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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Um Nome. Freamunde: (3)

O rei não tinha quaisquer direitos
"Freamunde é hoje uma vila bem equipada ao nível escolar e de formação profissional. Nem sempre assim foi, se bem que tenha de registar-se um avanço relativo desde tempos que remontam ao Sec. XV. Segundo o investigador da história de Freamunde, Coronel Baptista Barreiros, numa época em que só o clero e nem todo, sabia ler e escrever, já Freamunde contava com um elevado número de gente alfabetizada a avaliar pelas inúmeras assinaturas registadas em todo o género de actas de Confrarias e Irmandades. Alguns dos membros das Confrarias eram "mestres de primeiras letras" já nos finais do Sec. XVII.
Parece também que se generalizou bem cedo o afã colectivo de aprender, quer em locais apropriados, quer nas casas particulares. Mais uma vez se tem de registar a enorme contribuição das várias Confrarias locais para a instrução e para a cultura e arte!
Religião e arte sempre andaram ligadas; sempre aquela foi mãe desta e esta filha do fervor religioso, que fazia exacerbar as mentes e os corações, tornando-se verdadeiro motor para o arranque da imaginação e sentido estético, sem o que a arte não existe. É no fechar deste círculo que em Freamunde aparecem os anónimos artistas que erigiram os seus templos, cinzelaram as suas pedras (com as cruzes do "Calvário Velho" e a esquecida, mas maravilhosa "Pieta" da desaparecida Capela do Senhor do Calvário), entalharam e douraram os seus altares, pintaram os seus retábulos, bordaram os seus paramentos ou simplesmente os adornaram em dias festivos. Dias de Arte perdida... Como o lendário escultor que se entregava a criar estátuas de fumo, cuja beleza se perdia em poucos instantes, também os artistas Freamundenses malbaratavam a sua arte, quando das procissões, na arquitectura dos seus andores, no imaginoso da sua figuração e, sobretudo, nos maravilhosos tapetes de flores cuja lembrança os anos vão apagando...
Todos de carácter religioso, os muitos festejos que em Freamunde se realizam ao longo do ano, comportam hoje, contudo, características profanas que muito os têm engrandecido.
Associações Freamundenses
Mas o Associativismo e a criação cultural passa por outros grupos de igual dinâmica: Uma casa de cultura (com sala de exposições, auditório e sala de leitura). Uma associação de Artes e Letras (A.A.L.F); com sede própria. Uma Associação Juvenil "Ao Futuro" (A.J.A.F). Uma Associação Musical, fundada em 1882. Uma associação de pais e encarregados de educação da Escola C+S. Um Clube Recreativo, fundado em 1926, com sede própria. Uma escola infantil de música, fundada em 3 de Janeiro de 1973. Um Grupo Teatral. Um Grupo Folclórico. Duas Associações mutualistas: (Associação do Seguro do Gado e Associação dos Socorros Mútuos). Uma associação humanitária: a dos Bombeiros Voluntários.
 
