Estudo no 12º ano, tenho 18 anos. Sou uma entre os 75 mil que têm o seu
futuro a ser discutido na praça pública.
Dizem que sou refém! Dizem que me estão a prejudicar a vida! Todos
falam do meu futuro, preocupam-se com ele, dizem que interessa, que mo estão a
prejudicar…
Ando há 12 anos na escola, na escola pública.
Durante estes 12 anos aprendi. Aprendi a ler e a escrever, aprendi as
banalidades e necessidades que alguém que não conheci considerou que me seriam
úteis no futuro. Já naquela altura se preocupavam com o meu futuro. Essas
directivas eram-me passadas por pessoas, pessoas que escolheram como profissão
o ensino, que gostavam do que faziam.
As pessoas que me ensinaram isso foram também aquelas que me ensinaram
a importância do que está para além desses domínios e me alertaram para a outra
dimensão que uma escola “a sério” deve ter: a dimensão cívica.
Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros, fui ensinada por
professores! Esses professores ensinaram-me a mim e a milhares de outros alunos
a sermos também nós pessoas, seres pensantes e activos, não apenas bonecos
recitadores!
A fotografia é um acrescento meu
Talvez resida ai a minha incapacidade para perceber aqueles que se
dizem tão preocupados com o meu futuro. Talvez resida no facto de não perceber
como é que alguém pode pôr em causa a legitimidade da resistência de outrem à
destruição do futuro e presente de um país inteiro!
Onde mora a preocupação com o futuro dos meus filhos? Dos meus netos?
Quem a tem?
Onde morava essa preocupação quando cortaram os horários lectivos para
metade e mantiveram os programas?
Onde morava essa preocupação quando criaram os mega-agrupamentos?
Onde morava essa preocupação quando cortaram a acção social ou o passe
escolar?
Onde mora essa preocupação quando parte dos alunos que vão a exame não
podem sequer pensar em usá-lo para prosseguir estudos pois não têm posses para
isso?
Não somos reféns nessa altura?
E a preocupação com o futuro dos meus professores? Onde morava essa
preocupação quando milhares de professores foram conduzidos ao desemprego e o
número de alunos por turma foi aumentado?
Todas as atrocidades que têm sido cometidas contra nós, alunos, e
contra a qualidade do ensino que nos é leccionado não pode ser esquecida nunca
mas especialmente em momentos como este!
Os professores não fazem greve apenas por eles, fazem greve também por
nós, alunos, e por uma escola pública que hoje pouco mais conserva do que o
nome. Fazem greve pela garantia de um futuro!
De facto, Crato tem razão quando diz que somos reféns, engana-se é na
escolha do sequestrador!
E em relação aos reféns: não são só os alunos; são os alunos, os
professores, os encarregados de educação, os pais, os avós, os desempregados,
os precários, os emigrantes forçados... Os reféns são todos aqueles que, em
Portugal, hipotecam presentes e futuros para satisfazer a "porra" de
uma entidade que parece não saber que nós não somos números mas sim pessoas!
Se há momentos para ser solidária, este é um deles! Estou convosco*
Inês Gonçalves
Quinta-feira, 13 de Junho de 2013 às 22:04
Quinta-feira, 13 de Junho de 2013 às 22:04
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