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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A crueldade dos inúteis:

"Pessoalmente, estranhei aquela crispação toda que se verificou antes, durante e depois do debate vindo de alguém que reconheceu muitas vezes a forma como o PCP esteve nesta fase da vida política", afirma Jerónimo de Sousa, acrescentando: "Não fui capaz de perceber. Podia ter sido uma noite mal dormida, ou outra coisa qualquer"

Fonte

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O XXII Governo Constitucional de Portugal tomou posse no dia 26 de Outubro de 2019. Dois meses depois, anunciaram-se os primeiros casos de infecção humana por SARS-CoV-2 na China. Três meses depois, era claro que uma pandemia estava em curso. Quatro meses depois, esperava-se a qualquer momento a confirmação do primeiro caso de infecção em Portugal. Cinco meses depois, é declarado o estado de emergência em todo o País e entra-se num confinamento radical, sem memória viva de situação remotamente parecida. Em todo o Mundo, tiveram de se improvisar soluções de políticas públicas num quadro de incerteza absoluta face a uma doença para a qual o organismo humano não tinha defesas e a medicina não tinha terapias nem conhecimento suficiente. A 27 de Setembro de 2021, o Parlamento chumbou o Orçamento de Estado para 2022 na generalidade, algo que nunca antes na história da democracia tinha acontecido. Entretanto, a pandemia continua. As suas consequências na saúde pública, na economia e na qualidade de vida dos portugueses também.

Não se conhecem relatos das experiências pessoais dos governantes e demais autoridades de saúde durante estes dois anos. Não sabemos como é que a pandemia alterou as suas rotinas, a sua energia, a sua saúde física e mental; assim como das suas famílias. Ignoramos o que é meter comida no bucho ou ir para a cama sob o peso e a lâmina da obrigação de ter de decidir em questões onde há milhões de vidas em risco (incluindo a própria e as do seu círculo íntimo), onde toda a população está a sofrer por tempo indeterminado e com efeitos sociais e económicos devastadores e imprevisíveis, e onde os próprios especialistas da ciência e da saúde não conseguem chegar a consensos. De vez em quando, vimos reacções emocionais em eventos públicos daqueles mais expostos política e mediaticamente. Mas não tivemos acesso a relatos descritivos, detalhados e compreensivos da sua vivência. É como se não tivessem vida interior, existência privada, dimensão humilde. Como se fossem máquinas, estátuas, anjos ou demónios. Os jornalistas e os adversários políticos continuaram a desumanizar os governantes – apesar da pandemia, apesar de não quererem estar no seu lugar.

BE e PCP decidiram que a calamidade era óptima para derrubar socialistas, por isso votaram ao lado do PSD, CDS, IL e Chega. Atingiram esse desejado objectivo sem sequer admitirem a discussão na especialidade das propostas orçamentais. Propostas que incluíam vários dos seus requisitos aceites na negociação, formando o Orçamento mais à esquerda já levado a votação. Os argumentos que apresentam para o recusar são um insulto à nossa inteligência, uma obscena e repugnante exibição de hipocrisia. Mas quando, e de imediato após a criação da absurda crise política, se abraçaram no tiro ao Costa, berrando com maus fígados ser ele o solitário culpado das eleições por ter uma obsessão pela maioria absoluta, isso é uma cruel ofensa. Esse discurso só consegue sair das suas bocas se abandonarem a racionalidade e a decência e fizerem de António Costa um monstro. Um monstro e um burro, pois, para além das exigências pessoais incalculáveis que a governação em pandemia implica, a “esquerda pura e verdadeira” garante que ele ainda quis pôr o cargo em risco e acrescentar aos seus dias a preparação em cima do joelho de uma campanha eleitoral onde só uma previsão é fatal: o crescimento do número de deputados que têm orgulho no salazarismo e ódio ao 25 de Abril.

Jerónimo, não foi só uma noite mal dormida. Tens de olhar para o calendário e fazer melhor as contas.

POR VALUPI

Do blogue Aspirina B 

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