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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Aí vem lobo:

Numa Aldeia qualquer havia uma família que se dedicava à exploração da criação da raça de gado ovina. José e Pedro, assim se chamavam os dois filhos de Aníbal. Desde a sua nascença, José era visto pelo pai como um indesejado, da cabeça de Aníbal nunca lhe saiu a ideia de que o primeiro filho devia de ser uma menina. Ideias malucas – dizia Maria, sua esposa - onde se vê um homem, que se preze de o ser, no primeiro filho querer uma menina! Isso são coisas de mulheres - dizia-se na Aldeia - outros diziam, não é bem assim, olhem que está para nascer pessoa igual, este vale por dois.
  
Neste entretanto quem padecia era o José. Já não valia o ter de ir para o monte com o rebanho dos carneiros e estes eram em maior número e mais difíceis de guardar - por isso se chamavam carneiros - que o rebanho de ovelhas do Pedro. José não se manifestava, estava habituado a esta desconsideração, talvez um dia, quem sabe, venha a vingar-se do seu pai e de seu irmão Pedro.
Na Aldeia, comentava-se que tudo era derivado a que José era um pouco alheio à veracidade que por tudo e por nada gritava: aí vem lobo. Embora José fosse mais velho que Pedro, ambos se pareciam na voz, portanto não se sabia quem gritava. Como em tudo, há os prós e contras, essa aldeia não fugia a essa regra. Na certeza porém, a maioria, dizia que era o José que se prestava a esse tipo de atitude. Desde pequeno que demonstrava esses atributos. Nunca se rendia, desse para o que desse, ia sempre à luta. Dizia quem o ouvia, que tinha uma frase que ficou célebre na Aldeia: quem o comesse tinha de o cagar.
Pedro que era parecido com ele na voz mas no resto ficava a anos-luz, quer nas ideias, até havia quem o apelidasse de “vazio”, não ficava indiferente quando ouvia dizer que o irmão tinha falta de veracidade e até jurava – naquela Aldeia não havia telefone – que ele, raramente lhe dava conhecimento de qualquer acto.
Um dia ouviu-se na Aldeia a gritar por aí vem lobo. Como os aldeões tinham combinado, desde o último grito, que iam estar de atalaia quer num quer noutro, quando ouviram o grito já estavam em cima do acontecimento e depararam com o Pedro aos gritos, aí vem lobo, aí vem lobo, vão-me dar cabo dos carneiros. Quando viu o aglomerado de pessoas à sua frente, ainda tentou culpabilizar seu irmão mas, todos o ouviram gritar aí vem lobo, vão-me dar cabo dos carneiros, quando o que guardava era ovelhas.
O pai Aníbal sabedor de todas estas tramóias nunca chamava à realidade Pedro, parecendo que era o que queria. Aliás, dizia-se na Aldeia: tal pai tal filho.

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