OPINIÃO
Depois destas palavras, a sociedade brasileira reagiu com repúdio, tendo o próprio Abel Ferreira pedido desculpa de imediato, frisando que não aceita qualquer forma de preconceito e discriminação, assumindo o seu erro.
Mas a bola do politicamente correcto começou a girar, e levou tudo à frente, com a Ministra dos Povos Indígenas, Sónia Guajajara, a reagir de forma veemente contra as declarações de Abel, recordando de novo a questão das reparações históricas de Portugal ao Brasil…
Infelizmente, a imagem, trazida pelos europeus sobre os povos indígenas de toda a América, foi o retrato de povos selvagens. Esta imagem perdurou durante séculos, e foi ainda exponenciada nas telas do cinema, durante o último século, quando nos filmes de western, os povos indígenas eram retratados como gente perigosa e rude.
Confesso que em pequeno, me fazia muita confusão, ver aqueles homens de tanga e de flecha, serem os maus da fita, enquanto os pobres coitados dos heróis eram ‘’cowboys’’ armados até aos dentes, com enormes arsenais balísticos… Com este contributo do cinema, a conotação de ‘’índios’’ a selvagens foi ainda reforçada, e expressões como a que Abel Ferreira utilizou, são ainda hoje empregue por cá, sempre que alguém pretende classificar um grupo de pessoas como selvagens.
E foi o que aconteceu com os moradores do Bairro 25 de Abril, imortalizados na canção de José Afonso: ‘Os índios da meia praia’, que retratava as pessoas deste bairro de pescadores na Meia Praia, em Lagos.
A pobreza e as suas casas, que aparentavam palhotas, valeu-lhes a alcunha de índios, que não é um problema para os moradores! O verdadeiro problema para estas pessoas é o facto de estarem à espera há 50 anos que legalizem os seus terrenos…
Deixo a pergunta, será que estão à espera que alguém construa um resort, para despejar aquelas famílias já na quarta geração…
Voltando aos índios, e para terminar, deixo esta curiosa visão sobre ser ou não ‘’índio’’.
Um dia, o filósofo Slavoj Zizek contou um diálogo que ouvira em Montana, entre um liberal branco e um nativo americano, que se apresentava como índio. Dizia o homem branco:
- Não és índio. És um nativo americano. Não sabes disso? Estás a humilhar-te!
Respondeu o índio:
- Nativo americano é muito mais racista. Índio, pelo menos, é um monumento à estupidez do homem branco, que chegou à América pensando que chegara à Índia…
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