Quer isto dizer que a presidente da Comissão Europeia segue e repete os passos da sua Alemanha dos anos 30? Quer! Mais, quer dizer que ela se propõe hipotecar duas ou três gerações com o endividamento de 800 mil milhões de euros para o dito rearmamento e que o faz numa situação muito mais desfavorável do que a Alemanha o fez no século passado.
Nos anos 30 do século passado, a Alemanha dominava as mais avançadas tecnologias da época nas áreas da aeronáutica, da construção naval, da química, da metalurgia, estava prestes a utilizar armas propulsionadas por foguetões (as V1 e V2) e estava prestes a terminar o projeto de construção de armas nucleares (foram cientistas alemães que dirigiram o Projeto Manhattan).
Hoje a Europa que a 'warmonger' Von Der Leyen quer rearmar está na cauda do desenvolvimento tecnológico — está 10 a 20 anos atrasada relativamente aos Estados Unidos, à Rússia e à China, não domina as tecnologias do aeroespacial, nunca colocou um satélite na Lua! Não dispõe de um sistema de geolocalização do tipo GPS, ou do sistema russo (glonass) ou chinês, indispensáveis à condução dos sistemas de armas, sem os quais, aviões, tanques, navios, até combatentes, estão cegos no campo de batalha. A Europa não domina as tecnologias de deceção e mistificação que permitem a luta de drones. A Europa está na cauda da utilização militar da Inteligência Artificial. Os mais poderosos computadores (quanticos) são chineses e americanos! A Europa não dispõe de um sistema de partilha de informação do tipo da internet. Está na cauda da utilização de computação quântica que dentro de dez anos dominará os sistemas de armas e de comando e controlo. A Europa de Von Der Leyen aceitou transferir as informações geradas nas redes europeias para os arquivos de dados nos Estados Unidos e à disposição das suas agências!
A Europa, sob a direção das mentes raríssimas de Bruxelas, vai reiniciar o rearmamento no momento em que as superpotências (o que Europa não é) dispõem de mais de 10 anos de avanço, o que quer dizer que, como o desenvolvimento das tecnologias é exponencial, daqui a dez anos o atraso da Europa será maior do que é hoje! Que foi o que ocorreu quando a Europa decidiu desenvolver o seu sistema de navegação Galileu (apenas para uso civil), quando o GPS americana (militar) já estava plenamente operacional.
O rearmamento da Europa prova que a ideologia que conduziu à II Guerra Mundial continua no posto de comando, que há sempre um Reich a determinar o impulso da Alemanha para o confronto com a Rússia e com isso arrastar o resto da Europa para o grande desastre, para uma situação pior do que a anterior!
O objetivo permanente da Alemanha é tornar-se o centro da Europa, o que quer dizer, dominar a Europa das penínsulas — Escandinávia, Ibérica e Itálica — a Europa central — França, Países Baixos — a Europa de Leste, até Moscovo.
É para atingir este objetivo — que vem de Bismark — que Von Der Leyen quer arrastar os europeus com as afirmações vazias de sentido e de explicação de que a Europa tem de se defender: Mas tem de se defender de quê e de quem? Qual é a ameaça que a Europa representa para as superpotências? Que valor tem a Europa para as superpotências, para que a Rússia, o estado com maior superfície no planeta, que dispõe de matérias primas em abundância, tecnologia para as transformar em produtos de alto valor, e baixa demografia invadir a Europa, envelhecida e sem matérias primas nem energia? Que valor tem a Europa para os Estados Unidos, que na estratégia da administração Trump pretende fortalecer o seu aparelho industrial interno para competir com a China e prioriza uma aliança oportunista com a Rússia para atacar a Europa, sendo certo que já avisou que poderá integrar a Groenlândia e o Canadá? Porque haveria os Estados Unidos alimentar um cão velho e dar-lhe proteção para ele realizar os seus velhos sonhos?
O outro argumento, de Von Der Leyen é do mesmo tipo do de Trump: Temos de defender os nossos valores, fazer a Europa Grande Outra vez. Mas quais são os valores da Europa apregoados em vazio por Von Der Leyen? Os do colonialismo que levou a Alemanha reunir a Conferência de Berlim? Os do nazismo e do fascismo? O da entrega da liberdade de informação aos oligarcas do regime (veja-se quem detém os grandes meios de comunicação de Portugal à Alemanha, da França à Polónia). Quem paga aos partidos políticos? Quais os valores que defende o Grupo de Bieldberg? E as universidades, as Business Schools, de onde saem os pregadores do neoliberalismo e da lei da selva do mais forte?
O rearmamento da Europa é um logro perigosíssimo, caríssimo e inútil (exceto para as oligarquias associadas às industrias de armamento) contra o qual os cidadãos europeus se devem levantar, exigindo referendos.
Carlos Matos Gomes
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