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sexta-feira, 7 de março de 2025

Entre a Grand Armée de Macronleon e a Wehrmacht de Von Der Leyen: o negócio do século!

A União Europeia é o estádio atual de um projeto criado como um espaço de livre comércio para harmonização, pela via da negociação, os conflitos de interesses para que desde a entrada na contemporaneidade marcada pela revolução francesa (1789) manteve os vários poderes, os velhos e os novos, em guerra civil permanente.
Numa lista não exaustiva de guerras entre estados europeus retirada da Wikipédia: Guerras napoleónicas (1813–1815) com a França, império austríaco, Portugal, Prússia, Rússia, Espanha, Suécia, Inglaterra; três guerras de independência de Itália de 1848 a 1859, envolvendo a Áustria, a Saxónia, a Baviera; a Guerra da Crimeia (1853–1856) com a França, o império Otomano, a Inglaterra e a Irlanda; a guerra franco-prussiana de 1870 a 1871, a 1ª Guerra dos Balcãs de 1912/13; a I Guerra Mundial; a guerra civil russa, a guerra civil espanhola, a Segunda Guerra Mundial, Guerra do Kosovo.
Goste-se ou não, J D Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos, expressou uma verdade histórica na sala oval durante a recepção a Zelenski: as ameaças da e à Europa encontram-se dentro da Europa e limitadas aos conflitos entre as potências centrais da Europa pela hegemonia: A França, o Império Austro-húngaro, a Prússia (a Alemanha atual) e a Inglaterra. São estas potências que provocaram e conduziram as guerras da Europa, que representam interesses conflituais, que têm visões incompatíveis da Europa.
É possível construir um ”exército europeu” sobre este passado?
Os exércitos nacionais, nascem com a Revolução Francesa e com a criação de uma nova entidade política: o estado-nação, que conjuga a organização política (governo-burocracia e administração da força) e os fatores de ordem da emoção, da tradição, da cultura, do sentido de pertença a uma comunidade com passado e futuro — no dizer de Braudel, com pias batismais e cemitérios.
A entidade a que as elites dos negócios transacionais — os acumuladores de capital sem pátria — designam por Europa é o quê? Não é um estado, nem é uma nação. Cada estado europeu tem a sua identidade e essa identidade foi construída através de lutas contra as identidades de inimigos variados. O conceito de ameaça de um polaco é muito diferente do conceito de ameaça de um bávaro, o conceito de ameaça de um inglês é muito distinto do de um alemão, o conceito de ameaça de um grego é muito distinto do de um turco e o de um russo muito diferente do de um inglês, ou de um alemão.
É revelador da mistificação que as elites europeias lideradas pela França e pela Alemanha (as potências que já tentaram vencer a Rússia com os resultados conhecidos) os esforços que fazem inculcar nas opiniões públicas que o inimigo comum é a Rússia e que a resposta a uma invasão russa (uma bizarra, corrupta e invertida interpretação da História, que há 2 mil anos os movimentos de conquista se entregam nas invasões de Oeste para Leste) é um “exército europeu”, é até deliberado o esquecimento das suas experiências coloniais com as suas tropas africanas no Tanganica e na Argélia: logo que a Alemanha foi derrotada na Grande Guerra e que a França foi derrotada na Argélia, esses exércitos de nativos integrados num exército supra nacional desabaram em dias e os seus elementos regressaram às suas sociedades de origem — aos seus povos e nações. Portugal tem um exemplo recente e doloroso com o que aconteceu com as tropas nativas que, perante a independência das colónias, com o caso relevante da Guiné, se reincorporaram nas suas comunidades originais, nas suas nações e povos. O refúgio é sempre da nação e não da supra nação!
O mesmo acontecerá com um exército europeu quando surgir o primeiro conflito de interesses, quando ocorrer um desastre e for necessário atribuir responsabilidades.
Não se constroem exércitos sem alma, sem passado. Não existem exércitos nacionais sem objetivos, podem existir guardas nacionais, polícias de fronteiras, mas não exércitos.
Uma pergunta a propósito da bravata de Macron de colocar a sua “force de frappe” na defesa da Europa. Mas contra quem vai ele disparar? Ou vai apenas espirrar? Numa União Europeia que é hoje internacionalmente insignificante a França é mais uma insignificância! Embora o seu animal totémico seja um galo de peito feito! A force de frappe francesa resulta da intenção de De Gaulle de manter alguma autonomia face aos Estados Unidos e da intenção destes de terem uma maioria no Conselho de Segurança da ONU, constituída pela junção da Inglaterra, a quem os Estados Unidos forneceram algumas armas nucleares e lançadores, o que permitia a maioria face à URSS e à China (na altura Taipé).
A questão do exército europeu, além do armamento, coloca a questão da identidade da Europa e não da capacidade da Europa de construir artefatos militares mais ou menos sofisticados. A promoção que está a ser feita do exército europeu é a promoção de um negócio, não a promoção de um projeto político.
Na promoção deste negócio é indispensável que os promotores expliquem quanto vai custar aos europeus este cruzamento entre a Grande Armée de Macronleon e da Wehrmacht de Von der Leyen!

O Exército Europeu trata-se de um negócio fabuloso e não de defesa, nem de segurança. E os funcionários de Bruxelas estão apenas a vendê-lo e a fazer de nós estúpidos.

(Carlos Matos Gomes, in "Medium") 

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