Associação de Socorros Mútuos Freamundenses.
Deste valioso lote associativo, só a "Associação de Socorros Mútuos Freamundense" se encontra, praticamente, inactiva, uma vez que os seus estatutários foram impiedosamente relegados e ultrapassados pelos modernos sistemas de assistência e previdência. Tem, porém, para os Freamundenses um valor sentimental enorme pelos serviços prestados à terra.
A importância da Associação
A importância desta velhinha associação era de tal ordem, que nessa época (fins do século XIX), a melhor credencial que um rapaz podia apresentar aos futuros sogros, no dia do pedido de casamento, era o cartão de sócio desta associação; e pais havia que os chegavam a exigir como condição "sine qua non" para o acto... Hoje, a velha associação ainda mantem alguma utilidade, pois serve, estatutariamente, de suporte jurídico a um Jardim de Infância e no seu salão chegou a projectar-se a construção de um Teatro de Bolso para o Grupo Teatral Freamundense (já efectivado).
No afã de angariar fundos para esta Associação, germinou o gosto pelo teatro em Freamunde.
Primeiro nas festas organizadas por Alexandrino Chaves, aí pelo início do século, depois, na década de quarenta com Leopoldo Pontes e mais recentemente, a partir de 1963 com a fundação do G.T.F.
O teatro deve já ao G.T.F uma enorme contribuição artística com encenações de alta qualidade cénica de muitos actores nacionais e estrangeiros.
Refira-se, porque importante para o conhecimento da etnografia local, as representações regulares da peça de Fernando Santos, uma figura singular de timoneiro do teatro em Freamunde.
Da sua autoria representa-se de tempos a tempos a opereta Gandarela cujos traços de raiz e força popular, mostram "coisas que o mundo tem, que, sendo do mundo, são também um pouco de todos nós..."
É uma preciosa continuidade de velhas tradições teatrais perdidas no tempo e de que a memória regista ainda os autos de "Adão e Eva," a "Dança do Menino", "A Perdição do Mundo' e outros de sabor profissional muito ao gosto medieval, como a "Dança dos Alfaiates" (todos juntos a matarem uma aranha), ou a "Dança dos Pedreiros" (com as desventuras do rapaz dos picos), tudo a lembrar as criações vicentinas.
A banda de Freamunde, fundada em 1822, regista actualmente 174 anos de actividade ininterrupta.
Tendo como actividade principal o ensino e promoção da cultura musical, orgulha-se de, da sua escola, terem saído grandes músicos, que integraram ou integram os quadros das bandas da GNR, Força Aérea, Marinha, PSP, RIP, Orquestra do teatro de São Carlos, professores nas Escolas Profissionais e artísticas de Viana do Castelo e Caldas da Saúde.
Da sua vasta actividade, destaca-se o facto de já haver actuado em todo o Portugal, de ter efectuado quatro digressões ao estrangeiro (uma a Espanha e três a França) a convite das comunidades Portuguesas e dos consulados respectivos.
Participou em vários concursos onde foi distinguida com diversos prémios, nomeadamente uma "Batuta de Marfim", uma "Batuta Encastrada a Ouro" e uma "Medalha de Ouro."
Em 1979, alterou-se a designação de Banda Marcial de Freamunde para Associação Musical de Freamunde, situação que se impunha pela polivalência que a instituição atingiu, nomeadamente no aspecto da formação.
Em Maio de 1992, viu reconhecido o seu trabalho em prol da cultura musical, com a prestigiosa distinção de "Pessoa Colectiva de Utilidade Pública" atribuída pela Presidência do Conselho de Ministros.
Em 6 de Novembro de 1995, recebeu das mãos do Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira a "Medalha de ouro de Altruísmo e Mérito," como reconhecimento do seu papel insubstituível no campo da música e da formação.
"Entre a arte e a arte, já o tempo e o espaço da arte coexistem na estética de Quim Bica. Isto só porque um «saber» do «saber» se lhe escapa: o da arte dele próprio. Mas o artista sabe-o? Ou, por outro lado, em que grau ele passa a sabê-lo e, progressivamente, a ignorá-lo? Sejam porém quais forem as gradações em que gravitem as consciências criativa e contemplativa do pintor, a verdade é que na sua arte outros signos agem muito fora das semióticas regiões do seu alcance cognoscitivo. É de resto da grandeza desta extravasão e da situação estética daquelas gravitações que decorrem as medidas pelas quais as «ingenuidades» possíveis se nos apresentam.
O presente conjunto de esculturas, pinturas e objectos constitui a primeira tentativa de retrospectiva da obra deste artista de Freamunde. Na diversidade das técnicas que tem utilizado, o prodígio das suas criativas inquietações. Da madeira rendilhada ao livro de vidro, como balizas de um talento popular."
De um ensaio de Fernando Alvarenga
Publicado pela AJHLP em 1985
Continua:

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