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terça-feira, 12 de abril de 2011

O naco de Broa, o Fernando e a Galinha:

O Fernando é um amigo do peito. Desde muito cedo nutria por ele uma admiração muito grande. Era merecedor dessa minha estima. Quando via alguém com complicações fazia os possíveis e impossíveis por as resolver.
Deixamos de ter contactos, cada um seguiu o seu destino, a vida a isso nos obriga. Ouvia falar dele sempre por bons motivos. Continuava a brindar a roda de amigos que sempre angariava com a sua voluntariedade, pondo sempre em primeiro lugar a amizade. Não sabem o prazer com que ouvia falar dele. Uns diziam que era de uma nobreza impar.
Passaram-se uns tempos e também por afazeres profissionais voltamo-nos a encontrar. Era num País pobre onde tudo faltava: dignidade, respeito, humanidade, onde o mais forte tudo possuía e ao mais fraco tudo faltava.
Um dia estávamos todos reunidos num descampado e vemos um miúdo a correr atrás de uma galinha. Ela corria mais que o miúdo mas, mesmo assim o miúdo não desistia. Nisto apercebemo-nos que ela levava um bocado de broa no bico. Fernando nem deu tempo de pensar aos compinchas. Saiu em louca correria atrás da galinha. Ela corria, saltava, voava, mas Fernando sabia que só a vencia pelo cansaço. Enquanto lhe fizesse frente, não podia devorar o pequeno naco de broa. Cada vez se distanciavam mais de nós. As nossas vistas já não os alcançavam.
Passado uns momentos vemos o Fernando vir em nossa direcção e numa das mãos o naco de broa. O nosso sorriso abriu-se de orelha a orelha. Estes actos não abundam. Alguns diziam: são actos nobres. Não é qualquer pessoa que os pratica, só o Fernando.
Quando se junta a nós e antes de lhe ficarmos obrigados pelo seu acto, mete o naco de broa à boca e come-o. É aí que nos apercebemos que as considerações que lhe tecíamos eram infundadas. A correria atrás da galinha era para seu benefício. 

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