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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A carne de Nuno Santos:

O limite de 120 km/h nas auto-estradas existe para se protegerem peões que atravessem essas vias? A quase totalidade dos atropelamentos, ou a maioria, ou um número significativo, ocorre nas auto-estradas ou nas vias rápidas? A condução pela faixa da direita quando há sinalização de intervenções na berma da auto-estrada é uma opção mais arriscada do que a de conduzir pela faixa da esquerda? É possível estabelecer a velocidade máxima em que o acidente que vitimou Nuno Santos não tivesse acontecido ou não tivesse sido letal? Desde o 25 de Abril, algum ministro e/ou Presidente da República foi transportado em carros oficiais que nunca ultrapassaram os 120 km/h nas auto-estradas durante o seu mandato ou mandatos? As viaturas da PSP, GNR e Judiciária, quando em perseguição de outras viaturas suspeitas, devem inibir-se de ultrapassar os 120 km/h nas auto-estradas? As ambulâncias em serviço de urgência devem inibir-se de ultrapassar os 120 km/h nas auto-estradas? Os carros dos bombeiros a caminho de um incêndio devem inibir-se de ultrapassar os 120 km/h nas auto-estradas? Portugal deve ser o único país no Mundo onde os governantes e estadistas estrangeiros, entre outras personalidades VIP, se limitem aos 120 km/h quando sejam conduzidos em auto-estradas? Os alemães, que permitem a condução sem limite de velocidade em certos troços das suas auto-estradas, são um povo completamente irresponsável que procura assassinar os peões que gostam, ou precisam, de atravessar auto-estradas?

A resposta a estas perguntas tontas, e a outras tantas que ficaram na gaveta, é “Não, foda-se, larga o vinho.” A velocidade máxima dos 120 km/h é uma herança de 1976 e nada teve a ver com a segurança automóvel, muito menos com a problemática dos atropelamentos. Nasceu das crises petrolíferas do início dos anos 70, limitando-se a velocidade máxima fora das localidades para limitar o consumo de combustível. Claro que se pode correlacionar esse limite com a dimensão da segurança rodoviária mas tal nexo fica cada vez mais absurdo a cada ano que passa. Porque a cada ano que passa aumenta a gigantesca distância entre as condições de segurança dos veículos dos anos 70 com as funcionalidades das sofisticadas máquinas computorizadas ao dispor dos condutores do século XXI. É por isso que todos sabemos ser o limite dos 120 km/h nas cada vez melhores auto-estradas um anacronismo absurdo face à realidade da experiência de condução.

Eduardo Cabrita poderia, eventualmente (algo ainda a esclarecer face ao protocolo de segurança a que estava sujeito), ter decidido que nunca viajaria acima dos 120 hm/h em carros do Estado que o transportassem nas auto-estradas. Sim, podia. Mas se tivesse tomado essa decisão tal não passaria de uma excentricidade absolutamente irrelevante fosse para o que fosse com interesse político, social ou outro. Daí não viria qualquer exemplo que a sociedade quisesse seguir, ninguém de ninguém abdicaria de conduzir acima dos 120 km/h nas auto-estradas pois tal comportamento é lógico e benéfico. E ainda mais lógico e benéfico é o transporte de governantes e outras personalidades notáveis para lá do limite de velocidade máximo porque, diz-nos a evidência da estatística, é preciso esperar muitas e muitas décadas para se registar um acidente – de qualquer tipo – nessas viagens.

Toda gente sabe isto, é básico. Caso se pretendesse tirar algum tipo de ilação do episódio onde um trabalhador foi colhido por um carro do Estado em excesso de velocidade numa auto-estrada, a discussão estaria a ser feita à volta das alterações legislativas, ou regulamentares, que fossem apropriadas. Mas não é isso que se pretende pois essa alteração daria origem a uma gargalhada internacional. A única coisa que se quer neste espectáculo de ódio insano é destruir moralmente Eduardo Cabrita para assim atingir António Costa, o Governo e o PS. A vida perdida de uma pessoa, e as consequências para a sua família e amigos, não passa de carne para o canhão da pulharia.

POR VALUPI

Do blogue Aspirina B


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