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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A narrativa assumida publicamente :

É que o motorista de autocarro foi atacado por miúdos, irresponsáveis, ressentidos da pobreza. Há quem tenha feito desta narrativa, em cima do sofrimento de um homem acamado, no meio do funeral de outro, peditório de madrinha de guerra. Quando achamos que não é possível bater mais fundo eticamente, o chão abata-se um pouco mais.

O ataque ao motorista foi feito por encapuçados, bem como a destruição de carros em Benfica. O que sabemos do passado é que estes movimentos são frequentemente infiltrados pela extrema direita e até pelas polícias, como já aconteceu antes em vários lugares do mundo, para justificar mais repressão. Pode ter sido um acto de vingança de "miúdos pobres"? Pode, o desespero pode levar a isso. Mas não sabemos nem o podemos afirmar. O que vi foi muitos, milhares, alguns milhares, não tantos como seria necessário, de homens, negros, dando a cara, jovens, a descer a Av da Liberdade. Não estavam lá os líderes do Partidos de centro e de direita que dizem defender o Estado de Direito. Não estava lá ninguém da Igreja Católica, que diz preocupar-se com a pobreza. Não estavam lá comentadores que dizem estar ao lado dos que mais precisam. Estavam os mesmos comentadores a essa hora a dizer que sobre a polícia que mentiu é "preciso esperar o inquérito" mas sobre o motorista atacado, não têm dúvidas.
À cabeça Helena Ferro Gouveia, que agora recolhe dinheiro para o motorista e está há um ano a justificar em directo o assassinato de crianças em Gaza. E aqui temos que nos distanciar, nós - os que condenamos o assassinato de um homem negro, o genocídio do Estado de Israel ao povo Palestiniano, e o ataque ao motorista, todos condenáveis, embora num caso a violência é despejada com mísseis, a uma população fechada num cerco -, de quem escolhe as vítimas que politicamente dão mais jeito.
Raquel Varela

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