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sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Um grupo de empresários, um iate de 15 metros e 273 mil euros: O ‘filme’ de como a Ucrânia terá sabotado o gasoduto Nord Stream:

A Ucrânia esteve por trás do ataque que destruiu o gasoduto Nord Stream, que liga a Rússia à Alemanha, em setembro de 2022, segundo uma investigação publicada pelo The Wall Street Journal (WSJ). A operação, financiada por empresários privados ucranianos, envolveu seis pessoas que, a bordo de um iate de recreio de 15 metros alugado na Alemanha, executaram o plano, que custou cerca de 273.000 euros. A missão foi supervisionada por um general com vasta experiência em operações especiais, que reportava diretamente ao então comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, o general Valery Zaluzhny.

A investigação conduzida pelo WSJ levanta questões delicadas nas relações entre Kiev e Berlim, uma vez que a Alemanha tem sido um dos principais financiadores e fornecedores de equipamento militar para a Ucrânia desde o início do conflito com a Rússia.

Em junho de 2023, o procurador federal alemão emitiu a primeira ordem de detenção contra um instrutor de mergulho profissional ucraniano, suspeito de envolvimento no sabotagem. Segundo o WSJ, este indivíduo é um dos participantes na operação. Atualmente, a investigação alemã concentra-se em Zaluzhny e nos seus colaboradores mais próximos. “Um ataque desta magnitude é motivo suficiente para ativar a cláusula de defesa coletiva da NATO, mas a nossa infraestrutura crítica foi destruída por um país que apoiamos com vastos fornecimentos de armas e milhares de milhões de dólares em ajuda financeira”, comentou um alto funcionário alemão envolvido na investigação.

O jornal norte-americano também revela que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, inicialmente aprovou o plano, mas posteriormente tentou cancelá-lo, sem sucesso.

Além da execução do ataque, o WSJ destaca as motivações por detrás do mesmo. A Ucrânia sabia que qualquer dano ao Nord Stream poderia ser vantajoso para os seus interesses, uma vez que esta infraestrutura foi projetada por Moscovo para transportar gás diretamente para a Europa, evitando passar pelo território ucraniano. A destruição do Nord Stream enfraqueceu o controlo da Rússia sobre os países europeus que apoiam Kiev e deixou Moscovo com apenas uma rota principal para canalizar gás para a Europa: os gasodutos que atravessam a Ucrânia. Esta situação permitiu a Kiev continuar a receber receitas lucrativas de taxas de trânsito, mesmo em plena guerra.

O plano foi concebido em maio de 2022, durante um encontro informal entre empresários e oficiais militares ucranianos. Foi acordado que os empresários financiariam e ajudariam a executar o projeto, uma vez que o exército ucraniano não dispunha de fundos suficientes para uma operação desta natureza. Um general em funções, especializado em operações especiais, ficou encarregado de supervisionar a missão, que um dos participantes descreveu como uma “parceria público-privada”, embora estivesse claramente sob a alçada do exército ucraniano.

Um mês depois, a CIA tomou conhecimento do plano e alertou a equipa de Zelensky para que interrompesse a operação. O presidente ucraniano ordenou então a Zaluzhny que abortasse a missão, mas o general ignorou a ordem e alterou o plano original.

O WSJ identifica poucos nomes envolvidos no golpe, mas menciona Roman Chervinsky, um coronel condecorado que anteriormente serviu no serviço de segurança e inteligência ucraniano SBU. Chervinsky, conhecido pelas suas missões clandestinas de alto risco contra a Rússia, foi um dos oficiais escolhidos para ajudar a coordenar o ataque à infraestrutura do Nord Stream, situada a cerca de 80 metros de profundidade. De acordo com o relatório, os mergulhadores necessitaram de cerca de três horas de descompressão após passarem 20 minutos a essa profundidade.

Repercussões da Investigação Alemã

A investigação, intitulada “Uma Noite de Bebedeira num Iate Alugado: A Verdadeira História do Sabotagem ao Gasoduto Nord Stream”, foi publicado no dia seguinte à emissão de uma ordem de detenção pela Alemanha contra um cidadão ucraniano residente na Polónia, suspeito de envolvimento no ataque ao gasoduto que transportava gás da Rússia para a Alemanha através do Báltico.

De acordo com o WSJ, este atentado, descrito como “uma das ações de sabotagem mais audaciosas da história moderna”, foi levado a cabo por uma equipa de seis pessoas, incluindo militares e civis com experiência marítima, que alugaram um iate de recreio de 15 metros, chamado Andrómeda, na cidade portuária de Rostock, na Alemanha. A operação esteve em risco de ser cancelada devido ao mau tempo, mas acabou por prosseguir, resultando na explosão das tubagens com recurso a explosivos ativados por temporizadores. O ataque resultou em três explosões submarinas, seguidas de um manto de mistério.

Após o ataque, surgiram especulações de que a inteligência dos Estados Unidos estaria por trás da sabotagem, uma tese promovida pela Rússia e pelos seus meios de propaganda. No entanto, em outubro de 2022, o serviço secreto exterior alemão recebeu um segundo alerta sobre o complô ucraniano, desta vez da CIA, que havia sido informada pela agência de inteligência militar holandesa MIVD.

Os investigadores alemães obtiveram todos os detalhes desde o início, incluindo o tipo de embarcação utilizada. A sorte esteve do seu lado, pois, ao sair apressadamente da Alemanha, a equipa de sabotagem esqueceu-se de limpar o iate Andrómeda, permitindo aos investigadores encontrarem vestígios de explosivos, impressões digitais e amostras de ADN dos tripulantes. Conseguiram também rastrear a rota percorrida pela equipa pela Alemanha, Dinamarca, Suécia e Polónia, embora este último país tenha sido o menos cooperante com a investigação. Até a Google foi chamada a fornecer o conteúdo de alguns e-mails do empresário ucraniano que financiou a operação.

Já em novembro de 2022, “os investigadores alemães acreditavam que os ucranianos estavam por trás da explosão”, escreve Bojan Pancevski, o jornalista do WSJ que assinou a reportagem. O suspeito já não se encontra na Polónia, e a Ucrânia não extradita os seus cidadãos. Nenhum dos participantes documentou os detalhes da operação e parece improvável que algum testemunhe, dificultando o progresso do caso.

 

Sapo 

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