(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 23/11/2025)

Caros Amigos
Verificamos que, hoje em dia e finalmente, se começa a formar uma sólida opinião que as ações da UE e do Reino Unido (além das que, por vezes, emanam dos EUA), destinadas a fomentar tensões com a Rússia, constituem afinal um enorme erro.
No entanto, também podemos constatar que uma das características do nosso tempo é que, quem tenta começar a discutir sobre as realidades da situação entre a Rússia e o dito Ocidente alargado, é imediatamente apelidado de traidor. De facto e em concreto, no dito Ocidente perdeu-se a capacidade de reconhecer as realidades.
Não se trata de uma questão de alguém ser pró-Rússia ou pró-Ucrânia ou pró-guerra, mas sim de ser pró-verdade e sensatez porque, na ausência de entendimento, na ausência de alguma solução diplomática, ou pelo menos da vontade política de encontrar uma, haverá apenas mais morte e destruição.
Quando se continua a inexoravelmente fomentar uma guerra permanente, a eventualmente escalá-la até um limite que pode acabar por nos destruir a todos, ou simplesmente a promover um conflito congelado que irá continuar a consumir vidas humanas e as parcas riquezas da Europa numa conflagração eterna. Isso constitui sim uma verdadeira loucura. E se puder ser parada, assim deverá ser. É um imperativo moral. É um dever de nós todos.
Os políticos ocidentais não percebem que as aspirações pela paz são um dever não para consigo mesmos, mas para com as suas nações e para com o seu futuro, para com os seus filhos e para com o mundo que se irá formar em resultado das suas decisões.
O dito Ocidente precisa de reconhecer que as nações não são todas iguais, têm o seu próprio interesse nacional e, de facto, há uma esfera nacional de influência ou existem responsabilidades estratégicas que implicam a necessidade de defender as suas áreas de interesse, nomeadamente nas regiões que lhes são adjacentes. O não reconhecimento do interesse nacional de outras nações pode provocar um enorme custo em vidas humanas e uma desestabilização económica generalizada, que acaba por levar aos problemas com que hoje nos confrontamos.
Assim, e como iniciativa de todos os cidadãos lúcidos do dito Ocidente e dos seus líderes que, eventualmente, readquiram alguma lucidez, deverá ser, de imediato e sem condições prévias, promovida a concretização de um Acordo de Paz compreensivo que contenha, no mínimo, as seguintes propostas dos promotores desta conferência e que passo a descrever:
● Constituição de uma “Comissão de Verdade e Reconciliação”, à semelhança do que foi feito na África do Sul do pós-apartheid e em Timor-Leste depois da independência.
● Os julgamentos por crimes de guerra deverão ser organizados pelos respectivos Estados.
● A neutralidade militar permanente da Ucrânia será consagrada na sua Constituição, bem como a renúncia da Ucrânia ao ingresso na OTAN.
● Garantias legais de que a Ucrânia não permitirá o fabrico, o recebimento, o trânsito ou o destacamento de armas nucleares e outras armas de destruição em massa no seu território.
● Garantias legais de que a Ucrânia e a Rússia não permitirão o estabelecimento de bases militares ou a presença de contingentes militares estrangeiros nos seus respectivos territórios.
● Reconhecimento do direito à autodeterminação nas suas diversas formas (autonomia regional, federalismo, secessão, integração voluntária em outro país) para a população da Crimeia e as populações das regiões leste e sul da Ucrânia que se sintam mais russas do que ucranianas e que expressarem livremente a sua vontade por meio de referendos.
● Garantias legais para a proteção da língua russa como língua cooficial da Ucrânia e dos direitos culturais (incluindo a liberdade religiosa) dos ucranianos de língua russa, bem como dos direitos culturais dos ucranianos que falam línguas minoritárias (por exemplo, húngaro e romeno).
● Fim de todas as sanções ⎼ proibição de transmissão de veículos de comunicação na UE; proibições de visto e viagens na UE, área Schengen, Reino Unido e Irlanda; congelamento de bens; restrições económicas de importação e exportação.
Para terminar, reafirma-se a necessidade de levar a cabo uma verdadeira e concreta reavaliação das realidades para que possamos sair desta presente crise.
Assim, o comité organizador desta Conferência, informalmente conhecido como “Os Quatro Mosqueteiros”, assumirá a responsabilidade de redigir uma Declaração formal. Para maior clareza e facilidade de consulta, esse documento será oficialmente intitulado Declaração da Conferência Europeia e Cidadã para a Paz na Ucrânia, Rússia e Europa.
Essa Declaração descreverá de forma abrangente as medidas inicialmente especificadas no documento fundador da Conferência. Será dada ênfase às ações, que destaquei e que foram identificadas como sendo as de maior prioridade e urgência. A Declaração será enriquecida pelas diversas contribuições feitas pelos participantes antes, durante e depois da conferência, garantindo que as perspetivas e sugestões compartilhadas sejam devidamente incorporadas.
Pensamos que o trabalho desta Conferência deverá continuar para além desta sessão. Se o desenrolar dos acontecimentos inerentes ao conflito não trouxer o ambicionado Acordo de Paz que, de certo modo, se começa a vislumbrar, assumimos desde já o compromisso de convocar uma segunda Conferência em Lisboa, no mesmo local. Essa mesma Conferência será organizada de acordo com a Declaração que vamos agora emitir, a qual será divulgada por toda a Europa com a assistência de todos os seus signatários. O objetivo dessa eventual segunda Conferência será analisar e avaliar os progressos atingidos em direção à paz durante o período decorrido, tentando assim manter o impulso e fomentando um diálogo contínuo.
Vamos acreditar que a lucidez voltará, que a sanidade vencerá e que a real vontade de concretizar um projeto de paz duradoura irá aparecer, antes que a escalada de incongruências, contradições e medidas belicistas, fomentada por desmedidas ambições políticas, acabe por nos arrastar a todos para o abismo.
Sábado, 22 de Novembro de 2025, em Lisboa.
Do blogue Estátua de Sal
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