O limite de 120 km/h nas
auto-estradas existe para se protegerem peões que atravessem essas vias? A
quase totalidade dos atropelamentos, ou a maioria, ou um número significativo,
ocorre nas auto-estradas ou nas vias rápidas? A condução pela faixa da direita
quando há sinalização de intervenções na berma da auto-estrada é uma opção mais
arriscada do que a de conduzir pela faixa da esquerda? É possível estabelecer a
velocidade máxima em que o acidente que vitimou Nuno Santos não tivesse
acontecido ou não tivesse sido letal? Desde o 25 de Abril, algum ministro e/ou
Presidente da República foi transportado em carros oficiais que nunca
ultrapassaram os 120 km/h nas auto-estradas durante o seu mandato ou mandatos?
As viaturas da PSP, GNR e Judiciária, quando em perseguição de outras viaturas
suspeitas, devem inibir-se de ultrapassar os 120 km/h nas auto-estradas? As
ambulâncias em serviço de urgência devem inibir-se de ultrapassar os 120 km/h
nas auto-estradas? Os carros dos bombeiros a caminho de um incêndio devem
inibir-se de ultrapassar os 120 km/h nas auto-estradas? Portugal deve ser o
único país no Mundo onde os governantes e estadistas estrangeiros, entre outras
personalidades VIP, se limitem aos 120 km/h quando sejam conduzidos em
auto-estradas? Os alemães, que permitem a condução sem limite de velocidade em
certos troços das suas auto-estradas, são um povo completamente irresponsável
que procura assassinar os peões que gostam, ou precisam, de atravessar
auto-estradas?
A resposta a estas perguntas
tontas, e a outras tantas que ficaram na gaveta, é “Não, foda-se, larga o
vinho.” A velocidade máxima dos 120 km/h é uma herança de 1976 e nada teve a
ver com a segurança automóvel, muito menos com a problemática dos
atropelamentos. Nasceu das crises petrolíferas do início dos anos 70,
limitando-se a velocidade máxima fora das localidades para limitar o consumo de
combustível. Claro que se pode correlacionar esse limite com a dimensão da
segurança rodoviária mas tal nexo fica cada vez mais absurdo a cada ano que
passa. Porque a cada ano que passa aumenta a gigantesca distância entre as
condições de segurança dos veículos dos anos 70 com as funcionalidades das
sofisticadas máquinas computorizadas ao dispor dos condutores do século XXI. É
por isso que todos sabemos ser o limite dos 120 km/h nas cada vez melhores
auto-estradas um anacronismo absurdo face à realidade da experiência de
condução.
Eduardo Cabrita poderia,
eventualmente (algo ainda a esclarecer face ao protocolo de segurança a que
estava sujeito), ter decidido que nunca viajaria acima dos 120 hm/h em carros
do Estado que o transportassem nas auto-estradas. Sim, podia. Mas se tivesse
tomado essa decisão tal não passaria de uma excentricidade absolutamente
irrelevante fosse para o que fosse com interesse político, social ou outro. Daí
não viria qualquer exemplo que a sociedade quisesse seguir, ninguém de ninguém
abdicaria de conduzir acima dos 120 km/h nas auto-estradas pois tal
comportamento é lógico e benéfico. E ainda mais lógico e benéfico é o
transporte de governantes e outras personalidades notáveis para lá do limite de
velocidade máximo porque, diz-nos a evidência da estatística, é preciso esperar
muitas e muitas décadas para se registar um acidente – de qualquer tipo –
nessas viagens.
Toda gente sabe isto, é básico.
Caso se pretendesse tirar algum tipo de ilação do episódio onde um trabalhador
foi colhido por um carro do Estado em excesso de velocidade numa auto-estrada,
a discussão estaria a ser feita à volta das alterações legislativas, ou
regulamentares, que fossem apropriadas. Mas não é isso que se pretende pois
essa alteração daria origem a uma gargalhada internacional. A única coisa que
se quer neste espectáculo de ódio insano é destruir moralmente Eduardo Cabrita
para assim atingir António Costa, o Governo e o PS. A vida perdida de uma
pessoa, e as consequências para a sua família e amigos, não passa de carne para
o canhão da pulharia.
POR VALUPI
Do blogue Aspirina B
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