a evaporação e o vento das árvores a
sua face recebia o salpicar da água como beatas recebem água benta. Estava ali
todo prazenteiro. Neste vaivém de pensamentos, que neste momento eram irreais,
pois o Lago e a Fonte Luminosa deixaram de ali ter o seu poiso, aproximou-se
dele o Quim “Careca” que lhe pediu se podia sentar-se no banco.
- Porque não! Se o banco é público e a missão dele (banco) é dar poiso
de quem dele necessita - respondeu Rafael da “Bina”. Aliás, continuou, antes
havia vários mas não sei o motivo por que os estão a tirar. Se calhar querem fazer
como o governo que está a tirar-nos tudo. Estas pessoas, nas escolas ou nas
universidades, só aprenderam o verbo subtrair. Argumentaram que é para dar mais
espaço para os divertimentos nas festas Sebastianas. Mas já vai em quase dois
meses e não há maneira deles serem novamente colocados.
- Ouvi dizer, aqui entrou Quim “Careca” na conversa - que é com o
intuito das pessoas passarem a ir com mais frequência para o Parque de Lazer!
Será? É que eu há muito que não venho a Freamunde, embora seja aqui residente,
mas como muitos tive de emigrar porque perdi o meu emprego e o subsídio de
desemprego não dava para viver. Assim tive de me fazer à vida e ir para França.
- Então há muito que aqui não vem - disse-lhe Rafael da “Bina. Pois
melhor que nós dá conta do mal que estão a fazer a Freamunde. Nós todos os dias
nos apercebemos do que nos vão tirando. Quem vem de tempo a tempo melhor nota essas
transformações.
-Transformações? - Diz Quim “Careca”. Se fosse anomalias vá que não vá!
Ou acha que o Centro Cívico ou como lhe queiram chamar está melhor!
- Oh homem de deus não interprete mal as minhas palavras - disse Rafael
da “Bina”. E… transformações tanto se pode aplicar para o bem ou para o mal.
- Eu sei, eu sei - respondeu o Quim “Careca”. Mas dá pena ver esta
calamidade. Quando se candidatam à Junta de Freguesia prometem o céu e a terra,
depois de ali estar, dizem que o dinheiro que o governo dá para as autarquias
não chega a nada. Mas pactuam com isso. Não dão um murro na mesa e abandonam o
cargo.
- Isso é que era bom - disse Rafael da “Bina”. Ficam com o gosto e não
mais querem sair dali. É ver o que acontece com os que já completaram três
mandatos! Vão candidatar-se a outras Câmaras ou Juntas de Freguesias. Devia ser
como as juntas de bois: um ano ou dois.
- Tirou-me a palavra da boca - disse Quim “Careca”. Em França não se vê
nada disso. Os eleitos têm um respeito pelos munícipes (ménages) que você nem
julga. Ali anda tudo direitinho. Se assim não for nas próximas eleições não lhe
dão o voto.
- Aqui não é assim - argumentou Rafael da “Bina”. Parece que quanto
mais me bates mais gosto de ti. Não vê os outdoors. Da maneira que se
apresentam parece que não fizeram parte da Junta de Freguesia ou da Câmara
Municipal. Aqui basta mudar o candidato e tudo fica bem. Até parece que a culpa
foi só do Presidente da Junta de Freguesia.
- É como no futebol quando os resultados não aparecem - contrapôs o
Quim “Careca”, basta mudar de treinador. O pior é que os resultados continuam a
não aparecer e volta-se a mudar o treinador. Quando se sabe quem devia ser
mudado.
- E, enquanto não se proceder assim tudo continua na mesma - estas
palavras foram ditas por Rafael da “Bina”. E pode ficar ciente, porque o digo
com toda a franqueza. Sei em quem não vou votar.
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