Rádio Freamunde

https://radiofreamunde.pt/

domingo, 15 de agosto de 2010

O Natal:


É sinónimo de alegria como a palavra indica é a celebrar algo que vem ao Mundo. Neste caso, para celebrar o nascimento de Jesus. Das festas cristãs é a que tenho mais carinho e que celebro com maior gosto. Na véspera anda-se num corrupio a tratar das últimas prendas, é o que geralmente acontece com os Portugueses.
Este ano comigo devia acontecer o mesmo. Não acontece. Em lugar de as ir comprar já me preveni.
Nesta véspera de Natal tenho como missão e dever de ir acompanhar até à sua última morada um amigo pelas onze horas. Para mim tornou-se quase um familiar. Companheiro diário nas nossas idas até ao Centro Comercial, Ferrara Plaza, nos dias de chuva e ao Parque da Cidade de Freamunde, nos dias de sol, dar um passeio a pé ou jogar às cartas (à sueca).
Nos momentos mais difíceis da minha vida, foi um dos amigos, que me visitou no Instituto Português de Oncologia do Porto. Depois na minha convalescença em casa era visita assídua.
Era mais velho que eu uns bons anos. Nutria por ele um carinho especial. A última vez que estive com ele foi no último sábado, lá fomos os dois até ao nosso Centro Comercial. Chovia nesse dia. Andamos pelo hiper-mercado Continente gostava de apreciar o bacalhau e dizia-se entendedor. Explicava-me todos os pormenores de como o devia escolher. Que em sua casa só entrava o que era mesmo bom mais a mais nesta altura do ano.
Nos vinhos a sua preferência era o Alvarinho e Muralhas. Dizia-se apreciador e assim como o bacalhau, o vinho, tinha de ser do que gostava e do melhor. Tinha feito todas as compras para festejar com a família na véspera de Natal.
No domingo como sempre vou dar um passeio com a minha esposa e não me encontrei com ele.
Na segunda-feira como estava de chuva, após o almoço, como sempre nos dias de chuva ia buscá-lo a casa – não tinha carta de condução – para darmos o nosso referido passeio e apreciarmos as pessoas a fazerem as compras para o Natal. É o que faz estarmos aposentados e ser desta forma que matamos o tempo.
Quando me anuncio no intercomunicador, como era usual, a esposa diz-me a chorar. “Eram cerca das onze horas e trinta minutos a ambulância dos Bombeiros Voluntários de Freamunde, transportou-o na companhia da sua filha mais velha e do seu filho, para o Hospital do Vale do Sousa, em Penafiel e que ia bastante mal”. Fiquei sem palavras. Disse que à tardinha passava por lá para saber mais notícias. Assim fiz, continuava no hospital e em estado reservado.
Ao outro dia, novamente à tardinha, desloquei-me à sua residência para saber das melhoras e encontro a sua esposa sentada numa cadeira, na cozinha, a chorar e aí apercebi-me que ele tinha falecido. Não contava com aquilo foi um choque para mim. Tinha sido operado ao coração há cerca de um ano, andava bem, nada fazendo prever tal desenlace.
A esposa continuava a chorar e desabafava como acontece nestas situações. “Que ele me considerava como um irmão”. “Que lhe tinha dito que as melhores tronchudas (couve galega, em certas terras do País) que ele cultiva no seu quintal, eram para mim”. Que fiquei de as ir buscar na véspera de Natal para servir juntamente com as batatas e bacalhau, no cozido de Natal, como usamos aqui em Freamunde. Na manhã da véspera de Natal em lugar de ir buscar as tronchudas fui acompanhar o seu corpo até à sua última residência.
Com isto veio-me à lembrança as compras que ele tinha feito. O carinho que teve com as escolhas e o gosto em ter os melhores produtos para os seus. Mas o que não sabia era que não ia usufruir deles, assim como os seus familiares, nesta véspera de Natal. Para os seus outras vésperas de Natal há-de surgir, para si espero que para onde vá tenha tudo do melhor. Não por ser quase um irmão para mim. Porque realmente merece.
Eu sei que Deus é justo, proclamo essa fé, mas nestas quadras estas situações não deviam acontecer. Assim como não devíamo-nos de afeiçoar a certas pessoas para depois não sofrermos.
Mas a vida é assim.
Aqui deixo a dedicatória que usei no bouquet que lhe ofertei:
Os amigos por vezes representam mais que alguns familiares. Nos meus momentos difíceis esteve sempre comigo. No seu não pude estar. As minhas desculpas.
Fica sempre na minha recordação.

Freamunde, 24 de Dezembro de 2009

Manuel Maria Ferreira Pacheco

Sem comentários:

Enviar um comentário